Depois de quase 2 décadas do surgimento dos critérios que envolvem a proposta ESG, surge uma abordagem corajosa e realista sobre os desafios do ESG na prática. Trata-se de uma mudança de foco, ou se preferirem de um ajuste no foco central desse tema.

Claro que existem controvérsias e polêmicas na teoria defendida pelo chefe de uma das maiores empresas de pesquisa ESG do mundo (Innovest/MSCI), Frank Dixon, que vou aqui compartilhar e refletir com os interessados nas fragilidades e potencialidades do ESG enquanto ferramenta de gestão e de transformação de cenários e de modelos de negócios.

Frank Dixon foi o criador da Global System Change em 2005, e defende há anos que a mudança de sistema se tornaria a questão de sustentabilidade dominante do século 21. E que sistemas econômicos e políticos falhos são um prato cheio para que as empresas degradem o meio ambiente e a sociedade. E convenhamos, difícil discordar.

Estudioso desse tema, ele aponta que as empresas só poderiam mitigar de forma lucrativa cerca de 20% dos impactos negativos totais e que os sistemas falhos (entenda-se o cenário onde elas operam) são as causas dos grandes desafios. Ou seja, melhorá-los (que ele chama de mudança de sistema) seria em tese 80% da solução. E aí a dura realidade se apresenta onde os esforços ESG da forma como estão sendo tratados, em teoria responderiam em média por apenas 20% da solução.

E vai mais longe ao afirmar que a estratégia ESG atual se baseia em uma premissa falha de encorajar as empresas a deixarem voluntariamente de prejudicar o meio ambiente e a sociedade já que operam dentro de sistemas que as colocarão fora do negócio se o fizerem plenamente. Destaca um ponto sensível e controverso ao afirmar que a depender do cenário “até um certo ponto, a responsabilidade corporativa voluntária pode ser igual ao suicídio corporativo voluntário” justificando que isso ocorre devido a uma falha primária do sistema geral que é a incapacidade de responsabilizar totalmente as empresas pelos seus impactos negativos permitindo que elas maximizem lucros prejudicando a sociedade – o que resulta em condição não isonômica, desleal e desmotivadora para com as empresas que voluntariamente aprimoram seus modelos de negócios para além da conformidade legal.  

Mas controvérsias a parte, e voltando a essência do pensamento de Frank Dixon, ele esclarece que as estratégias ESG das organizações estão focadas na redução dos impactos negativos e no enfrentamento as mudanças climáticas, que na sua visão trata-se de “sintomas” que não poderão ser resolvidos a menos que as causas básicas (o sistema geral onde os negócios operam) sejam mudadas. Por isso, a mudança do sistema é a questão de sustentabilidade mais importante deste século e, consequentemente, financeiramente mais relevante. No futuro, a liderança em sustentabilidade exigirá cada vez mais uma forte estratégia de mudança de sistema.

Segundo ele, pelo menos nos últimos 100 anos, as empresas puderam lucrar degradando o meio ambiente e a sociedade, o que não é nada sustentável. Manter o estado atual não é uma opção que se sustentará por muito mais tempo pelos riscos que afetam a todos, embora de forma e velocidade distintas para cada grupo.

À medida que os investidores direcionam seus investimentos para os líderes da mudança de sistema, as motivações das empresas mudam na mesma direção, num jogo mais justo e racional. E segundo sua visão a mudança do foco para a causa e não apenas para seus sintomas é a transformação mais significativa da proposta ESG desde o seu surgimento.

Dentro dessa linha de pensamento, classificar o desempenho ESG das empresas é bem mais complexo. Para ajudar nesse processo, Frank Dixon criou um quadro de referência tendo como base, o pensamento sistêmico e as leis da natureza para esclarecer o que é uma sociedade sustentável, sugerir as mudanças sistêmicas necessárias para alcançá-la, além de elencar as responsabilidades das empresas e do setor financeiro na mudança do sistema, que foi compartilhado no livro Global System Change. Trata-se de uma abordagem estratégica e fundamentada da performance das organizações dentro de uma visão de mudança de sistema.

Esse modelo de classificação, contempla 3 métricas interessantes para níveis avançados. São elas: ESG tradicional; Mudança de sistema de nível médio (mudança setorial, de partes interessadas, de nível ambiental/social); e Mudança de sistema de alto nível (mudança econômica, política e de sistema social). Uma espécie de rating aprimorado incluindo itens como: estratégia de mudança de sistema, consciência de negócios (pensamento sistêmico completo), colaboração de mudança de sistema, atividades de influência do governo, campanhas de mídia, apoio a organizações de mudança de sistema, e resultados e benefícios de mudança de sistema, avaliando riscos sistêmicos e oportunidades que não são abordados pelo ESG convencional. Temas para serem trabalhados muito mais com o olhar para fora do que para dentro da organização (sem descuidar dos temas internos evidentemente), porque mudar o foco nesse momento é essencial.

Corroborando com essa visão, outro especialista em investimentos sustentáveis e Diretor da Earth Equity Advisors, uma empresa Prime Capital Investment Advisors, Pedro Krull, aponta 3 motivos fundamentais para o investimento sustentável:

  1. Não podemos continuar os negócios como de costume
  2. Há oportunidades de crescimento no horizonte
  3. ESG (como tratado hoje) simplesmente não é suficiente

Os especialistas afirmam que apesar da mudança de sistema ser um grande e complexo desafio de gestão, trará bons e duradouros resultados a todos (existência empresarial e sociedade). As empresas que se saírem bem nesta área provavelmente superarão o desempenho também em outras áreas, e com isso obterão retornos de investimento superiores. E é nessa opção que eles, os especialistas, apostam suas fichas.

Fontes:

https://www.greenbiz.com/article/system-change-investing-next-evolution-esg https://www.forbes.com/sites/peterkrull/2023/04/25/3-reasons-sustainable-investing-is-critical/ https://kerrygrace.com.au/want-to-change-your-life-shift-your-focus/

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