O ano de 2023 começou com muitos solavancos e uma grande crise de confiança no mundo corporativo das empresas de capital aberto. E o mais surpreendente, em empresas com desenho estrutural robusto de uma Governança Corporativa. O caso Americanas, sobrevindo de outros de menor surpresa, como Oi, Light e outros movimentos em empresas varejistas, como a notícia de reestruturação das Lojas Marisas anunciados a nesta semana, abalaram e continuam abalando a confiança do modelo de capitalismo tradicional lastreado no lucro a qualquer custo para os shareholders e do atual desenho de governança implementado.

Este cenário nos leva a reflexões e ponderações do que precisa ser feito de diferente para restabelecer a confiança dos investidores. No início de minha carreira, em que era sênior de uma das maiores e mais respeitadas empresas de auditoria do mundo, vivenciei sua morte decorrente de crise de confiança por conta do icônico caso Enron de manipulação de livros contábeis, em momento concomitante a outros casos semelhantes. Isso culminou na promulgação do Ato Sarbanes-Oxley, que regulamentou o ambiente de controles das empresas e as responsabilidades de seus executivos e administradores, conselheiros e auditores para empresas com ações listadas na bolsa nos EUA. Na mesma linha foram promulgadas várias outras regulamentações em outros mercados.

Fatores críticos

Deste evento até os dias de hoje, considerando as cadeiras e posições que já ocupei nas diversas frentes de finanças, desde operação na 1ª linha de defesa, controladoria na 2ª linha e auditoria na 3ª linha de defesa, identifiquei alguns dos fatores críticos que podem trazer indícios se algo está sendo conduzido de forma inadequada e tóxica.

  1. Cultura organizacional e estilo de gestão, analisando especialmente os impactos e
    percepções de funcionários e fornecedores, além da situação contingencial em relação às obrigações administrativas e tributárias.
  2. Resultados e indicadores financeiros com análises tanto sob a ótica concorrencial como histórica evolutiva da empresa.

Em geral, um dos dois fatores, quando não os dois, demonstra sinais e reflexos de gestão agressiva e de alto risco ao negócio. E o que explicaria uma estrutura robusta de governança corporativa existente se não conseguir identificar e atuar?
Minha leitura aliada a minha experiência traduz que esta “cegueira” decorre primeiro de uma visão centrada no lucro do shareholder, acompanhado da relação de poder e dependência, tanto no quesito de satisfação das necessidades financeiras do ponto mais fraco, como no que toca à satisfação do alter-ego do ser humano, que quanto mais ganha, ou mais reconhecido é, maior é sua vontade.
Para endereçar este viés humano, algumas ações diferentes precisam ser colocadas em prática.

Minhas reflexões e provocações são:
i. perseguir de forma incansável um capitalismo consciente voltado ao propósito do negócio e ao equilíbrio do ganho de todos os stakeholders;
ii. reforçar e seniorizar a área de gestão de riscos, com uma estrutura de atuação e reporte independente, de modo a garantir leituras isentas frente a dados obtidos tanto internamente como externamente, atuação do comitê executivo e administrativo da organização para respostas assertivas a cada riscos levantado e monitoramento da efetividade dos controles implementados;
iii. regulamentar para que executivos e investidores, sejam obrigados a comprovar horas de
atuação em ações em prol da sustentabilidade ambiental e social, não apenas como marketing, mas como doacão e preocupacao genuína de criacao de um ecossistema de ganha-ganha-ganha, de modo a vivenciar com propriedade o PORQUÊ de ter ações efetivas alinhadas ao selo ESG e evitando o temido viés de “green washing”;

Estas reflexões e provocações estão lastreadas na minha experiência, assim como a troca de experiência de diversos outros conselheiros e executivos de finanças em discussões que tenho tanto no Board Club como com o grupo do W-CFO Brazil.

E neste sentido convido você acionista e investidor, a refletir sobre a importância de um olhar humanizado para a geração de lucros, assim como a trazer outras ponderações sobre o que ser feito de diferente para evitarmos a efetivação destes riscos financeiros, de reputação, credibilidade e quica de continuidade dos negócios que estamos vivendo hoje.

Regina Biglia é executiva de finanças associada ao W-CFO Brasil e com vivência 360º das áreas de finanças em grandes indústrias multinacionais dos segmentos de auditoria e consultoria, farmacêutico, alimentos e bebidas e de alumínio. Conselheira Consultiva associada ao Board Club e Advisor de startups e empresas familiares para contribuir com a sustentabilidade e prosperidade de negócios com sua sólida experiência em Governança Corporativa e histórico comprovado de sucesso na liderança para elevar o patamar da maturidade da governança local. É uma líder apaixonada por pessoas, explorando o melhor potencial de cada, e pelo mindset digital em que a tecnologia vem para facilitar a experiência do usuário. É coach e mentora com foco em Governança Corporativa e desenvolvimento de líderes para conectar mentes e organizações em alta performance. É uma pessoa comprometida com os aspectos sociais e de desenvolvimento do ser humano atuando enquanto palestrante e mentora em instituições sociais e escritora em coautoria de livros que promovem a inclusão e diversidade.
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