Há alguns dias, fui convidado a participar de um almoço em São Paulo para assistir uma apresentação de professor da Universidade de Chicago, Todd Hendersson, sobre ESG. Fiquei muito interessado em saber o que um Chicago Boy teria a dizer sobre ESG, então confirmei presença. Aos que não conhecem a expressão, são chamados de Chicago Boys aqueles economistas com formação na Universidade de Chicago, berço do neoliberalismo de Milton Friedman.

Ainda bem que a comida foi ótima, e o anfitrião, muito simpático e educado. O conteúdo apresentado, entretanto, comprovou que mesmo com grande conhecimento técnico, a falta de percepção sobre a realidade e sobre a evolução do mundo e da sociedade são capazes de anular a bagagem técnica do palestrante.

Em linhas gerais, a apresentação trouxe como núcleo o relato do enorme custo da implantação do ESG e da pouca confiabilidade das métricas existentes, o que faria com que executivos tivessem metas específicas de curto prazo, cujo atingimento dispararia gatilhos como remunerações adicionais, e sem relação com o desempenho do negócio.

A apresentação não parou aí. Seguindo a trilha do economista Milton Friedman, que em 1970 publicou um artigo no jornal The New York Times com o título “A doutrina de Friedman – A responsabilidade social do negócio é de aumentar o lucro”, o palestrante reafirmou que a única responsabilidade social de uma companhia é com os acionistas, ou seja, em outras palavras, em trazer lucro para os seus acionistas. E que, portanto, o ESG não agrega valor, na medida em que aumenta o custo das companhias e gera potencial risco de a gestão se beneficiar de gatilhos de remuneração variável, ativando o que se chama como Conflito de Agência.

Confesso que não poderia esperar uma visão mais refrescada sobre ESG de um Chicago Boy, mas também confesso que não esperava alguém tão descolado da realidade e da evolução. Foi algo estrondoso. Mas, é um ponto de vista, sem dúvida. Com o qual não concordo.

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Os dias atuais têm demonstrado que, sim, as empresas precisam se preocupar com o meio ambiente, com as causas sociais e com a implantação de práticas de governança que façam das empresas negócios sustentáveis em todos os sentidos.
As mudanças climáticas, a inclusão social e o estabelecimento de práticas de governança advêm de origens diversas, sabemos disso. Mas precisamos endereçar essas questões: o descaso com o meio ambiente e o desmatamento em favor unicamente do lucro já mostram os seus efeitos nas empresas; a sociedade tem clamado e exigido por sociedades mais equilibradas e companhias nas quais haja o reflexo desse equilíbrio, contando com inclusão e diversidade; e os desvios de conduta do passado, e também do presente, têm demonstrado a imperatividade da existência de sistemas de governança nas empresas.

O quero dizer é que a visão de Milton Friedman, inobstante sua relevância como economista, tornou-se anacrônica e ao mesmo tempo perversa, não tendo mais espaço nos dias em que vivemos. Ela não atenta para nada mais do que o lucro. Alija da equação empresarial a questão ambiental, social e de governança. Empresas que almejem manter as suas portas abertas não podem se ater à Doutrina de Friedman. É uma visão muito tacanha. É óbvio que sem lucro não há empresa, não há sustentabilidade do negócio. Mas, atualmente, sem uma visão mais abrangente e mais profunda dos aspectos ESG, não haverá mais empresa com as portas abertas simplesmente, pois não haverá mais mercado para elas.

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