Ou os habitantes deste lindo e outrora bucólico planeta param de cometer o ecocídio e cuidam efetivamente de manter uma postura ética em relação aos recursos naturais do planeta, promovendo a redução drástica das emissões de Gases do Efeito Estufa – inclusive e principalmente! –, ou daqui a pouco não vai dar mais tempo. E pense nisto também: vai adiantar pouco você fechar a torneira para escovar os dentes se a população mundial crescer 1 bilhão a cada 12 anos. Com estatísticas, balanços e discursos enganam-se pessoas, não a natureza – a coisa mais pragmática que existe.
Para consertar o acúmulo de bobagens que temos feito nos últimos tempos a tarefa é gigantesca. Não há passe de mágica que resolva, mas planejamento. É preciso avançarmos além do acordo de Paris (de 2015) e iniciarmos o processo de recuperação ambiental – e social – de forma imediata. “Descarbonizar o planeta” parece o caminho. A concentração de Gases do Efeito Estufa (GEE) era inferior a 300 ppm (partes por milhão) no início do Século XX, calcula a NASA, enquanto hoje o nível está em 411 ppm (com todos os solavancos econômicos ocorridos desde o final do século anterior). Para quem estuda o assunto, a curva de Keeling ajuda a enxergar melhor o estrago.
Enquanto as lideranças internacionais não têm a necessária coragem de colocar a questão da natalidade na pauta, ainda que seja para uma discussão preliminar, há que se considerar a matriz energética das principais economias (ao menos estas). Aí sim temos expertise nas conversações: reduzir/eliminar a queima de combustíveis fósseis é tarefa urgente. E isto não pode depender de um governo negacionista aqui ou acolá, tentando justificar as aceleradas mudanças climáticas como algo “cíclico e natural”. Também não dá para vincular o fornecimento de gás natural a todo um continente aos humores do vendedor, a fim de substituir a queima de carvão.
O Brasil, que tanta penaliza a sua rica mata (e assim dá a sua contribuição de emissão de carbono, via incêndios), tem por outro lado uma boa matriz energética. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o país consome 83% de energia de fontes renováveis (sendo mais de 2/3 de usinas hidrelétricas) enquanto a média mundial é de 14%, com o uso do carvão absurdamente exagerado nos campeões mundiais de GEE: China e Estados Unidos. Visto de forma separada, o bloco da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem apenas 9,7% da matriz energética renovável.
O momento, no entanto, é mais de atenção que comemoração abaixo da linha do Equador. Isto porque o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, defende a reativação da chamada indústria carbonífera (instalada, basicamente, na região Sul). Ano passado deveriam ter ocorrido dois leilões no setor (A-4 e A-5), mas a pandemia brochou a iniciativa do imbrochável governo, como diz o seu chefe maior.
Em tempo: de cada 10 painéis solares produzidos no mundo, seis têm o carimbo “Made in China”. Alto lá, não se deixe levar pelo entusiasmo, porque a mesma China que até 2050 terá o dobro dos painéis solares instalados nos Estados Unidos, somente no primeiro semestre de 2020 aprovou projetos de novas usinas a carvão que somam aproximadamente 17 GW. Com isto a capacidade total é de 249 GW no gigante asiático. Considerado o maior vilão dos carbonos na atmosfera, o carvão tem participação de 4% a 5% na matriz brasileira, 13% nos Estados Unidos, 35% na Alemanha e 72% na China.
Parafraseando os antigos que gostavam de lançar ditos populares: é fundamental termos um olho no peixe e outro no gato.
CONVERSÃO
A Ambev está convertendo 102 caminhões com motor a diesel em elétricos. Testado desde o ano passado, em dois veículos, o modelo deu certo. A parceria da Ambev é formada com a Enel X (divisão da distribuidora de mesmo nome, que atua em soluções de energia) e a Eletra (fabricante de ônibus elétricos).
Segundo os testes, os convertidos emitem 0,5% kg de CO2 por viagem, o que se considera emissão zero. O consumo médio é de 1 kWh por KM. Na ponta do lápis, é uma economia superior a 70% em relação ao modelo movido a combustível fóssil.
ALGO MAIS
“Qualidade e preço não são mais os únicos atrativos na decisão de compra” – disse Eduardo Lacerda, CEO da Ambev Brasil, sobre sustentabilidade. E acrescentou uma importante informação: hoje 50% dos empregados da companhia são negros. “Quero trazer o tema responsabilidade social para a pauta, pois todos precisamos evoluir”.
Ao lado de Gustavo Estrella (CEO da CPFL), João Paulo Ferreira (presidente da Natura&Co na América Latina) e Walter Schalka (CEO da Suzano), ele participou do debate “Sustentabilidade das empresas no período pós-pandemia”, pilotado pelo jornalista Fernando Rodrigues, do Poder 360.
RENOVÁVEL
No mesmo evento (acima), Gustavo Estrella classificou o consumidor hoje de mais exigente, ligado na questão do carbono e energia renovável, entre outros. “Nosso mercado vive uma profunda transformação”, constatou.
O colega JP Ferreira, depois de destacar os capitais social, humano e ambiental, enfatizou: “É mais importante gastar do que falar”. De outro lado, Schalka tratou de falar sobre árvores e suas múltiplas utilidades e pregou atitudes imediatas para a reversão das mudanças climáticas.
RISCOS
TCFD e Gestão de Riscos Climáticos é a temática da webinar que a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) promoverá no próximo dia 17.
Sigla em inglês da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima, o TCFD será debatido por Guilherme Teixeira e Tatiana Assali, da Sitawi Finanças do Bem, tendo a advogada Caroline Prolo como mediadora. Ideia é mostrar que uma gestão de clima bem feita pode agregar valor e, assim, atrair investidores para o negócio.
INVESTIMENTOS
A CPFL contabilizou investimentos totais de R$ 236,9 milhões durante o ano de 2020 nos Programas P&D e de Eficiência Energética. Ambos regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Destes, R$ 164 destinaram-se à eficiência energética (como CPFL nos Hospitais, Bônus Geladeira e Projetos de baixa renda) e R$ 72,9 milhões em 48 projetos de desenvolvimento de tecnologia e inovação.
HOSPITAL
O governo do Maranhão fez parceria com a Suzano e inaugurou, na semana anterior, hospital de campanha com 60 leitos, sendo 10 de UTI. Trata-se de mais um esforço no combate à Covid-19.
A companhia investiu R$ 2,8 milhões na estrutura do hospital e, adicionalmente, doou 233.280m3 de oxigênio. Desde o início da pandemia, a Suzano cedeu 32 respiradores, 70 mil máscaras, 50 mil litros de álcool, fardos de papel higiênico e fraldas descartáveis.
Agora a manutenção e operacionalização da nova unidade está por conta do governo estadual.
CDP
O CDP América Latina, escritório regional do CDP Global, organização internacional sem fins lucrativos que mede o impacto ambiental de empresas e governos de todo o mundo, comunica mudanças em sua direção. A executiva Rebeca Lima, até então Gerente Sênior de Corporações e Cadeias de Suprimento da instituição, assume o posto de diretora executiva do CDP América Latina.
Formada em engenharia florestal e mestranda em Finanças e Economia, Rebeca está há quase cinco anos no CDP América Latina e possui experiência em sustentabilidade, gestão corporativa de questões ambientais, sociais e de governança (ESG), estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, mercado de carbono, política climática e investimentos responsáveis na América Latina. Ela substitui Lauro Marins, que esteve durante sete anos no CDP.
ENERGIA
A Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) elegeu novo Conselho de Administração para o biênio 2021-2023. O evento foi realizado de forma virtual e reelegeu Ricardo Lisboa como presidente.
Fazem parte do novo órgão: Ricardo Lisboa (Delta), Paulo Tarso (Vivaz), Alessandro de Brito Cunha (BC), Daniel Marrocos (Newcom), Eduardo Diniz (Votorantim Energia), Camila Schoti (Eneva), Paulo Toledo (Ecom) e Ricardo Motoyama (CPFL Soluções).
UNIVERSIDADE
O Grupo Dimed lança a sua Universidade Corporativa (Uni.D), a fim de potencializar a capacitação de seus 6 mil funcionários, nos vários níveis.
Para iniciar o projeto serão instaladas quatro escolas: Lideranças, Farma, Vendas e Processos.
MULHERES
O IRB-Brasil Resseguros foi certificado pela Women on Board (WOB), associação que reúne um grupo de executivas, conselheiras, advogadas e empresárias engajadas na promoção da mulher a postos com tomada de decisão. A companhia recebeu um selo por contar duas mulheres em seu Conselho de Administração: a ex-ministra (e primeira mulher presidente do STF) Ellen Gracie Northfleet e a ex-CEO da S&P Global Ratings no Brasil e na Argentina, Regina Helena Jorge Nunes.
A entidade foi criada em 2019, com o apoio da ONU Mulheres, e já certificou 27 empresas de capital aberto, fechado e organizações no Brasil.
SEGUROS
Em meio ao mar de incertezas, de 2020, a Generali apresentou resultado positivo pelo segundo ano consecutivo e aposta em uma política mais agressiva de dividendos (proposta por ação de 1,47 euros, dividida em duas parcelas de 1,01 euros e 0,46 euros, respectivamente), absorvida pelos investidores. O resultado operacional foi de 5,2 bilhões de euros, com um total bruto de prêmios de 70,7 bilhões de euros.
FERROVIA
A Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), controlada pela VLI, anunciou o balanço operacional relativo ao ano de 2020 com números positivos. Segundo a companhia, o resultado indica o aumento na eficiência dos processos, resultantes dos investimentos aportados pela controladora ao longo dos últimos anos.
No ano passado a companhia movimentou 39,08 milhões de toneladas, contra 35,95 milhões no ano anterior – representando crescimento de 8,6 % no período. Se comparado o período entre 2016 e 2020, o fluxo de cargas cresceu 28,8%. A receita líquida destas operações saltou de R$ 2,41 bilhões em 2019 para R$ 2,68 bilhões em 2020, com alta de 11%.
SILÊNCIO
A M. Dias Branco entra em período de silêncio a partir deste dia 16, e até dia 31, quando fará sua teleconferência de resultados do 4T20.
A webcast, com investidores, ocorrerá em 1º de abril.
EMBRAER
A Embraer, que entrou no quiet period no dia 8 último, anuncia para o dia 19 próximo a sua divulgação de resultados do 4T20.
BRA 21
O Banco Bradesco anuncia a divulgação de resultado do 1T21 para o próximo dia 4 de maio.
POUP
A rentabilidade da poupança, descontada a inflação (IPCA), no mês de fevereiro foi negativa em 3,21%. De acordo com a Economática, desde setembro de 2003 não se via tamanho tombo.
O Ibovespa rendeu 0,41 % dos 12 últimos meses mas perdeu 5,19% no mês de fevereiro último.
ARTIGO
ESG: muito além de siglas
(*) Marcelo Bacci
A questão ESG – Environmental, Social and Governance – ganhou espaço fixo na agenda do mercado financeiro. Importantes empresas em todo o mundo têm atualizado seus modelos de atuação e seus propósitos corporativos, incorporando a eles compromissos que extrapolam a antiga visão voltada aos acionistas. Hoje, o valor das empresas está diretamente relacionado aos compromissos que elas assumem com colaboradores, clientes, fornecedores e demais públicos de relacionamento, sempre com um olhar à contribuição que está sendo construída para as futuras gerações.
Como sabemos, o conceito não é novo e a sigla já está bem conhecida no mercado. Mas por que só agora as estamos vendo por toda a parte? A resposta pode ser dividida entre percepções imediatas e de longo prazo. A pandemia colaborou para acelerar esse processo, porque tivemos que alterar a nossa visão em relação aos cuidados com o planeta e seus moradores. Neste cenário, as mudanças no perfil do investidor também passaram por um processo de transformação ainda mais acelerado. O olhar vai além do lucro e prioriza a contribuição para sociedade e para o meio ambiente, assim como a perenidade do negócio diante de incertezas. Afinal, quem imaginava, ao celebrar o início de 2020, que enfrentaríamos semanas depois o início de uma pandemia global?
Já quando pensamos no olhar de longo prazo, é natural que as empresas que desejem estar alinhadas às tendências de mercado se adaptem ao perfil de seus clientes, parceiros e, obviamente, do investidor. Segundo a pesquisa de Morgan Stanley, 86% dos millennials se interessam por investimento sustentável, ou seja, investimento com propósito é um bom negócio. As companhias que adotam práticas sustentáveis geram valor a longo prazo para o acionista, pois demonstram estar mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais.
Na Suzano, maior fabricante de celulose do mundo, seguimos o direcionador de cultura de que “Só é bom para nós se for bom para o mundo”. Essa frase está intrínseca em todas as nossas iniciativas e exemplifica como praticamos o ESG no dia a dia. Cito como exemplo a emissão de Sustainability-linked bonds, títulos de dívida atrelados a metas de sustentabilidade, até então inéditos nas Américas. Realizamos duas emissões em 2020 e, como resultado, ampliamos a participação de investidores focados em ESG em nossa base acionária e alcançamos a menor taxa de juros para uma emissão de 10 anos na história do Brasil. Ou seja, há um vasto mercado a ser explorado e a demanda por esses títulos comprova a grande aceitação dos investidores a este tipo de papel e a crescente conexão entre finanças e ESG.
O modelo de negócio associado à responsabilidade social contribui também para a credibilidade da reputação da empresa. De acordo com o relatório da BoF & McKinsey, há uma estimativa que 60% dos millennials consomem marcas que possuem forte responsabilidade social e ambiental. Estamos lidando com um público que debate o consumismo, condena a degradação ambiental e luta cada vez mais por justiça social e, por essa razão, se quisermos que essa geração consuma nossos produtos, precisamos compartilhar dos mesmos valores.
E é neste ponto que as percepções de curto (pandemia) e longo (novo olhar dos investidores) prazos, citadas anteriormente, se conectam. O investidor é também um consumidor, e esse consumidor pode ser também o acionista da empresa. Ou seja, o ESG se sustenta em um caminho que é único e sem volta, assim como já foram no passado os cuidados das empresas com a qualidade ou com as boas práticas com seus funcionários ou colaboradores.
Para a conquista de credibilidade junto aos consumidores e stakeholders, fazem-se necessários transparência e estabelecimento de metas atingíveis. A história da companhia tem que fazer jus às suas promessas ou será facilmente acusada de greenwashing (em inglês, lavagem verde), uma propaganda sustentável enganosa que poderá tornar a empresa alvo de uma crise de imagem. E, como sabemos, a análise dessas práticas acontece por um número cada vez maior de pessoas mais engajadas no tema, o que é ótimo.
O momento histórico que vivemos – uma pandemia de escala mundial e um País que atinge o recorde diários de mortes – nos mostra que nada mais será como antes. E as empresas que sobreviverão serão aquelas que assumirem o papel de agentes de transformação em direção a um mundo cada vez mais ESG.
(*) Marcelo Bacci é Diretor Executivo de Finanças, de Relações com Investidores e Jurídico da Suzano.