O impacto do diagnóstico de câncer de mama na vida da mulher toma uma proporção gigante naquele momento em que ela está ali na frente do seu médico. Contudo, é preciso respirar, e como diz a servidora pública Stella Amaral, 51 anos, que está em remissão da doença: “levantamos, sacudimos a poeira e damos a volta por cima. Aprendemos a lidar com cada situação conforme ela se apresenta”, contou ela, que recebeu a notícia aos 49 anos em plena pandemia.
Antes de tudo, segundo o mastologista Gustavo Zucca (CRM-SP 99747), após receber o diagnóstico, é preciso realizar o tratamento o quanto antes. “Para isso, o médico responsável irá traçar uma estratégia de tratamento, de acordo com as características do tumor. O tratamento é feito conforme o estadiamento da doença (momento em que é feito o diagnóstico da doença), localização do nódulo e das condições de saúde da paciente.”
Entretanto, o prognóstico irá depender do estágio do câncer e de condições, como metástases e características da paciente, como idade e comorbidades. Assim, o tratamento pode ser local ou sistêmico (para o corpo todo). Entenda cada uma das situações:
Tratamento local
Trata o tumor localmente, sem afetar o resto do corpo. Dessa maneira, a terapia local é composta por cirurgia; radioterapia.
Tratamento sistêmico
Este tipo de terapia recorre ao uso de medicamentos, que podem ser orais ou via corrente sanguínea. Para tratar o câncer localizado na mama, mais de um tipo de tratamento sistêmico pode ser realizado.
Eles podem ser feitos por meio de: quimioterapia;terapia alvo; imunoterapia; terapia hormonal. “Geralmente, pacientes que possuem esse tipo de câncer têm que passar pela cirurgia de retirada do tumor, assim como a combinação dos tipos de terapias locais e sistêmicas”, afirma o mastologista.
Este tratamento pode ser realizado antes ou depois da cirurgia. A indicação dependerá do tipo do tumor e de alguns critérios como o estágio da doença no diagnóstico.
“Na minha fantasia de pós-tratamento, a vida voltaria ao normal como se nada tivesse acontecido. Mas o que é normal?”
A Stella tem 51 anos, uma virginiana raiz, servidora pública, ainda se recuperava da perda da mãe quando teve que enfrentar o diagnóstico em plena loucura mundial da pandemia. Namora o Pedro, que deu todo o apoio a ela, assim como os amigos e a família. Está em busca do seu normal na rotina, ainda enfrenta crises de ansiedade nos períodos de revisão médica, mas acredita que isso também vai passar.
Ela conta a seguir:
“Quando recebi o diagnóstico ainda estávamos no período de pandemia, um pouco mais tranquilo em virtude da vacina. Como sou concursada e tenho convênio de saúde, a parte burocrática do afastamento e do tratamento não foi complicada, foi tudo muito ágil. Ao todo fiquei 9 meses de licença para tratamento de saúde. Graças à estabilidade tive tranquilidade para fazer meu tratamento com segurança e tranquilidade de que minha vaga estaria lá no retorno. Mas o retorno foi um pouquinho mais complicado, pois as coisas não param porque precisamos parar, elas seguem o seu fluxo e mudam. Precisei me colocar a par sobre as novas orientações enquanto buscava o meu ritmo de trabalho, ou melhor dizendo um novo ritmo.
Um diagnóstico de câncer é um marco. Sabemos que a morte é o destino de todos, mas vivemos como se ela estivesse muito, muito longe. E quando ela dá as caras, levamos uma rasteira, perdemos o chão por um tempinho. Ela nos joga na cara que não temos controle sobre nada. Depois, como diz a música, levantamos, sacudimos a poeira e damos a volta por cima. Aprendemos a lidar com cada situação conforme ela se apresenta. Para mim, pessoalmente, esse momento chegou aos 49 anos.
Antigamente receber um diagnóstico de câncer era quase um atestado de óbito, hoje não é mais assim. Sempre tive medo do câncer, pois ele já levou familiares, amigos e colegas. Mas à medida que fui me esclarecendo sobre minha situação com os profissionais que me trataram fui ganhando mais segurança. Também busquei informação e troquei experiências com diversas pessoas em redes sociais, tentando encontrar o que pudesse auxiliar no tratamento e prever o que podia esperar a cada fase como boa ansiosa que sou. Aprendi nesse caminho que cada caso é um, mas também quero crer que nessas trocas ajudei muitas mulheres a não desesperar nos primeiros dias de tratamento.
O comprometimento com o tratamento, a ajuda psicológica e o apoio do namorado, familiares e amigos, foram importantíssimos durante minha jornada. Já ouvi de muitas pessoas que fui forte e corajosa diante da doença e sempre respondo que elas também seriam. Quando a situação se apresenta, descobrimos a força que temos, a coragem vem na carona. Cada um passa o que tem que passar e a fé ajuda bastante.
Por outro lado a ansiedade atrapalha muito. Apesar de ser constante em várias fases do tratamento em maior ou menor intensidade, foi ao final da quimioterapia que ela teve seu ápice. Fui tomada por um sentimento de desproteção. Hoje ela aparece durante os períodos de revisão. Faz dois anos que fiz a cirurgia e tenho esperança que esse sentimento vá abrandando com o passar do tempo e ao passo que aprenda a lidar com ela.
Na minha fantasia de pós-tratamento, a vida voltaria ao normal como se nada tivesse acontecido. Mas o que é normal? Como voltar ao que era, ignorando tudo que me aconteceu? Não tem como. Um ano após a cirurgia tive linfedema (acúmulo de linfa nos tecidos que resulta em um inchaço). É mais uma situação para administrar. Ainda estou descobrindo meu novo normal, o que ainda posso fazer e, principalmente, o que não posso.
De tudo fica o enorme aprendizado, em especial sobre autoconhecimento e autocuidado e, sobretudo, a gratidão pela vida. Foi uma aventura e tanto, e cresci muito com ela.“
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