Pautas sociais nas empresas estarão cada dia mais presentes nos desafios e critérios de escolhas dos investidores. Parte do que molda as empresas é quem trabalha nelas e a maneira como os funcionários são treinados e como trabalham com seus colegas.
Um dos formadores da sigla ESG, que você pode conferir a explicação detalhada aqui, é o S de social.
As companhias devem pensar nos valores que vão passar aos seus funcionários e também como vão tratar sobre diversidade e equidade em seus processos seletivos e no ambiente de trabalho.
Como sabemos, 2020 destacou mais uma vez as conversas sobre pautas sociais, incluindo nas empresas. Tivemos casos, como o do Carrefour, que ressaltaram a necessidade de se falar sobre racismo no Brasil. O caso do Magazine Luiza, no entanto, inovou ao promover um processo seletivo exclusivo para negros. A questão da reparação histórica demonstrou ser importante para a marca. Para conferir mais casos em destaque do ano que passou, clique aqui.
Pautas sociais nas empresas, como fazer isso?
Um bom começo é entender quem são as pessoas em cargo de poder dentro das companhias. É interessante observar os números no país. Hoje no Brasil, 51,8% da população é formada por mulheres, 46,8% dos brasileiros se declaram pardos e 9,4% como pretos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ademais, faltam pesquisas mais recentes sobre a demografia LGBTQI+ no país, sendo a última do IBGE em 2012, no entanto, sabemos que cada vez mais essa comunidade ganha voz.
Com os dados seria certo presumir que os cargos mais altos dentro das empresas estariam ligados a esses números, mas a desigualdade ainda é muito presente. Por isso que é importante falar sobre o social, e necessário que grandes empresas, como a Magazine Luiza, pensem em processos seletivos exclusivos para ajudar a promover a equidade. Com mais conversas sobre isso dentro de empresas, casos como o que ocorreu no Carrefour podem ser prevenidos. Vale lembrar que essas conversas já existem há muito tempo, por isso está na hora das empresas correrem atrás e atualizarem-se.
Um exemplo de uma empresa que busca a constante atualização é a The Walt Disney Company. O treinamento dos funcionários dos parques temáticos da empresa vai ganhar mais uma etapa. “Inclusão” passou a ser um dos valores que a companhia quer transmitir aos seus funcionários. A empresa ainda não se manifestou sobre o que exatamente essa nova etapa vai informar, mas afirmou que é para fortalecer o seu compromisso com a inclusão e diversidade. São etapas pequenas que buscam consertar os erros do passado e promover um futuro com mais oportunidades para todos. Quando se trata da questão social nas empresas é importante também conversar sobre religião, conscientizar sobre a violência doméstica, além do racismo e homofobia, ensinar libras e falar sobre a acessibilidade para PcD (pessoas com deficiência).
No caso de PcD, as empresas brasileiras que têm no mínimo 100 empregados devem realizar a contratação de PcD, conforme a lei 8213/91. A lei, que completa 30 anos neste ano, exige que 5% do quadro dos funcionários seja de pessoas com deficiência. A Great Place to Work Brasil organizou as 10 empresas destaque em inclusão de PcD, são elas, em ordem alfabética: Accenture, Atento Brasil, Banco Bradesco, Hospital Albert Einstein, IBM Brasil, Itaú Unibanco, Johnson & Johnson, Novartis, Thoughtworks e UniBH. A IBM recebeu em 2018 pelo governo de São Paulo o prêmio Melhores Empresas para Pessoas com Deficiência.
A inclusão e representatividade da comunidade LGBTQI+ também vem sendo mais cobrada pelos consumidores e investidores. Foi o caso da Natura, que utilizou na sua campanha de Dia dos Pais de 2020 um homem transexual, tendo uma reação majoritariamente positiva do público, e teve alta de 6,7% em suas ações, liderando o Ibovespa. A empresa afirmou que a campanha foi feita visando a presença paterna como o maior presente e afirmou que valoriza a diversidade.
As discussões sobre pautas sociais que se destacaram em 2020 possibilitou que os investidores que pensam no S do ESG, pudessem cobrar, novamente, das empresas que abordassem disparidades raciais, questões salariais e de segurança dos trabalhadores, segundo a Money Times. Com isso, algumas empresas, como a Nike e a Sephora USA, são exemplos de compahias que reservaram fundos, criaram fundos ou prometeram o seu apoio a empresas com proprietários negros. De acordo com a XP Investimentos, uma das maiores tendências ESG para esse ano é que os fatores sociais serão mais destacados. Marcella Ungaretti, analista da XP, afirma que a demanda por boas práticas em empresas brasileiras está crescendo progressivamente. Outro destaque é para a atenção das empresas nas mudanças climáticas, que, como visto na Via Sustentável, é muito importante para os próximos investidores, que surgem a partir da Geração Z.
A pauta ESG já está realizando mudanças em algumas carteiras. A Necton apresentou na sua “Carteira Recomendada ESG” de janeiro empresas e setores que propõem mudanças ligadas à governança ambiental e social. De acordo com a carteira, eles aguardam mais métricas claras aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da CVM e também ressaltam que deve surgir mais diversidade social e ética nos cargos de administração nas companhias. A Necton retirou o Carrefour da sua carteira em Novembro, devido ao caso de racismo e violência em um dos estabelecimentos da marca, e adicionaram o Grupo Pão de Açúcar. Na carteira ainda apresentam a seguinte afirmação sobre as mudanças propostas pela B3: “temas ESG podem ser incluídos nesta pauta [regulatória] e as companhias que não adotarem essas métricas terão que explicar para os investidores o porquê não adotam esses critérios com uma justificativa”.
Em dois anos, o mercado ESG cresceu 300%, indo de US$50 bilhões em 2018 para US$200 bilhões em 2020. Esses números reforçam o que tratamos aqui: a demanda existe há muito tempo e não é mais possível ignorar as questões sociais.
É importante para as empresas e mais ainda para os investidores, principalmente para a geração que logo vai começar a investir. Por isso é interessante observar como a empresa que você investe, ou quer investir, trata as relações sociais.