Assistimos na última semana a maior crise bancária nos Estados Unidos desde 2008 tomar forma. Três instituições financeiras de médio porte – Silicon Valley Bank (SVB), Silvergate Bank e Signature Bank – colapsaram após perderem a confiança de seus depositantes e ficarem insolventes. Ou seja, não poderem liquidar os fundos dos clientes que desejarem efetuar saques ou transferências. Mesmo com as medidas de socorro anunciadas pelo Federal Reserve (FED), as falências causaram um grande tumulto no mercado financeiro internacional, e o setor de tecnologia foi especialmente atingido.

O Silvergate e o Signatures, por exemplo, estavam entre os principais provedores de serviços bancários para empresas de criptomoedas nos Estados Unidos. Segundo a Chainalysis, plataforma líder global em pesquisa e análise de blockchain, é importante destacar que, apesar do duro golpe, dificilmente o ecossistema cripto voltará aos padrões da última década em termos de conseguir parceiros bancários.

“Já alcançamos certo nível de consolidação e provamos que conseguimos gerar valor como indústria. Mesmo assim, esse cenário limita significativamente as opções bancárias dos EUA, tornando mais difícil a conversão de criptomoedas para o dólar americano”, avaliou a líder de vendas para América Latina da Chainalysis, Briana Kernan.

SVB, o banco das startups

O SVB, por sua vez, era um dos principais provedores de contas bancárias e de capital de risco para startups tech do Brasil. De acordo com um levantamento da Bloomberg Linea, mais de US$ 10 milhões de empresas brasileiras estavam sob custódia do banco. O SVB também fornecia serviços bancários à Circle, emissora da stablecoin USDC. A empresa tinha aproximadamente US$ 3,3 bilhões presos no banco – o que equivale a cerca de 8% das reservas que apoiam a stablecoin. Logo depois da Circle anunciar seu grau de exposição ao SVB, o USDC perdeu a paridade, sendo avaliado abaixo de US$ 1 durante todo o fim de semana seguinte ao colapso.

Isso desencadeou uma liquidação sistêmica de várias posições em todo o ecossistema cripto. Um levantamento divulgado pela Chainalysis indicou que o volume de criptomoedas que saíram de serviços centralizados (CEXes) disparou após o início da crise, atingindo o pico de US$1.2 bilhão no dia 11 de março. “Esse aumento é algo comum durante tempos de turbulência no mercado e indica o temor dos usuários de perder o acesso a seus fundos”, explica Brianna Kernan.

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De acordo com o levantamento da empresa, uma parte significativa desse total foi então usada para negociação em bolsas descentralizadas (DEXes). A Chainalysis identificou também que o USDC foi um dos principais ativos movidos para DEXes no período, já que muitos usuários provavelmente estavam tentando se desfazer de suas participações em troca de outras moedas.

A valorização dos criptos

Ao analisar a atividade on-chain desde o anúncio dos colapsos, a Chainalysis também percebeu que as aquisições das stablecoins USDT e DAI dispararam à medida que o USDC desatrelou. Porém, curiosamente, o próprio USDC viu um pico ainda maior – o que pode indicar que traders previram a recuperação da paridade e procuraram adquiri-lo em massa e abaixo do preço histórico.

Fora do mundo das stablecoins, também foi observada uma valorização do Ether e do Bitcoin após o anúncio emergencial do FED. O Bitcoin, que chegou a mínima de US$ 19.670 em 10 de março, recuperou as perdas e alcançou US$ 26.000 quatro dias depois, a máxima dos últimos três meses.

De acordo com os dados da Chainalysis, houve um grande aumento no volume de Bitcoins enviados de CEXes para carteiras pessoais no dia 10 de março, em um momento em que a situação do SVB parecia terrível, mas o USDC ainda não havia se despareado.

É possível que os grandes operadores de Bitcoin tenham movidos os ativos para carteiras pessoais para garantir que teriam acesso aos fundos. Três dias após essa movimentação, observamos um fluxo contrário ainda maior, com um grande pico de Bitcoins enviados de carteiras pessoais de volta para os CEXs – o que provavelmente está relacionado à alta dos preços da criptomoeda.

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Medo da crise

Apesar da garantia de liquidez dada pelo FED, o temor de uma crise bancária generalizada permanece. Quando se trata de criptomoedas, há outra especificidade: com o fim dos dois principais bancos do setor, diminuem a quantidade de rampas de entrada e saída entre criptomoedas e dólares americanos. Embora permaneça dentro dos parâmetros regulares, a atividade cripto em todos as principais plataformas já caiu desde a última semana. “Todo esse cenário deve diminuir a liquidez no setor e, por consequência, diminuir o volume de transações”, concluiu Brianna Kernan.

Texto: AI Chainalysis/Edição: Cátia Chagas

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