Volta e meia se ouve referir ao regime político dos Estados Unidos como sendo a maior democracia do mundo. 

Nada mais inexato. 

Os EUA nunca foram uma democracia plena e ultimamente esse status vem se agravando. 

Quando os americanos se libertaram dos ingleses, em 1776, George Washington não quis ser rei. O país tornou-se uma república, tendo Washington como primeiro presidente. 

Os chamados “pais da pátria”, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, Thomas Jefferson, George Washington, além de outros, promulgaram a Constituição americana, que se tornou um modelo de democracia. 

Nada mais falso. Só podiam votar homens brancos, que fossem proprietários. A escravidão dos negros, subtraídos da África, permaneceu, assim como os índios (povos originais) eram combatidos pelo Exército e dizimados. 

Coube ao presidente Andrew Jackson, que governou o país entre 1829 e 1837, deslocar a maioria das tribos de suas pradarias férteis para terras infecundas, onde elas foram se extinguindo. 

Pouco mais tarde, de 1861 a 1865, estourou a Guerra Civil, que deixou mais de 600 mil soldados, de ambos os lados (União – norte – e Confederados – sul) mortos nos campos de batalha. 

Tendo o Norte vencido, realmente terminou a escravatura. Mas os negros passaram a ser altamente discriminados pelos brancos, com vários estados criando leis segregacionistas. 

Foi a época da Ku Klux Klan e dos linchamentos dos negros (por qualquer pretexto que os brancos alegassem). Em alguns estados do Sul, a vida dos ex-escravos, e de seus descendentes, tornou-se pior do que na época da escravidão. 

Os Estados Unidos continuavam se jactando de ser uma democracia plena. 

O fim da segregação só terminou no governo Lyndon Johnson (1963-1969), quando houve, entre outros avanços, a integração dos alunos negros nas escolas do Sul, não sem sofrerem humilhações as mais diversas dos colegas brancos e a presença de soldados da Guarda Nacional para garantir-lhes a entrada em sala de aula. 

Com o passar do tempo, as coisas pareciam estar melhorando e mesmo chegando ao fim. A eleição de um mestiço, Barak Hussein Obama (filho de um muçulmano africano e de uma mãe americana branca), para a Casa Branca, sucedendo a democratas (não no sentido partidário, mas no sentido etimológico da palavra) do porte de Bill Clinton e George W. Bush, parecia que os Estados Unidos, finalmente, haviam se tornado uma democracia. 

Mas eis que, na sucessão de Obama, em 2016, surge, no partido republicano, um candidato raivoso de extrema direita, xenófobo, de nome Donald Trump, que derrotou Hillary Clinton por 304 a 227 votos no Colégio Eleitoral. 

Provavelmente por causa de seu comportamento negacionista durante a pandemia de Covid-19, o certo é que, nas eleições de 2020, Trump foi derrotado pelo atual presidente, o democrata Joe Biden, mas não aceitou o resultado das urnas. 

Sem apresentar nenhuma prova, disse que as eleições haviam sido fraudadas. Não reconheceu a derrota e não compareceu à posse do sucessor. 

Nessa ocasião, houve um acontecimento gravíssimo, mas pouco comentado. 

Temeroso de que Donald Trump, em profunda depressão na Casa Branca, no período entre a eleição e a entrada de Biden, pudesse dar uma ordem de ataque atômico contra a China, o general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, telefonou para seu equivalente chinês, general Li Zuocheng, e garantiu que, se tal ordem fosse emitida, ela não seria executada. 

Diversos episódios demonstraram o caráter antidemocrático de Donald Trump. Entre eles, destaco dois. 

Durante a apuração dos votos, Trump telefonou para o secretário de Estado da Georgia, Brad Raffensperger (nos Estados Unidos, cada estado é responsável pela apuração dos votos em seu território), solicitando-lhe que “transformasse” 11.780 votos democratas em republicanos. 

Raffensperger não só se negou a cumprir a “proposta indecente” como gravou toda a conversa. 

No incidente mais grave, em 6 de janeiro de 2021, Donald Trump se acercou do gradil da Casa Branca e incitou um grupo de seguidores fanáticos a marcharem contra o Capitólio e impedirem que o vice-presidente Mike Pence proclamasse o resultado da votação no Colégio Eleitoral, proclamação essa que é o ato de reconhecimento do resultado das urnas. 

Tanto o Senado como a Câmara dos Representantes foram vandalizados, resultando em seis mortes e grande destruição, inclusive o púlpito no qual a speaker Nancy Pelosi se dirigia aos deputados. 

Pois bem, esse político republicano não só será o candidato de seu partido às eleições presidenciais de novembro deste ano (não tem adversários) como é favorito numa disputa com Joe Biden. 

Se isso acontecer, resta estimar como os Estados Unidos se comportarão perante o Brasil. É bem possível que Trump, de volta à Casa Branca, nos ignore. Creio que ele encontrará “inimigos” mais importantes: China, França etc. 

Basta que Lula reconheça a vitória do republicano, sem repetir o que Jair Bolsonaro fez com Joe Biden (levou mais de um mês para fazê-lo), e as coisas seguirão seu rumo sem maiores incidentes. 

Para Donald Trump, o Brasil não existe. 

Um ótimo fim de semana para todos. 

Ivan Sant’Anna 

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