(*) Marilena Lavorato e José Luiz Romero Brito
1) Introdução
As questões sociais e ambientais ganharam um reforço de peso no meio corporativo a partir do ESG (¹), modelo de negócio defendido por Larry Fink, CEO da BlackRock uma empresa de gestão de investimento com aproximadamente US$ 10 Trilhões na sua carteira, montante maior que o PIB de muitos países, inclusive do Brasil. Trata-se de um dos capitalistas mais influentes do mundo que está sempre em busca da melhor opção de investimento, e o que ele pensa e faz, interfere no mercado.
Larry Fink fez com que o ESG se tornasse um tsunami no meio corporativo, seja pelos US$ Trilhões que administra ou pela lógica com que defende sua visão.
Mas olhando o mundo corporativo pelas lentes do ESG, o que se vislumbra no horizonte para Data Centers são desafios, que se superados se tornarão vantagens competitivas estruturantes. Dentro dessa perspectiva, elencamos alguns dos temas sensíveis ao negócio nas dimensões: ambiental, social e governança.
1) O ESG em partes:
2.1) E – Environmental (Ambiental)
Há um entendimento muito vasto em relação ao pilar ambiental do ESG, mas com o foco no ambiente de Data Centers, os mais relevantes são, a mitigação das emissões de gases do efeito estufa (GEE), (2), o consumo energético e hídrico, a gestão de resíduos eletroeletrônicos (REEE) (3) e a construção sustentável propriamente dita dos Data Centers. Segundo algumas estimativas os recursos energéticos demandados em Data Centers representam 1% a 2% do uso global deste recurso, sendo um ponto bastante sensível quando confrontado com os critérios ESG.
Citando um exemplo atual, o Metaverso (4) sugere contribuir com a redução das emissões de GEE por evitar os deslocamentos por aviões e carros em viagens de negócios, e permitir ao setor de vestuário, testar suas tendências de moda digitalmente, antes de irem para o meio físico, sendo que este setor contribuí com a emissão de 10% do carbono do mundo. Mas estudiosos levantam a possibilidade do efeito contrário devido ao alto consumo de energia para manter os Data Centers. Porém, mesmo com a Internet das Coisas (5), cada vez mais a tecnologia demandará não só energia, mas também gerará mais REEE, que poderão por meio do metaverso, ser um fator de reduzir estes impactos, com uma infraestrutura renovável e sustentável.
No aspecto ambiental esses são os fatores mais relevantes para os Data Centers neste momento, pois a cada curto espaço de tempo, há uma evolução, que faz com que muitos impactos deixem de existir, enquanto outros podem surgir.
2.2) S – Social (Social)
Os temas sociais estão se maturando há alguns anos não só no Brasil como globalmente.
Neste pilar alguns temas se destacam: as relações de trabalho, as políticas em defesa das minorias, os direitos humanos, engajamento dos funcionários, inclusão, diversidade, programas de equidade, capacitação e treinamento dos colaboradores, relacionamento com comunidades e stakeholders, privacidade e proteção de dados (LGPD) (6).
As ações que norteiam este pilar, assim como os demais, estão tendo uma notoriedade sem precedentes nos últimos anos, pois, algumas questões relacionadas à diversidade que até pouco tempo eram tabus, agora se incorporaram ao cotidiano global, como a de orientação sexual e identidade de gênero, por exemplo.
Baseado nestas boas práticas mencionadas, para incorporação deste eixo nos critérios ESG, elas têm que ser entendidas e adotadas em todas as operações de um Data Center, com processos transparentes e estabelecidos com clareza a todos os executivos, funcionários e colaboradores, extrapolando para fornecedores, consumidores, acionistas e comunidade.
2.3) G – Governance (Governança)
A governança é um dos mais relevantes pilares do ESG, que de certa forma norteia os demais. Pois consiste, na forma de conduzir toda a corporação na direção da sustentabilidade. Com a finalidade de implementar e dar continuidade aos processos sustentáveis a governança deve trabalhar para dirimir custos e gastos, minimizar riscos de fraudes, lavagem de dinheiro e corrupção, vislumbrar retorno justo aos investidores, e prestar contas com transparência disponibilizando para os stakeholders as informações do seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições legais ou regulamentares.
Temas sensíveis devem ser enfrentados como exemplo: a independência e diversidade na composição do conselho, política de remuneração da alta administração atrelada ao atingimento das metas sociais, ambientais e econômicas, e os comitês de auditoria fiscal devem ser gerenciados com muita seriedade, ética e transparência a fim de cumprir seu papel acreditador.
Uma boa governança é aquela que atinge e/ou supera suas metas e objetivos lançando mão de ferramentas inovadoras que tornam se cases de sucesso pela excelência das suas práticas. Um case é um conjunto de práticas integradas, um modelo gerencial com foco específico, que entrega resultados mensuráveis. Um case de sucesso é aquele que atinge e/ou supera metas e objetivos em um ou mais temas contemplados na agenda ESG.
2.3.1) Cases de Sucesso – O protagonismo das organizações em contraponto ao Green Washing (7)
Uma das questões mais recorrentes no mundo corporativo sob o prisma do ESG é a transparência. É consenso que tão importante quanto os indicadores de performance apontados nos relatórios de sustentabilidade, são as práticas adotadas para se chegar a estes indicadores. Assim como lucro financeiro a qualquer preço não convence mais devido aos riscos que representam no longo prazo, indicadores positivos nos aspectos ambientais e sociais também passam pelo mesmo crivo para se evitar o green washing, uma péssima prática de gestão que caminha no sentido oposto do que preconiza o ESG. As organizações devem ir além do “quanto” explicitado numericamente, e compartilhar o “como”, detalhado nos seus cases de boas práticas.
Existem práticas com proporcionalidades de impactos distintos para uma mesma finalidade. E existe métodos para aferi-las, compará-las, ranqueá-las em score, permitindo aos gestores segurança para aprimoramentos, ajustes e correções de rotas. Uma das ferramentas de suporte nesse processo é a Plataforma BISA(3) que define score e faz a comparabilidade dos cases de boas práticas. Os cases com score superior recebem certificação Benchmarking e passam a integrar o Banco de Boas Práticas para comparabilidade.
2) Conclusão:
Organizações não são perfeitas, mas podem e devem melhorar. Admitir isso é fundamental para iniciar e/ou avançar no processo de alinhamento aos critérios ESG.
Fazer a lição de casa sob a perspectiva ESG significa identificar e corrigir suas fragilidades e potencializar suas competências nos pontos sensíveis do seu negócio. Cada setor, segmento, organização tem suas especificidades, e os Data Centers não fogem a regra.
ESG é evolução, e melhoria contínua. É inteligência com ética, uma combinação que produz modelos de negócios competitivos por minimizar riscos e atender as demandas dos seus stakeholders. E isso, convenhamos, é tudo que o mercado e os investidores querem.
Notas de Rodapé:
1 ESG é uma sigla em inglês que significa environmental, social and governance, refere se as práticas ambientais, sociais e governança das organizações. O termo surgiu pela primeira vez em 2004, num relatório chamado “Who Cares Wins” (Ganha quem se importa), resultante de iniciativa liderada pela ONU dirigida as instituições financeiras sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. A partir de 2018 ganhou força com a defesa de Larry Fink, Ceo da Black Rock, agência de investimentos que administra US$ 10 Trilhões na sua carteira.
2GEE, o fenômeno natural denominado Efeito Estufa, ele faz com que a temperatura da terra se mantenha mais quente, inclusive sendo importante para que haja vida, porém, as ações humanas, durante um grande período, fizeram com que os gases se acumulassem na atmosfera, ocasionando um aumento muito significativo da temperatura global. Fazendo com que vários impactos negativos ao meio ambiente e gerando catástrofes climáticas.
3REEE, o Lixo Eletrônico possui muitos nomes, como e-lixo, resíduos de equipamento eletroeletrônico (REEE) ou simplesmente resíduo eletrônico. Os termos se referem a produtos elétricos ou eletrônicos que são descartados por não terem mais utilidade, ou seja, poderiam ser reciclados ao invés de destinados em um aterro sanitário. (https://greeneletron.org.br/blog/o-que-e-o-lixo-eletronico/)
3 Benchmarking Inteligência Sustentável – BISA, é uma plataforma de inteligência que avalia, confere score, certifica e faz a comparabilidade de cases de boas práticas alinhados as agendas sustentáveis. Com o incremento das novas tecnologias somado a um colegiado de especialistas de vários países, fornece um conjunto de serviços e dados para que organizações possam conduzir seus negócios em alinhamento com as agendas ESG e SDG.(www.bisacertifica.com.br)
4Metaverso, este conceito se refere à convergência do mundo virtual, aumentado e digital. Ele permite mesclar a vivência em um espaço virtual com influências reais, podendo ser experienciado em um computador, smartphones ou mesmo em dispositivos de realidade virtual (VR), como óculos ou roupas especiais. (https://www.pensamentoverde.com.br)
5Internet das Coisas, IoT sigla em inglês, é a infraestrutura que integra a prestação de serviços de valor adicionado com capacidades de conexão física ou virtual de coisas com dispositivos baseados em tecnologias da informação e comunicação existentes, nas suas evoluções, com interoperabilidade. (https://www.gov.br/governodigital/pt-br/estrategias-e-politicas-digitais/plano-nacional-de-internet-das-coisas)
6LGPD – A General Data Protection Regulation (GDPR), em vigor desde maio de 2018 na Europa e no Brasil em 2021. O principal objetivo é garantir a privacidade de dados sensíveis, protegendo o titular no que diz respeito ao processamento, tratamento e livre circulação de seus dados pessoais. Com seu formato abrangente, ela também engloba as organizações que fazem negócios com seus cidadãos em qualquer parte do mundo e, somada aos escândalos de vazamentos de dados de grandes empresas, despertou a urgência de uma adequação internacional (VEXIA).
7 Green Washing, termo em inglês, que significa lavagem verde. A definição do termo corresponde a propaganda enganosa feita por organizações que divulga informações sobre sua atuação em defesa do meio ambiente que não corresponde à verdade, quer seja na sua totalidade ou parcialmente, quando infla os seus impactos positivos e/ou minimiza os negativos sem comprovação.
(*) Marilena Lino de A. Lavorato é especialista em marketing (ESPM), negócios (FGV e USP), globalização e cultura (FESPSP), e gestão ambiental (IETEC). É Diretora da Mais Consultoria Empresarial, Idealizadora do Programa Benchmarking Brasil e da Plataforma BISA, Membro do Conselho Consultivo ABRAPS, palestrante, autora e co-autora de artigos em livros, organizadora e produtora de conteúdos em revistas, mídias sociais, e portais especializados em boas práticas de sustentabilidade.
José Luiz Romero Brito é Doutorando em Análise e Planejamento Energético (IEE/USP) e Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis (UNINOVE), Advanced Topics in Environmental Management and Sustainability (Frankfurt University of Applied Sciences), MBA em Inovação e Sustentabilidade (POLI USP), MBA em Gestão Empresarial Integrada (UNIFIEO). Partner Finder da InovTI, para serviços de Cloud Computing, parceiro da CINTITEC Ambiental, parceiro representante da W2 Energia, franqueado da Autonomia Total – Eficiência Energética, Diretor Cidades Inteligentes e Sustentáveis da SUCESU-SP e membro do Conselho da Diretoria Técnica da ABDC. É certificado em Green IT do EXIN, ITIL e COBIT, e é integrante do colegiado de especialistas da Plataforma BISA.