Durante muito tempo a transição verde foi uma meta a ser perseguida tornando-se um objetivo quase que voluntário defendido mais verbalmente do que implementado de fato. Tivemos muito debate e retórica para pouca ação. A pressão não era forte o suficiente para práticas reais e o mundo passou mais tempo discutindo do que de fato transformando. Mas agora com o acirramento dos fenômenos climáticos e das desigualdades sociais provocando grandes desequilíbrios e perdas a situação mudou. Cadeias produtivas impactadas pelos riscos das mudanças climáticas, e a inclusão do mercado de capitais com regulação mais rígida em relação aos impactos socioambientais das organizações provocaram um tsunami no debate técnico político nos grandes mercados.
Na UE a regulação induz desdobramentos globais confirmando que a mudança está ocorrendo de fato. Para fazer negócios com o terceiro maior PIB mundial, a UE, as empresas independentes de suas localizações terão que se enquadrar nas normas e regras impostas e divulgar seus impactos sociais e ambientais além de suas metas de mitigação. Trata-se de uma mudança revolucionária em seu escopo dado a complexidade e velocidade com que ocorre. E como toda revolução mexe no tabuleiro do poder definindo vencedores e perdedores, é natural que quem se vê na posição de “perdedor” faça ecoar sua voz em defesa própria. O movimento anti ESG nos EUA é um exemplo disso. Na UE, o continente mais avançado na regulação ESG, surge algo parecido chamado Greenlash. Tanto nos EUA quanto na UE, sabemos que a realidade das propostas ESG certamente será diferente do plano original, à medida que as repercussões sociais, econômicas e políticas se desenrolam e os avanços tecnológicos imprevistos acontecem. Mas como sempre, caberá à política administrar esse processo e encontrar formas para garantir que as intercorrências não atrapalhem a jornada revolucionária do ESG.
Mas o que afinal é o Greenlash?
Greenlash é um termo que se refere à reação negativa ou resistência que surge em resposta a esforços de sustentabilidade, ações ambientais ou mudanças relacionadas à proteção social e ambiental. O termo é uma combinação das palavras “green” (verde, que geralmente representa a ecologia e a sustentabilidade) e “backlash” (reação negativa, resistência, retrocesso). É motivado por interesses conflitantes, ou ainda desconhecimento dos benefícios da sustentabilidade, e preocupações sobre os impactos sociais e econômicos das mudanças propostas.
O Greenlash pode se manifestar de várias formas: Oposição a políticas ambientais; Críticas a empresas sustentáveis; Controvérsias em relação a tecnologias verdes; Conflitos entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico; Ceticismo em relação às mudanças climáticas. E também pode afetar o ESG das seguintes maneiras:
- Desafios de Implementação: O Greenlash pode criar desafios para a implementação de iniciativas ESG. Quando empresas, investidores ou governos buscam adotar práticas sustentáveis, podem encontrar resistência de partes da sociedade que questionam a eficácia, os custos ou os impactos dessas ações
- Pressão Pública e Reputação: Reações negativas podem afetar a reputação de empresas e instituições. O Greenlash pode levar a boicotes, críticas nas mídias sociais e outros tipos de pressão pública, impactando a imagem da organização e sua capacidade de atrair investidores ou clientes preocupados com as questões ESG
- Mudanças de Políticas e Regulamentações: A resistência ao Greenlash pode influenciar decisões políticas e regulamentações. Governos podem enfrentar dificuldades em implementar políticas ambientais ou sociais rigorosas se houver oposição significativa da sociedade
- Transparência e Comunicação: Empresas e organizações que enfrentam o Greenlash precisam comunicar de forma transparente suas intenções e ações relacionadas ao ESG. Uma comunicação eficaz pode ajudar a dissipar equívocos, abordar preocupações e construir confiança com os stakeholders
- Desenvolvimento de Soluções Mais Sustentáveis: O Greenlash pode servir como um impulso para o desenvolvimento de soluções mais robustas e fundamentadas em relação às questões ESG. A pressão da sociedade pode incentivar empresas e governos a encontrar abordagens mais inovadoras e eficazes para questões ambientais e sociais
- Mudanças de Comportamento do Consumidor: O Greenlash pode influenciar o comportamento dos consumidores, levando-os a escolher produtos e serviços com base em critérios ESG. Isso pode levar as empresas a adaptarem suas práticas para atender às expectativas do mercado
- Diálogo e Colaboração: Enfrentar o Greenlash pode exigir um diálogo construtivo e colaboração entre empresas, governos, organizações da sociedade civil e outros stakeholders. Isso pode levar a soluções mais equilibradas e sustentáveis
O Greenlash sofre influência da cultura, política, economia, tecnologia, entre outros. Encontra mais aderência em locais onde as questões de sustentabilidade e ambientais são controversas, ou onde as mudanças propostas têm impacto significativo na economia e sociedade. É um movimento reativo a mudança que afeta setores e locais.
Embora as políticas verdes da Europa tenham mais credibilidade que as dos EUA dada a oscilação entre os ciclos eleitorais nos Estados Unidos, não significa que serão menos vulneráveis aos ataques. Segundo especialistas, os políticos da UE precisarão abordar mais as preocupações dos cidadãos e das empresas se quiserem manter o apoio as mudanças sustentáveis. Devem desenvolver uma transição verde robusta que crie empregos e oportunidades econômicas garantindo uma travessia segura que não acarrete perdas e sacrifícios a setores menos preparados. Afinal, os princípios da sustentabilidade devem gerar prosperidade para além de uma geração e o ESG deve procurar atender as expectativas de todos os stakeholders.
Para administrar o Greenlash e superar mais esse desafio que surge em oposição ao ESG é necessário um entendimento profundo das preocupações da sociedade e a sua disposição para se adaptar e evoluir.
O ESG é técnico e também político, e ambos trilham juntos essa jornada de transformação. O Greenlash é mais um desafio para depurar a proposta ESG. Poderá desacelerar o processo, mas não mudará sua direção que é o redesenho da forma como fazemos negócios e vivemos em sociedade.
Fontes:
https://www.planadviser.com/anti-esg-bill-require-pecuniary-factors-considered/
https://www.commercialriskonline.com/airmic-warns-of-anti-esg-challenge-facing-members/
https://www.planadviser.com/advisers-participants-skeptical-esg-investments-not-asset-managers/
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