Embora o ESG seja um movimento corporativo que ganhou corpo nos últimos anos, o conceito de “negócios sustentáveis” (ou para usar uma expressão do século passado – negócios sólidos) não é nenhuma novidade e sempre esteve presente no pensamento estratégico das organizações. Não se falava em sustentabilidade, mas em perenidade dos negócios, o que no detalhamento apontava-se para os fatores de riscos e oportunidades a serem administrados. É óbvio que no horizonte de décadas atrás não se avistava os mesmos riscos de hoje, ou pelo menos, não com a mesma intensidade e velocidade. Mas os princípios da boa administração amplamente defendidos nos livros de gestão da época já apontavam esses cuidados. Peter Drucker (1909/2005), considerado o pai da administração já dizia que o maior objetivo de uma empresa é entregar valor à sociedade. E genialmente também dizia “A cultura come a estratégia no café da manhã”. Ou seja, os negócios nunca foram dissociados da realidade humana que se manifestam e reagem aos fatos de sua época. E isso interfere com força na sustentabilidade (e/ou perenidade) dos negócios.
Nessa mesma linha trafega o ESG com uma compreensão moderna e dinâmica que evolui continuamente para fazer frente aos desafios dos ventos contrários sociais, ambientais e políticos e cumprir seu papel de administrar riscos e criar valor aos stakeholders de uma sociedade cada vez mais fragmentada e exigente.
De Peter Drucker1 a Larry Fink2, a sustentabilidade dos negócios foi sendo moldada pelos acontecimentos de cada época, impulsionada pelo desenvolvimento da ciência, da tecnologia e dos modelos de vida em sociedade que afetam as organizações (e vice-versa), e definem a cultura empresarial.
A pandemia, os fenômenos climáticos, as disputas geopolíticas, as desigualdades sociais e outros fatores desafiaram os limites do ESG fazendo com que as empresas acelerassem o processo de transição CSR (Responsabilidade Social Corporativa) para ESG.
Segundo Akanksha Sharma, Global Head ESG and Digital Sustainability Practices na STL (Sterlite Technologies Limited), empresa integradora de redes digitais com sede na India, e reconhecida como uma das ‘Líderes ESG mais impactantes do mundo’, ‘Principais líderes de sustentabilidade da Ásia’, e ‘Jovem líder de RSC’, existem 4 grandes razões para que as empresas façam essa transição o mais rápido possível. São elas:
1) Foco aprimorado na criação de valor a longo prazo
As atividades convencionais do CSR na maioria das vezes são pontuais ou direcionadas a segmentos específicos, e nem sempre integradas com objetivos estratégicos de longo prazo que é o ponto focal do ESG. Além da abordagem holística do ESG que incorpora o social e ambiental a governança, e voltados para todas as partes interessadas e não apenas para segmentos específicos. Com essa visão a organização adota um modelo de gestão com hiperfoco na construção de valor a longo prazo para seus stakeholders, mitigando riscos e criando novas oportunidades de negócios.
2) Conexão com a evolução das expectativas dos stakeholders
Os stakeholders (investidores, colaboradores, fornecedores, consumidores, governos, sociedade civil, etc) estão cada vez mais segmentados e exigentes em relação as suas expectativas. Querem atitudes que gerem “confiança” nas empresas com as quais se relacionam. E essa “confiança” se constrói com transparência, práticas éticas e gestão responsável das organizações. Os relatórios ESG e as classificações dos investimentos sustentáveis são ações que objetivam comprovar a conexão da organização com as demandas da sociedade atual. Melhorando a reputação, a empresa aumenta suas chances de solidez, o que gera valor a longo a prazo e atende as expectativas dos stakeholders.
3) Mitigação dos riscos e aproveitamento de oportunidades
Os riscos advindos das mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, comércio justo e práticas trabalhistas humanizadas, além da conformidade legal e regulatória são apenas alguns dos exemplos que as empresas administram. E os princípios ESG contribuem com uma gestão proativa a minimização desses riscos, reduzindo a vulnerabilidade financeira ao mesmo tempo em que incentiva a inovação e prepara a resiliência da empresa em caso de disrupções futuras.
4) Acesso ao capital e confiança do investidor
Os investidores, um dos principais stakeholders de uma organização, querem adquirir “confiança” sobre o atendimento de suas expetativas com a empresa com a qual estão se envolvendo. E os fatores ESG são cruciais na tomada de decisão por reconhecer que empresas sustentáveis e responsáveis tendem a um desempenho superior no longo prazo. Os princípios ESG relatam as metas e o desempenho da organização de forma transparente dando essa “confiança” aos investidores, e assim melhorando muito as chances de acesso ao capital, que também é um fator de competitividade e geração de valor a longo prazo. É o chamado “ciclo virtuoso”.
A título de ilustração, abaixo um quadro comparativo dos principais pilares CSR e ESG
PILARES | CSR | ESG |
---|---|---|
Foco | Atividades filantrópicas de curto prazo | Criação de valor a longo prazo com práticas sustentáveis |
Expectativas das Partes Interessadas | Pode não atender às crescentes expectativas de transparência e responsabilidade | Atende às mudanças nas expectativas das partes interessadas com relatórios e indicadores de desempenho |
Gerenciamento de riscos | Pode não abordar todos os riscos de negócios | Identifica, avalia e gerencia sistematicamente os riscos de negócios |
Acesso ao capital | Pode não melhorar o acesso ao capital | Aumenta o acesso ao capital por meio da adoção de práticas ESG e relatórios transparentes |
Impacto a longo prazo | Fornece benefícios sociais imediatos, mas não necessariamente sustentáveis a longo prazo | Contribui para a criação de valor a longo prazo, fomentando uma economia global inclusiva e resiliente |
Fonte: Akanksha Sharma, Global Head ESG na STL |
A transição CSR para ESG é uma decisão da empresa que demandará disposição, liderança e investimento. Mas no entendimento dos que atuam com sustentabilidade e acompanham a linha do tempo da gestão empresarial sob a ótica da criação de valor a longo prazo, será determinante para a perenidade do negócio.
Os princípios ESG são os mais eficientes para conquistar a “confiança” dos stakeholders pela abordagem holística com que se constrói a visão de mundo e a conexão da empresa com as demandas desse mundo cada vez mais dinâmico e complexo. Se colocados em prática alinhados com sua essência (criação de valor a longo prazo para todas as partes interessadas), será possível a construção de uma economia global mais inclusiva e resiliente. E isso, será bom para todos.
- 1Peter Drucker foi um escritor, professor e consultor empresarial de origem austríaca, considerado pai da administração e da gestão moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores sobre os fenômeno da globalização e seus impactos na economia e em particular nas organizações.
- 2Larry Fink é um cientista político, empresário e financista estadunidense. Um dos fundadores e atual CEO da BlackRock, uma multinacional americana de gestão de investimentos.
Fontes:
- https://indiacsr.in/csr-to-esg-4-great-reasons-driving-businesses/
- https://yoy.cool/en-us/esg-csr-envrionmental-social-governance-corporate-social-responsibilty
- https://www.goodlabs.uk/good//from-csr-to-esg
Sobre BISA Certifica:
Benchmarking Inteligência Sustentável – BISA é resultado do aprimoramento do Programa Benchmarking Brasil que ganhou inteligência para otimizar os recursos técnicos gerenciais de avaliação, certificação e comparabilidade das melhores práticas de sustentabilidade. Com o incremento das novas tecnologias somado a um colegiado de especialistas de vários países, BISA ganha robustez na gestão das boas práticas e passa a fornecer um conjunto de serviços e dados para que as organizações possam conduzir seus negócios em alinhamento com as agendas ESG (Environmental, Social, and Governance) e SDG (Sustainable Development Goals). Saiba mais em www.bisacertifica.com.br