Como é do conhecimento de muitos, a atividade de crédito é muito complexa no Brasil e já levou um grande número de bancos à falência, como ocorreu com o Banco Nacional e o Bamerindus. Inclusive, as dificuldades por aqui fizeram com que grandes instituições financeiras globais como HSBC e outros deixassem o país.

Mais recentemente, tivemos novos entrantes neste mercado de crédito e o principal deles talvez seja o Nubank, que foi capitalizado no IPO (oferta primária de ações) na bolsa norte-americana em dezembro de 2021. Com a oferta pública, a qual vendeu 289 milhões de ações a 9 dólares cada, com isso, captando 2,6 bilhões de dólares ou aproximadamente 14,5 bilhões de reais, o banco roxo entrou para o grupo dos maiores credores brasileiros.

Com a captação a mercado já retratada na divulgação das demonstrações financeiras de dezembro de 2021, o banco aparece com um patrimônio líquido de 24,6 bilhões de reais. O montante divulgado pelo Nubank faz com que ela tenha se tornado a sétima maior instituição financeira no Brasil no que se diz respeito ao valor patrimonial.  

Com isso, o banco passou de fase. Anteriormente, a principal missão era aumentar sua base de clientes e a gestão teve muito sucesso nessa etapa ao isentar os consumidores de tarifas que os bancos tradicionais cobravam. Dessa forma, o Nubank atingiu o número de 59,6 milhões de consumidores.

Agora, com um balanço mais robusto e um número considerável de correntistas, ele pode partir para a principal atividade bancária de forma mais arrojada, a grande questão é: será que o Nubank será bem-sucedido nesta etapa?

Nós fomos analisar os números reportados e buscamos entender um pouco mais das políticas adotadas pela companhia para esse segmento de atuação.

Hoje, o principal produto é o cartão de crédito, como informou uma das fundadoras do banco, Cristina Junqueira, em entrevista concedida ao programa Roda Viva. Como ela disse, o banco tem uma política que busca evitar que seus consumidores fiquem no chamado crédito rotativo (quando o cliente deixa de pagar o cartão de crédito nos bancos tradicionais, usualmente ele cai neste tipo de produto) por ser um tipo caro de crédito ao cliente.

Segundo Cristina, cerca de 25% dos usuários de cartão de crédito no Brasil estão neste tipo de segmento, no entanto, no Nubank são apenas 3% dos consumidores que utilizam o chamado crédito rotativo.

Aparentemente, analisando o balanço da instituição financeira, a alternativa encontrada para que os clientes não caiam nessa situação foi a seguinte: o banco realiza uma negociação e então este cliente, que estaria inadimplente no cartão, adquire um outro produto, mais barato, o chamado crédito pessoal.

O problema para quem analisa a empresa é que ao ler o balanço, sem o conhecimento dessa política, podem ignorar a possibilidade da inadimplência do crédito concedido via cartão de crédito tenha uma taxa superior à reportada de 4,1%, patamar comparável com o Itaú que tem o maior índice de sucesso nesse tipo de operação no Brasil.

Mas, à segunda vista, e já sabendo dessa informação, nos cabe analisar o desempenho da carteira de crédito pessoal, que tem um nível de provisionamento bem mais elevado na casa dos 18%. Isso pode ocorrer porque os clientes que iriam ficar inadimplentes no cartão podem ter sido migrados para essa categoria de crédito pessoal.

Dessa forma, o banco também acaba retardando a necessidade de provisionamento da carteira. Como a companhia criou um modelo de crédito para seu cliente, a nova dívida começa com prazo zero de atraso. Isso pode demorar de 30 a 90 dias para aparecer no radar dos critérios de provisão para devedores duvidosos estabelecidos pelo Banco Central.

Com isso, para termos convicção da qualidade do crédito do Nubank teremos que aguardar um pouco mais, uma vez que, como sua capitalização é recente, esses dados de inadimplência podem estar represados.

Conclusão

Com sua estratégia de redução de tarifas, o Nubank conseguiu angariar 59,6 milhões de clientes, chamou a atenção e conseguiu realizar um IPO internacional, captando 14,5 bilhões de reais, o que permitiu que o banco entrasse de forma mais arrojada para uma segunda etapa da atividade bancária, a concessão de crédito.

O modelo de concessão de crédito adotado é diferente dos bancos tradicionais, principalmente via cartão de crédito, um modelo que demora um pouco mais para que possamos concluir se houve sucesso nesta atividade ou não.

Para termos mais convicção se esse patamar apresentado nos últimos resultados será perene, precisaremos de mais tempo. Seguiremos acompanhando a divulgação dos balanços.

João Abdouni, analista CNPI na Inv Publicações

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