Não é nenhuma novidade que o risco climático não é bom para os negócios. Há quase uma década atrás o Banco Mundial já alertava que as mudanças climáticas são uma ameaça – e uma oportunidade – para o setor privado.
Em contrapartida, a ciência também já apontava soluções que podem (e devem) ser consideradas pelas organizações para desenvolverem capacidade de adaptação e resiliência num cenário extremamente competitivo impactado pelos riscos e oportunidades.
Fato é que as demandas climáticas avolumaram rapidamente a ponto de criar o “Doomismo Climático” – pensamento pessimista que apresenta um quadro apocalíptico considerando apenas o problema, sem reconhecer as soluções e ações potenciais disponíveis. Também é muito nocivo o pensamento pessimista porque gera paralisia e desengajamento, desencadeando a inação climática que não é um bom negócio para ninguém, muito especialmente para os investidores que por natureza são otimistas por colocarem dinheiro em algo que esperam seja bem-sucedido para lhe dar o esperado retorno.
E como tudo isso bate nos investimentos?
Para responder essa questão, o CEO da Morningstar (1) Kunal Kapoor escreveu artigo sobre como considerar o papel do clima nos investimentos. Para isso, foram analisadas mais de 6.500 grandes empresas onde se constatou que 90% delas estão “significativamente” desalinhadas com um futuro de 1,5 graus Celsius que é a meta do Acordo de Paris assinado em 2015 na COP21 pelos países signatários para combater o aquecimento global.
Segundo a análise, em conjunto essas emissões levam a um aumento de 3 graus até o final do século. Mas ele também destaca que houve progresso, porque já estivemos no caminho do aumento de 4 graus. Para os investidores que tratam os riscos da transição climática como oportunidade de adaptação o que conta não é a ambição e sim o avanço, porque significa que o processo já começou, mesmo que a velocidade esteja abaixo do esperado. Em outras palavras, não vai retroceder, e pode acelerar na visão dos investidores.
Embora os riscos climáticos sejam velhos conhecidos, temos algo novo acontecendo: o levantamento dos dados e as ferramentas de análise dos investidores avançaram significativamente com os relatórios e a regulação. E, dentro desta perspectiva, a Morningstar sugere aos investidores que resistam ao Doomismo Climático e considerem o impacto do clima nos investimentos em três diferentes formas:
1) Olhe além dos compromissos declarados para responsabilizar as empresas pela transparência dos dados e das ações
Com a regulação os dados sobre descarbonização estão se tornando mais transparentes sobre os riscos e oportunidades climáticas de uma empresa. Quanto mais uma empresa divulga e mais padroniza seus dados, melhor será o trabalho das classificações e insights sobre os impactos do clima no investimento. A transparência é um fator primordial para segurança do investidor.
2) Diversifique a sua carteira investindo em empresas com menor risco de transição climática
À medida que a transição se acelera, as empresas que não se adequam as atuais demandas climáticas poderão ver o acesso ao capital e aos seguros reduzido, porque os antigos parceiros podem considerá-los demasiado arriscados. Nas classificações de transição de baixo carbono se projeta as emissões da empresa combinado com as ações que está tomando para sua redução. Portanto, avaliar o caminho que a empresa está seguindo é fundamental para prever os riscos da transição climática da empresa em que for investir.
3) Considere como o seu portfólio se adaptaria a resultados climáticos divergentes
Que o clima está mudando e que teremos que adaptar a ele é fato. Portanto é necessário avaliar os investimentos sob o prisma dos riscos climáticos divergentes. Deve se considerar investimentos para empresas preparadas para um futuro de 1,5 graus e também para as que estão razoavelmente preparadas para um cenário de 2,0 graus. Se assumirmos um futuro com eventos climáticos mais frequentes e mais intensos, pode se aplicar as métricas para riscos mais extremos. Enfim, os avanços nas métricas e transparência dos dados darão ao investidor uma avaliação diversificada para cada cenário.
Concluindo, embora ainda tenhamos muito trabalho e desafios pela frente – especialmente na medição e redução das emissões de âmbito 3, há também motivos reais para os investidores evitarem o Doomismo no enfrentamento dos riscos climáticos dos seus investimentos. Especialmente porque todo risco, se bem administrado, torna-se oportunidade no mundo dos negócios. Leitura, interpretação e gestão desse cenário será na prática o desafio diário dos investidores e das empresas.
(1) A Morningstar é uma provedora independente de dados e análise de investimentos com sede em Chicago, Illinois, nos Estados Unidos.
Fontes:
- https://www.morningstar.com/sustainable-investing/resist-doomism-how-investors-can-address-climate-risks-here-now
- https://www.ft.com/content/60f6e94a-eb3b-4a3e-9ef6-273262967121
- https://www.knowesg.com/featured-article/what-is-climate-doomism-and-how-to-fight-eco-anxiety-that-comes-with-it
- https://www.wealthmanagement.com/equities/sustainability-and-subjectivity-navigating-uncertain-waters-esg-data
Sobre BISA Certifica:
Benchmarking Inteligência Sustentável – BISA é resultado do aprimoramento do Programa Benchmarking Brasil que ganhou inteligência para otimizar os recursos técnicos gerenciais de avaliação, certificação e comparabilidade das melhores práticas de sustentabilidade. Com o incremento das novas tecnologias somado a um colegiado de especialistas de vários países, BISA ganha robustez na gestão das boas práticas e passa a fornecer um conjunto de serviços e dados para que as organizações possam conduzir seus negócios em alinhamento com as agendas ESG (Environmental, Social, and Governance) e SDG (Sustainable Development Goals). Saiba mais em www.bisacertifica.com.br