Nos últimos tempos, Luiz Inácio Lula da Silva ficou de mal com a Bolsa. 

Em minha opinião, tudo começou quando Lula quis dar um empreguinho (um empreguinho de R$ 60 milhões ao ano) para seu cupincha, e ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. 

A boquinha era simplesmente a de CEO da Vale, quarta maior empresa mineradora do mundo e principal (revezando com a Petrobras) ação do Ibovespa. Em seu pleito, Lula não levou em conta que Mantega jamais ocupara cargo algum de direção em uma empresa, nem pública nem privada. 

Como seria de se esperar, o conselho da Vale não atendeu ao presidente, que fez questão de ir à forra. 

Entre outras coisas, passou a agir para que as indenizações às vítimas de Brumadinho e Mariana fossem majoradas e ameaçou dificultar as obtenções de licenças de exploração, já que no Brasil o domínio do subsolo é da União. 

Como Lula sabe que não irá cumprir as promessas que fez de gastos públicos (que somam 300 bilhões de reais), resolveu que a Petrobras não pagasse dividendos extraordinários e usasse o dinheiro em obras e no retorno da empresa ao setor de distribuição. 

Na B3, as ações da Petro desmilinguiriam com essa decisão. 

Quando, em 2003, Lula assumiu para o seu primeiro mandato, esse acontecimento coincidiu com uma aceleração do crescimento de dois dígitos da China. Os preços das commodities subiram barbaramente e, com eles, os das ações negociadas na Bovespa. 

Lula não se fez de rogado. Fez uma visita à Bolsa e chegou a tirar fotografias vestido com o jaleco de operador de pregão. Se é Bolsa pra cima, todo mundo gosta. Num dia em que estive na antiga BM&F, os diretores tinham acabado de assistir o filme Lula, o Filho do Brasil. 

Vejamos agora como se comportou a Bolsa nos diversos governos. 

Comecemos com João (Jango) Goulart. 

Teoricamente era para as ações derreterem, uma vez que Jango prometia as “Reformas de Base”, nelas incluídas desapropriação de terras e estatização de empresas. O mercado tinha tudo para cair. Mas subiu. Subiu porque houve a reavaliação dos ativos das empresas. 

Uma ação que valesse, por exemplo, 100 cruzeiros, deu bonificação de 100 por uma. Na teoria, era para que o papel fosse negociado a um cruzeiro. Mas como ficou muito barato (pura aparência), dobrou ou triplicou de preço. Eu já operava no mercado nessa época e ganhei uma grana de respeito.  

Em 31 de março de 1964, os militares depuseram João Goulart, com a alegação (verdadeira) de que ele abandonara o país. Fugiu para o Uruguai. 

Com a nova ordem, a Bolsa, que já estava supervalorizada, disparou. Por pouco tempo, diga-se de passagem. 

O Brasil quis obter um empréstimo do FMI, que condicionou a cessão do dinheiro a uma série de medidas monetárias draconianas. O pacote era tão hawkish que os ministros da Fazenda, Otávio Gouveia de Bulhões, e do Planejamento, Roberto Campos, não quiseram assinar o acordo. 

Mas foram forçados a fazê-lo pelo presidente Castelo Branco. 

Os juros lá em cima provocaram uma quebradeira geral. A Bolsa, que subira no socialismo de Jango, despencou no capitalismo Campos/Bulhões. 

Só que o pacote deu certo, a inflação despencou, os juros caíram e iniciou-se o maior bull market que já assisti e que durou de 1968 até julho de 1971. 

No dia 1º de maio de 1971, o presidente Emilio Garrastazu Médici fez o discurso anual do dia do Trabalho, em Volta Redonda.  Eu e outros traders, que já estávamos achando os preços das ações muito caras (PLs altíssimos), imaginamos que Médici fosse fazer um alerta sobre a especulação desenfreada. 

Acontece que ele jogou gasolina na fogueira e enalteceu a alta da Bolsa. 

O bull market ainda durou dois meses. Depois caiu praticamente durante uma década, na qual o Brasil foi governado por Ernesto Geisel (que quis fazer o país crescer na marra, tal como Lula está fazendo agora) e João Batista Figueiredo. 

Durante esse período, que durou até os governos José Sarney e Fernando Collor, era muito arriscado “jogar” na Bolsa. Com inflação na faixa de 40% ao mês, era preciso no mínimo obter essa rentabilidade, para empatar o jogo. 

Nesse período, a exceção ficou por conta do Plano Cruzado (congelamento de salários e preços), quando tivemos um bull market na Bolsa tão exuberante quanto curto (março a novembro de 1986). O motivo dessa alta foi óbvio. As taxas de juros tornaram-se negativas e todo o dinheiro correu para a Bolsa. 

O governo Collor começou logo por confiscar o dinheiro da poupança, do open market e das contas correntes, fazendo com que o mercado de ações caísse por falta de combustível. 

Em seus dois mandatos, Fernando Henrique Cardoso enfrentou uma crise de abastecimento de água, um ataque especulativo ao real e uma crise de reservas cambiais, que chegaram quase a zero. 

Em 2002, Lula foi eleito, tomando posse em 1º de janeiro de 2003. E tirou a sorte grande, com o avanço econômico chinês. Tivemos então um gigantesco bull market na Bolsa, que durou até o advento da crise do subprime

Foi nessa época que Lula se apaixonou pelo mercado, mercado esse que agora chama de “dinossauro voraz”. 

Um ótimo fim de semana para todos! 

Ivan Sant’Anna 

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