Se as profissionais com filhos já enfrentavam discriminação no mercado de trabalho antes da pandemia da Covid-19, a situação ficou ainda mais desafiadora após a crise. É o que aponta pesquisa feita pela consultoria McKinsey & Company. 

Segundo o relato dos participantes, as mães além de estarem lidando com uma parcela maior de afazeres domésticos que os pais nos últimos meses, preocupam-se duas vezes se estão sendo julgadas negativamente ao fazerem home office. O levantamento revela ainda que, uma em cada quatro mulheres, principalmente aquelas com filhos, considerou mudar de carreira ou deixar o mercado de trabalho.

Foto: Freepick

Em entrevista à revista Crescer, três mulheres contaram situações de preconceito vividas durante processos seletivos e enquanto estavam empregadas. Confira.

Aline Oliveira, mãe de Luiz Miguel, 1 ano, Cuiabá, Mato Grosso

“Quando a pandemia começou, tinha conseguido um emprego e estava tudo bem até que precisaram demitir alguns funcionários. Em uma empresa com 16 pessoas, cinco foram demitidas e todas eram mães com crianças de até 10 anos. As que ficaram não tinham filhos pequenos ou eram homens. Meu gerente, que era pai na época, chegou a dizer que quem tem filhos não pode se dedicar tanto quanto os outros. Então eu questionei: ‘Ok, mas e sua filha?’. E ele disse: ‘A minha filha fica com a mãe, no seu caso, você é a mãe’.

Antes desse episódio, passei por uma situação parecida durante uma entrevista. O selecionador leu meu currículo e no final questionou se eu era mãe. Respondi que sim e que meu filho tinha, na época, 7 meses. Ele replicou, com todas as letras, ‘Olha, seu currículo é impecável, sua dicção é muito boa e você seria uma ótima funcionária para integrar nosso quadro, mas não contratamos mães com filhos pequenos porque elas não conseguem vestir a camisa da empresa’.

Desde que meu filho nasceu não fui a uma entrevista em que não precisei dizer com quem ele ficava, o que fazia, se comia ou se mamava. As minhas qualificações profissionais são deixadas de lado quando digo que tenho um filho.

É muito difícil lidar com essas situações. É algo muito constrangedor. Felizmente, hoje em dia estou empregada em uma empresa que aceitou o meu lado mãe “.

Beatriz Gomes, mãe de Leonardo, 3 anos, de São Bernardo do Campo, São Paulo

“Antes de ser mãe participava de algumas entrevistas que estavam de acordo com as habilidades do meu currículo, e era rapidamente contratada. Nunca tive dificuldade de encontrar emprego. Pelo contrário, felizmente recebia várias propostas. Depois que meu filho nasceu isso mudou completamente.

Por exemplo, fiz um processo seletivo no ano passado em que passei nas provas de português, matemática e conhecimentos gerais. O avaliador perguntou se eu tinha dependentes e quais eram as idades. Respondi que tinha um filho de 3 anos e percebi que o tom mudou completamente a partir daí. Dias depois recebi uma mensagem dizendo que não estava qualificada para a vaga. Isso me marcou, mas é uma coisa recorrente.

Atualmente, quando preciso preencher alguma ficha que pergunta o número de dependentes, acrescento uma ressalva que diz que filho não impede uma mulher de trabalhar, pelo contrário, é uma motivação. E sugiro que essa pergunta seja feita também para os homens, porque eu nunca vi”.

Thayane Costa, mãe de Filipe, 13 anos, Matheus, 11, Gabriel, 6 e Thiago, 4, de Manaus, Amazonas

“Sempre que perguntam se tenho filhos e respondo sim, é nítido o olhar de reprovação dos selecionadores, ainda mais quando digo que os crio sozinha.

Não vejo uma saída viável para todo esse preconceito e falta de empatia! Mesmo me esforçando e dedicando meu tempo em cursos, o que noto é que o mercado de trabalho é voltado para homens e há pouca chance para mães, principalmente de crianças pequenas.

É muito complicado não ter ao menos a oportunidade de mostrar minha capacidade. É como se o fato de ser mãe nos tirasse todo o mérito de profissional”.

Como as empresas podem incentivar a carreira de mulheres mães?

Além de mudar o mindset de que a maternidade atrasa ou atrapalha a carreira das mães, as empresas precisam criar estratégias para que menos mulheres desistam de trabalhar logo que retornam da licença-maternidade ou que tenham que escolher entre uma coisa ou outra.

“Um dos temas mais desafiadores que temos debatido com frequência no Movimento Mulher 360 são as práticas de retenção das profissionais pós licença-maternidade. Precisamos lembrar que não só as funcionárias mães que são prejudicadas ao serem demitidas ou pedirem demissão, mas as empresas que perdem profissionais e potenciais talentos que poderiam avançar para posições de liderança”, afirma Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360.

Para mudar esse cenário e contribuir com a valorização dessas profissionais, o Movimento reúne uma série de materiais baseados nas melhores práticas de suas empresas associadas e parceiros.

Confira:

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