Se estamos vendo na crise climática um futuro difícil, talvez ela carregue consigo também uma oportunidade: a de finalmente colocar essa pauta no lugar de destaque que merece

Mitigação e adaptação às mudanças climáticas, redução das desigualdades sociais, preservação da biodiversidade marinha e terrestre, economia circular, segurança alimentar, bem-estar e saúde, educação de qualidade, água e saneamento, entre outros temas, formam hoje o conjunto de desafios atuais e futuros da sociedade para o que chamamos de desenvolvimento sustentável. Ou, simplesmente, sustentabilidade.

Embora seja um assunto que diz respeito ao futuro da humanidade, que envolve de maneira transversal tantas áreas e que, entre chuvas e trovoadas, vem ganhando espaço nos últimos anos, é notável como a sustentabilidade ainda não conquistou lugar de destaque junto à opinião pública.

É claro que a vida privada de celebridades, receitas infalíveis para emagrecer ou ganhar dinheiro e animais fofinhos sempre estarão no topo de assuntos mais comentados e vistos nas redes sociais e diferentes mídias, no Brasil e no mundo, mas é fato que mesmo em círculos influentes da opinião pública, corações e mentes ainda não foram conquistados para o tema. Ao menos não como deveriam.

Em meados de 2010, na concepção da Virada Sustentável, procuramos pesquisar os motivos que nos levaram a essa situação aparentemente esdrúxula, na qual alertas científicos e catástrofes humanitárias cada vez mais urgentes parecem ter pouca ou nenhuma capacidade de sensibilização junto à população. Ou pior, muitas vezes geram movimentos negacionistas, uma realidade exemplificada de maneira genial no filme Não Olhe Para Cima, de 2021.

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A forma como a sustentabilidade é comunicada – e, portanto, percebida pela população – foi uma das principais razões apuradas. Por exemplo, pesquise “sustentabilidade” em qualquer buscador de imagens e o resultado, invariavelmente, serão milhares de imagens e desenhos de plantinhas, de mãos protegendo plantinhas, o planeta Terra com plantinhas, no máximo um ou outro símbolo de reciclagem, revelando uma percepção equivocada, mas ainda profundamente enraizada, de que a sustentabilidade é apenas e tão somente “verde”.

Boa parte das pessoas que vive em centros urbanos (mais de 80% do total no Brasil) não compreende a complexa relação entre a natureza e a cidade, por exemplo os serviços ecossistêmicos prestados pela biodiversidade, como a regulação do clima ou a polinização de culturas, só para citar dois deles. Tampouco ajudam os estereótipos pouco atraentes geralmente ligados ao ambientalismo, como o do ecochato ou do ativista radical. Sobre esse último ponto, recomendo muito o vídeo Follow the Frog, da Rainforest Alliance, que exemplifica de modo genial a questão (disponível no YouTube[1]).

Ao entrar de vez no radar do setor privado, sobretudo pelos efeitos econômicos trilionários das mudanças climáticas (o furacão Katrina nos EUA, em 2005, foi um marco histórico) e por conceitos inovadores como o “triple bottom line”, de John Elkington, a sustentabilidade ganhou um peso inédito nas discussões da sociedade contemporânea. Mas com isso vieram também os exageros. Atributos de sustentabilidade de um produto, um plano de redução de resíduos ou de emissões internas ou a simples prática da filantropia tornavam uma marca inteira “sustentável” em peças e anúncios publicitários.

De uma hora para outra, o termo invadiu as casas e telas ao redor do planeta, gerando mais confusão e desconfiança do que esclarecimento nos consumidores. Isso sem falar nos casos de greenwashing (usar argumentos “verdes” na comunicação sem qualquer fundamento para isso) ou nas discussões que de tempos em tempos reaparecem em torno do abismo entre discurso e prática quando o assunto é sustentabilidade corporativa, tema recorrente inclusive na atual discussão sobre a agenda ESG.

Há ainda uma série de outros fatores, que passam pela dificuldade de se comunicar adequadamente um tema tão multifacetado e sistêmico, a explosão de narrativas e notícias falsas nas redes sociais e até a baixa predisposição das pessoas de se envolverem em discussões que acabam gerando mais medo e ansiedade do que conforto e segurança sobre o nosso futuro.

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O grande problema disso é o seu resultado prático: sem a percepção e o nível de engajamento adequado na opinião pública, a sustentabilidade jamais será tema prioritário nas mesas de discussões, não ocupará lugar de destaque na agenda política e regulatória e não terá a atenção e a quantidade de recursos necessárias. Em resumo, avançaremos pouco na solução dos desafios reais da sustentabilidade sem endereçarmos esse complexo desafio da comunicação.

A boa notícia é que, ao conseguirmos superar essa etapa, tudo ficará mais fácil. Não há como não se encantar pela sustentabilidade, seja você um economista, um biólogo ou um ativista. Como dizia o poeta francês Victor Hugo, “nada é tão poderoso como uma ideia cujo tempo chegou”. Não se trata de uma agenda ideológica ou partidária, mas sim de aplicarmos mais inteligência (inclusive a artificial) no modo como nos organizamos, como usamos os nossos recursos, como produzimos, como consumimos, como nos locomovemos, entre outros. E se estamos vendo na crise climática um futuro difícil, talvez ela carregue consigo também uma oportunidade: a de finalmente colocar essa pauta, ainda que pelos motivos errados, no lugar de destaque que merece.

André Palhano (@andrepalhano) é jornalista e fundador da Virada Sustentável, o maior festival de sustentabilidade da América Latina, envolvendo articulação e participação direta de centenas de organizações da sociedade civil, empresas, órgãos públicos, artistas, universidades e escolas, realizado desde 2011 em diferentes capitais brasileiras.


[1] Para acessar ao vídeo, clique no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=3iIkOi3srLo

O post Sustentabilidade: o desafio da comunicação apareceu primeiro em Rio Bravo Investimentos.

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