A projeção de alta da Taxa Básica de Juros (Selic) até o final deste ano – já projetada em 4,5% por boa parte dos analistas de mercado – mexe diretamente com o quebra-cabeças das aplicações nos Títulos do Tesouro. Na semana passada, após seis anos, o Banco Central do Brasil (BC) decidiu subir o juro, levando para 2,75% ao ano. Como a perspectiva é de novas elevações, analistas afirmam que ganham atratividade alguns títulos pós-fixados, e perdem aqueles com taxa já contratada na aplicação.
A opção para quem aposta na alta da Selic é o Tesouro Selic, que remunera conforme o valor corrente do juro estabelecido pelo BC. Atualmente, o Tesouro Nacional vende estes títulos para vencimento em 2024 e 2027, com uma pequena bonificação acrescida à Taxa Selic. Uma das vantagens em relação aos outros títulos públicos é que a liquidez é imediata e não há a marcação a mercado. Por isso, são indicados para compor a reserva de emergência como substitutos da Caderneta de Poupança.
“O ideal sob a perspectiva da alta na Selic é procurar indexadores flutuantes, pois taxas pré-fixadas não são aconselháveis. Nas taxas flutuantes, pode ser utilizado nos juros o percentual de CDI ou do IPCA+”, explica Luiz Fernando Carvalho, estrategista da Ativa Investimentos. Quanto à variação da Selic, ele avalia que o cenário macroeconômico é desafiador, o que dificulta a tomada de decisão por parte do Banco Central. “Apesar da tentativa de controle da alta inflacionária, o agravamento da crise sanitária da covid-19 deve desaquecer muitos setores da economia, que poderiam ser beneficiados por uma taxa de juros mais baixa”, complementa.
Esta alta da inflação mencionada por Carvalho também deve ser levada em conta ao se escolher um título público. O Tesouro IPCA+ (com ou sem juros semestrais) é um caminho indicado para preservar o poder de compra, desde que haja condições de manter o dinheiro aplicado por um prazo mais longo. O título garante a reposição da inflação oficial e mais um bônus para quem não resgatar antecipadamente. Atualmente, para o título mais curto (com vencimento em 2026), o Tesouro Nacional paga um bônus de 3,20% ao ano. No mais longo (vencimento em 2055), o bônus anual sobe para 4,27%.
O consultor financeiro Ricardo Natali, especializado em investimentos pessoais, lembra que desde o final de fevereiro as cotações do Tesouro Direto no mercado secundário e também o juro oferecido na primeira venda têm subido com algum fôlego. Isso ocorreu tanto no Tesouro Prefixado quando no Tesouro IPCA+, que em fevereiro passaram a garantir uma remuneração superior à de janeiro.
A explicação está no risco-país mais elevado, explica Natali, em razão da insegurança dos mercados em relação à situação fiscal do Brasil. “Mas vale ressaltar que o Tesouro Direto continua sendo a aplicação mais segura do Brasil, já que nunca existiu nenhum tipo de calote na dívida interna”, afirma o especialista. “Por isso, o Tesouro vale a pena como diversificação e estratégia de longo prazo”, reforça.