Na sexta, circulou uma notícia de que o Carrefour (CRFB3) negocia a venda de lojas do Big para o Grupo Mateus (GMAT3).
O grupo francês precisa se desfazer de parte dos pontos adquiridos por uma determinação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O compromisso negociado entre Superintendência-Geral e empresas visa mitigar riscos concorrenciais decorrentes da operação.
O Valor Econômico comunicou que, ao todo, são 14 lojas à venda, numa operação que pode girar entre R$ 450 milhões e R$ 600 milhões, segundo fontes próximas aos vendedores.
Ainda segundo o Valor, o Assaí (ASAI3) chegou a analisar a lista à venda, mas considerou que haveria uma canibalização com seus pontos em determinados locais, e seu foco está em concluir a conversão das unidades do Extra em Assaí.
Plano de expansão a todo vapor
Na visão do analista da Nord Research, André Zonaro, a operação com o Carrefour pode destravar valor para o Grupo Mateus, uma vez que a rede de supermercados busca a consolidação do seu mercado regional.
“Os 14 pontos à venda estão em estados dentro da nova regional Nordeste do Grupo Mateus, com as de atacarejo tendo sido recentemente inauguradas nesses estados (2 na Bahia, 1 em Pernambuco e 1 em Alagoas)”, diz o analista.
A empresa tem a meta de marcar presença em todos os estados do Nordeste e continuar avançando também pela Região Norte.
Alavancagem financeira
Para Zonaro, o Grupo Mateus tem condições de aumentar um pouco mais sua alavancagem para a expansão de negócios.
“A posição de alavancagem da empresa é relativamente baixa, em 1x Dívida Líquida/EBITDA, o que permitiria acomodar o desembolso de caixa para a aquisição das lojas Big”, comenta o analista.
É interessante mencionar que, entre seus pares listados na B3, o Grupo Mateus tem hoje o menor nível de alavancagem, seguido pelo Grupo GPA (PCAR3), em 1,15x.
Já a alavancagem do Carrefour e do Assaí está em torno de 2x Dívida Líquida/EBITDA, ainda em um patamar considerado controlado.
O que deve impulsionar atacarejo?
Segundo o analista, a recente elevação do valor do Auxílio Brasil [programa de transferência de renda do Governo Federal] deve ser positiva para o faturamento do varejo alimentício.
“No curto prazo, o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 melhora a renda das famílias atendidas pelo programa e naturalmente elas passam a frequentar mais os atacarejos em busca de preços mais baixos”.
Zonaro pontua ainda que a presença do público de menor renda deve aumentar neste ano, tendo impacto positivo nas vendas, porém a incerteza política e as condições financeiras apertadas continuam sendo uma preocupação à frente.
Preocupações quanto ao apetite
Apesar de enxergarmos como positivas as iniciativas, no momento, optamos por ficar fora das ações do Grupo Mateus e de outras empresas ligadas ao consumo.
“Ações de varejistas de alimentos estão extremamente baratas. No entanto, é arriscado apostar nessas companhias em um momento de juros nominais em patamar mais alto e baixo crescimento. Somado a isso, a mudança na regra fiscal em 2023 e a consequente elevação da dívida pública afetarão as expectativas de consumo”.
Diante disso, o analista entende que existem melhores opções para o momento.
Entre as preferências, está a 3tentos Agroindustrial (TTEN3) — companhia voltada para o agronegócio —, com perspectivas de crescimento de resultados para os próximos anos da ordem de +27% ao ano.
“Diferentemente do que muitos pensam, o crescimento da 3tentos não depende dos preços das commodities, uma vez que a principal avenida de crescimento se dará pela expansão dos volumes em suas três áreas de atuação, permitindo que as vendas de insumos agrícolas se transformem em grãos e, posteriormente, podem ser industrializados em farelo de soja e biodiesel”, explica Zonaro.
Com muitas opções de ações baratas na bolsa de valores, o investidor deverá ser bastante cauteloso no momento de montar seu portfólio. “É preciso saber diferenciar oportunidades de value trap (armadilha de valor)”, complementa.