As fortes críticas políticas ao investimento ESG, especialmente nos USA, fez Larry Fink (CEO da BlackRock e precursor do apoio ao ESG) admitir que a sigla se tornou tóxica demais para continuar sendo usada. Mas na prática o investimento climático continua em franca expansão na BlackRock, mas sem chama-lo de ESG.

Tariq Fancy, ex-diretor de investimentos sustentáveis ​​da BlackRock e fundador da The Rumie Initiative afirmou que apesar das críticas ao ESG, ainda há muito entusiasmo do investimento E (Environmental), agora com um novo nome – “investimento em transição”. Na sua visão, as críticas ao ESG trouxeram racionalidade e ajustes de foco, para que mais setores possam ser integrados. Também as escolhas das localizações das COP28 e 29 (Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão, respectivamente) ilustram essa disposição.

No final de 2023, a Autoridade Monetária de Singapura (MAS) lançou a Taxonomia Singapura-Ásia para Finanças Sustentáveis estabelecendo critérios para a definição de atividades verdes e de transição que contribuem para as alterações climáticas. Com foco em oito setores (energia, industrial, captura e sequestro de carbono, agricultura e silvicultura, construção e imobiliário, resíduos e economia circular, tecnologia de informação e comunicação, e transporte), é a primeira taxonomia de transição multissetorial do mundo, e provavelmente não será a única.

“Se 2023 foi o ano em que os investidores começaram a pedir às empresas que deixassem de divulgar os seus riscos climáticos e passassem a enfrentá-los, 2024 parece ser o ano em que começarão a decidir como pagar por isso”, são as palavras de Mike Scott, jornalista especializado em negócios e sustentabilidade (The Guardian, o Daily Telegraph, Times, Forbes, Fortune e Bloomberg) apostando que 2024 será o ano do financiamento de transição.

Mas o que é exatamente Financiamento de transição?

O financiamento de transição, é uma parte de nicho do mercado de serviços financeiros que a cada dia ganha mais destaque apesar de ainda não estar muito claro seus requisitos. Embora possa ser qualquer investimento que ajude a reduzir as emissões, na economia real lidamos com situações dispares. Temos os setores maduros, como veículos elétricos e energia renováveis, e, outros de difícil abordagem, como aço, cimento, agricultura, transporte marítimo e aviação, segundo Mike Scott. Os investimentos de transição são direcionados tanto ao financiamento de empresas e indústrias que ajudam na transição energética (setores maduros), como também empresas de setores com elevadas emissões para que possam implementar suas estratégias climáticas.

O governo do Reino Unido define “financiamento de transição como aquele que refere-se a produtos e serviços financeiros que apoiam empresas e atividades com maiores emissões a descarbonizarem-se ao longo do tempo. Estes instrumentos são geralmente utilizados por empresas que procuram reduzir as emissões de gases efeito de estufa e devem fazer parte de um caminho de descarbonização credível que seja consistente com os objetivos climáticos globais.”

Já a Taxonomia Singapura-Ásia para Finanças Sustentáveis entende que “Transição, refere-se a atividades que não cumprem atualmente os limiares verdes, mas que estão no caminho para o carbono zero ou contribuem para resultados líquidos zero. Para sinalizar a importância da progressão para um resultado alinhado de 1,5 graus Celsius (1,5°C), os limiares de transição não duram indefinidamente e têm uma data de expiração”.

A Associação Internacional do Mercado de Capitais salientou num guia para o financiamento de transição publicado recentemente que “a maioria das obrigações verdes são obrigações de transição – financiam a descarbonização da sociedade, de uma forma ou de outra. E que os dois termos deveriam ser sinônimos”.

Apesar de já existir posicionamentos e definições importantes, existem desafios a serem superados. O medo de sofrer acusações de greenwashing ainda deixa investidores cautelosos em relação ao financiamento de transição. 

E se trata de um medo real para Hendrik du Toit, executivo-chefe da gestora de ativos Ninety One. A busca pela perfeição dos regimes regulatórios está levando os investidores a serem acusados de fazer greenwashing, desestimulando o investimento. Na sua visão é necessário que exista uma regulação no qual os investidores possam alocar capital de forma credível em ativos castanhos (em transição), a fim de torna-los mais verdes no futuro. Segundo ele “não é mais possível gerir uma empresa credível hoje se ela não tiver um plano de transição credível’.

A Taxonomia Singapura-Ásia para Finanças Sustentáveis de dezembro 2023 desmitificou a ideia confusa sobre transição, consolidando o entendimento de que os ativos “verdes” são verdes agora, enquanto os ativos de “transição” ainda não, mas poderão sê-lo em prazo devidamente anunciado. A lógica do prazo, derruba o entendimento de que o financiamento de transição seja apenas um ato de compreensão e proteção aos emissores. Porque as soluções intermediarias introduzidas terão prazo para serem substituídas por soluções da nova geração a fim do enquadramento nos requisitos/atributos dos ativos verdes. É um modelo inclusivo que exigirá mais dos emitentes e investidores, mas em contrapartida dará oportunidade a outros setores de se integrarem num padrão de economia mais sustentável e resiliente. E como todo processo é dinâmico e subordinado a variáveis nem sempre previsíveis, temos que acompanhar para saber se é mudança ou ajuste de foco.

Fontes:

Sobre BISA Certifica:

Benchmarking Inteligência Sustentável – BISA é resultado do aprimoramento do Programa Benchmarking Brasil que ganhou inteligência para otimizar os recursos técnicos gerenciais de avaliação, certificação e comparabilidade das melhores práticas de sustentabilidade. Com o incremento das novas tecnologias somado a um colegiado de especialistas de vários países, BISA ganha robustez na gestão das boas práticas e passa a fornecer um conjunto de serviços e dados para que as organizações possam conduzir seus negócios em alinhamento com as agendas ESG (Environmental, Social, and Governance) e SDG (Sustainable Development Goals). Saiba mais em www.bisacertifica.com.br