Neste ano de 2022, que ora se aproxima do fim, planejamos e executamos uma boa parte do projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita, que compreende 12 entrevistas com conselheiras de administração certificadas pelo IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa –, altamente qualificadas e muito experientes em uma grande variedade de questões corporativas.

Cinco entrevistas foram realizadas até o presente momento, sendo que a última, inédita, trará novidades em relação às anteriores, comentadas ao final. Quanto às quatro primeiras entrevistas, estas foram realizadas com as conselheiras Olga Stankevicius Colpo, Cátia Tokoro, Deborah Patrícia Wright e Eliane Aleixo Lustosa, tendo sido publicadas na Revista RI – Relações com investidores. E entrevistamos, explorando questões específicas, as conselheiras mencionadas para este portal Acionista e o seu pensamento pode ser visto nos links apresentados ao final.

Do projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita, e de suas entrevistas iniciais, emergem alguns pontos que nos parecem muito relevantes e os quais inspiram o título deste breve artigo. 

A evolução do tema governança corporativa

A primeira constatação que resulta das quatro primeiras entrevistas supracitadas é que com a introjeção da sustentabilidade e de ESG em seus pressupostos, o tema governança corporativa mudou de patamar. Na origem do que costumamos chamar de movimento pela governança corporativa, iniciado na década de oitenta, corporate governance visava equilibrar interesses entre sócios controladores (majoritários) e não controladores (minoritários), de maneira a mitigar o clássico conflito de agência, entre ambos os grupos societários.

A governança não deixou de se preocupar com o conflito em questão e com os mecanismos legais e regulatórios que buscam assegurar os princípios da transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Todavia, introjetou preocupações com temas de suma relevância, como estratégia, tomada de decisões, administração de pessoas e a imprescindível coordenação relacionada aos públicos relevantes ou stakeholders externos – entre clientes, fornecedores, reguladores e outros. Aliás, especialistas em Economia têm mencionado a emergência de um capitalismo de stakeholders, o qual seria uma das faces mais relevantes do complexo sistema capitalismo contemporâneo.

Com a sustentabilidade e EGS entre suas premissas, a governança se torna um impulsionador fundamental da responsabilidade ambiental e social, em busca de resultados de curto, médio e longo prazos. À governança corporativa se tem atribuído o status de fator-chave para embasar e direcionar as questões socioambientais, sem perder de vista o conteúdo de toda a jornada em prol das boas práticas de governo das organizações.

A evolução dos temas sustentabilidade e ESG

A sustentabilidade e ESG ou Environmental, Social, and Governance são temas interligados e que têm evoluído em espiral ascendente. Sua trajetória resulta da evolução do próprio sistema capitalista, no qual as organizações de todos os tipos estão inseridas e por todo o Planeta. As práticas ESG se somam às chamadas boas práticas de governança corporativa, ajudando empresas e outras organizações a se fortalecerem e enfrentarem seus riscos, os quais precisam ser tratados dentro de um contexto mais abrangente, que visualiza o ambiente mais amplo, não apenas a organização.

Em vista de riscos diversos, que ameaçam o meio ambiente e muitos seres humanos pelo Planeta, a evolução do capitalismo requer que sejam incorporadas, ao lado da dimensão econômica, as dimensões ambiental e social na administração das organizações. O desenvolvimento sustentável (ONU, Relatório Brundtland, 1987) é aquele que, simplesmente, não pode destruir as oportunidades daqueles seres humanos que sequer nasceram, em nome de um crescimento econômico sem responsabilidade.

Muitos investidores declaram abraçar a sustentabilidade e ESG nas empresas que integram ou pretendem que integrem seus portfólios de investimentos, cobrando mudança de postura de seus líderes. Este tem se mostrado ser um dos vetores mais importantes de mudanças nas organizações, mas o grande vetor interno – a liderança – também é fundamental..

Refletindo mais sobre ESG

Considerado por muitos evolução do clássico TBL ou Triple Bottom Line, ESG traz a sustentabilidade à cúpula das empresas e demais organizações que adotam suas práticas, desde o topo até a linha de frente. Ao mesmo tempo, ESG tem quesitos visíveis, inquestionáveis para o seu sucesso, e abaixo destacamos quatro.

Primeiramente, ESG requer a imprescindível liderança do conselho de administração. O conselho deve liderar, tomar a frente da criação de uma agenda ESG.  Em segundo lugar, estabelece uma espécie de PDCA – Plan-Do-Control-Act –, um ciclo que permite a evolução das práticas adotadas, alinhadas com necessidades mais amplas do Planeta. Em terceiro lugar, ESG requer letramento dos líderes organizacionais, que necessitam entender a fundo sua proposta. E por fim, requer indicadores e metas, visando bom desempenho nos fronts econômico, social e ambiental, por intermédio do citado PDCA.

ESG é uma jornada que agregará, certamente, novas dimensões. É importante que não nos atenhamos a siglas, mas aos seus significados e à sua contínua evolução. Até algum tempo atrás, falávamos em TBL e ora tratamos de ESG, sem deixar de reconhecer a importância do tripé inicial da sustentabilidade e de seus preceitos. Apenas é importante ter em mente que o futuro poderá trazer novas alternativas, já que a evolução a nós parece uma jornada contínua.

Impactos da pandemia COVID

A pandemia COVID, infelizmente, aprofundou mais e expôs a imensa desigualdade social que o sistema capitalista ainda não conseguiu resolver. Ao mesmo tempo, há que destacar que os desafios que se apresentaram somente puderam ser enfrentados por meio de resiliência, lembrando que eram inéditos para as gerações que ora povoam o Planeta. A crise COVID deixa a lição da resiliência.

Inevitavelmente, a pandemia determinou mudanças na atuação das empresas e demais organizações; líderes organizacionais tiveram que cuidar das pessoas como nunca antes o tinham feito, além de proteger os negócios (muitas vezes, criando novos negócios) e empregos. E é possível que uma parte das medidas adotadas ao longo da pandemia COVID (arrefecida, mas ainda em curso) prossiga, a longo prazo, com fulcros na administração de pessoas e riscos.

Qual é a síntese disso tudo? E o que virá a seguir?

Com base no exposto, pode-se afirmar: os temas governança corporativa, sustentabilidade e ESG têm evoluído de forma transformacional, com grandes e pequenos movimentos, contribuindo, cada vez mais, para que as organizações se tornem melhor governadas e monitoradas, oferecendo práticas que buscam mais responsabilidade ambiental e social.

Quanto ao projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita, este prossegue. Nos próximos meses, aprofundaremos, com as novas conselheiras entrevistadas, novas questões e adiantamos aos nossos leitores a seguinte: quais são os fatores críticos profundos – indo além daqueles mais evidentes – para que ESG seja bem-sucedido nas organizações, à luz do propósito? Novos insights virão – esta é a nossa expectativa.


Projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita

Cida Hess e Mônica Brandão

Conselheiras certificadas pelo IBGC, até o momento entrevistadas, a seguir:

ESG: o discurso e prática devem ser coerentes entre si (acionista.com.br)

(Entrevista com Eliane Aleixo Lustosa)

Governança, sustentabilidade e ESG: a liderança conduz ao propósito e às mudanças (acionista.com.br)

(Entrevista com Deborah Patrícia Wright)

Governança, sustentabilidade e ESG: o conselho de administração deve liderar (acionista.com.br)

(Entrevista com Cátia Tokoro)

Governança, sustentabilidade e ESG: cuidar das pessoas abre opções inimagináveis (acionista.com.br)

(Entrevista com Olga Stankevicius Colpo)

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