Carnaval fora de época me remete em saber como será a sensação de dançar em uma avenida. O ano era 2015 e eu, carioca, planejava desfilar na minha escola de samba do coração no ano seguinte. Contudo, após um acidente, me tornei PCD, com perda da função motora da perna direita.

Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 8,4% da população brasileira é PCD – o que representa 17,2 milhões de pessoas. Destas, 10,5 milhões são mulheres (9,9%), frente a 6,7 milhões de homens (6,9%). O levantamento ainda aponta que a inclusão de PCD no mercado de trabalho ainda é um obstáculo. Apenas 28,3% delas, em idade de trabalhar (14+ anos), se posicionam na força de trabalho brasileira.

Mesmo com a Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213/91), a realidade é outra. Meu retorno ao trabalho, após o acidente, foi cercado de diversas dificuldades. Dentre elas, acessibilidade. Munida de muletas, o ambiente de trabalho não estava preparado para mim: mesa, cadeiras, piso escorregadio, e o banheiro não-adaptado.

Em um certo dia, eu recebo a ligação de uma headhunter sobre uma oportunidade em uma grande multinacional. A conversa fluiu muito bem até o momento que comentei que eu havia me tornado PCD. Ela me fez duas perguntas: A primeira, foi como eu me vestia de “executiva” sem um salto alto. A segunda, como eu ia viajar de avião em trajetos intercontinentais.

Passei a me envolver em projetos de inclusão e diversidade e vi que existem sim profissionais PCD muito bem qualificados – o que faltam são oportunidades genuínas. Alguns inclusive me relataram que só evoluíam em processo seletivo quando omitiam que eram PCD. Ou seja, se você comenta que é PcD, você “samba” no processo seletivo ? E quando houver uma intersecção entre racismo, capacitismo e etarismo? Complicou de vez?

As empresas deviam se espelhar nas escolas de samba na escolha do samba-enredo. De fato há uma richa entre as alas de compositores para saber quem será o vencedor. Mas quando determinado samba-enredo é o escolhido para a apresentar na avenida, minha gente, é todo mundo cantando junto, se apoiando, se incentivando, independente de raça, religião, deficiência, classe social, opção sexual. Inclusive há uma ala para os PCDs. As escolas de samba são inclusivas.

O carnaval acabou e tomara que muitas empresas tirem suas máscaras. Não é necessário viver de fantasia. Que possamos ter liberdade na vida corporativa para sermos quem somos. “Liberdade, Liberdade! Abra as Asas Sobre Nós”.

Patrícia Albuquerque

É CFO com atuação voltada a negócios e especialista em processos de Start-up, M&A, turnaround e estabilização de processos, atua em Gestão Financeira e trabalha com Planejamento Financeiro e Modelagem Financeira há mais de 25 anos, atuando em empresas dos segmentos de Biotecnologia, Farmacêutico, Commodity & Bens de Consumo (Açúcar), Tecnologia/Entretenimento, Telecomunicações e Óleo & Gás. Nos últimos anos tem se dedicado ao “S” do tema ESG, com especialização na área, e atuação com fundos de investimento. Apaixonada por esportes e música, acredita que são dois fortes aliados para transformação social.

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