No último século, 57 mulheres foram presidentes e primeiras-ministras de seus países, mas as instituições que tomam as decisões econômicas foram controladas por homens até recentemente. No geral, há mulheres no comando de ministérios das finanças em 16 países e em 14 bancos centrais, de acordo com um relatório anual do Think Tank OMFIF.
No governo Joe Biden, mais recente presidente eleito nos Estados Unidos, 48% do gabinete é composto por mulheres, que representam alguns dos cargos mais importantes na maior economia do mundo. Janet Yellen, Secretária do Tesouro; Lola Gina Raimondo, Secretária do Comércio; e Katherine Thai, representante comercial, são exemplos de um grupo feminino com cargos seniores.
Fora dos EUA, há Christine Lagarde, no Banco Central Europeu, com seu balancete de 2,4 trilhões de euros; Kristalina Georgieva, com US$ 1 trilhão para empréstimos no Fundo Monetário Internacional; e Ngozi Okonjo-Iweala na Organização Mundial do Comércio – posições ocupadas somente por homens há 10 anos.
O investimento do novo governo tem metas ambiciosas que poderiam servir de inspiração para muitas outras nações. Um plano de US$ 2,3 trilhões que inclui US$ 400 bilhões para custear a economia do cuidado, tarefas realizadas em casa ou nas comunidades, como os cuidados com crianças e idosos, trabalho normalmente realizado por mulheres que, até agora, passava despercebido e outras centenas de bilhões destinados a combater desigualdades raciais e desigualdades entre as zonas urbanas e rurais dos EUA.
A Secretária do Tesouro diz que o foco na infraestrutura humana e também o primeiro pacote anunciado por Biden, um auxílio de US$ 1,9 trilhão, devem resultar em melhorias significativas para as mulheres, cuja participação na força de trabalho atingiu o menor nível em 40 anos nos EUA, antes mesmo da crise.
Especialistas afirmam que mulheres líderes sempre trazem novas perspectivas para as políticas econômicas. “Quando você é diferente do resto do grupo, costuma ver as coisas de uma maneira diferente”, afirma Rebecca Henderson, professora da Harvard Business School. “Você tende a ser mais aberta a soluções diferentes. Estamos em um momento de enorme crise e precisamos de novas maneiras de pensar”, complementa.
“Quando mulheres estão envolvidas, a prova é muito clara: as comunidades ficam melhores, as economias melhoram, o mundo é melhor”, defende Georgieva, citando pesquisas do FMI e outras instituições. “Elas são grandes líderes porque mostram empatia e falam pelas pessoas mais vulneráveis. Elas são decisivas e mais empenhadas em chegar a um compromisso”.
Estudos sugerem que elas têm melhor histórico em períodos de crise
Um estudo da Associação Americana de Psicologia mostrou que os estados americanos com mulheres governadoras tiveram menos mortes por Covid-19 do que os liderados por homens. Já a Harvard Business Review publicou que as mulheres tiveram notas significativamente melhores nas avaliações de 60 mil líderes entre março e junho de 2020.
Elas são menos de 2% dos CEOs nas instituições financeiras e menos de 20% nos conselhos executivos, mas as instituições lideradas por elas mostram maior resiliência e estabilidade, aponta pesquisa do FMI.
Eric LeCompte, conselheiro da Organização das Nações Unidas e diretor executivo de uma organização sem fins lucrativos que trabalha pelo alívio de dívidas, diz que notou uma diferença clara durante uma reunião realizada com Yellen e lideranças cristãs e judaicas no mês passado:
“Tenho me reunido com secretários do Tesouro americano por 20 anos, e os pontos abordados por Yellen foram completamente diferentes. Em todas as áreas que discutimos, ela colocou ênfase na empatia e no impacto das políticas nas comunidades mais vulneráveis”. LeCompte diz que seus antecessores, todos homens, nunca utilizavam de palavras como “vulnerável”.
A recessão global relacionada à pandemia do coronavírus atingiu mais os grupos femininos, que formam 39% da força de trabalho global, mas somam 54% das perdas de emprego, segundo um estudo recente da consultoria McKinley. Trazer de volta essas mulheres pode crescer o PIB em 5% nos EUA, 9% no Japão, 12% nos Emirados Árabes Unidos e incríveis 27% na Índia, a maior democracia do mundo, de acordo com uma estimativa do FMI.
Katherine Tai, a primeira mulher não-branca a chefiar o Escritório do Representante de Comércio dos EUA, pediu à sua equipe para pensar fora da caixa, abraçar a diversidade e falar com comunidades que têm sido ignoradas.
Okonjo-Iweala, primeira mulher e primeira africana a chefiar a Organização Internacional do Comércio e primeira ministra das finanças da Nigéria, responsável por US$ 19 trilhões em trocas comerciais realizadas em 2019, afirma que responder às necessidades das mulheres é um passo importante na retomada da confiança nos governos e nas instituições globais.
“A lição é termos certeza que não conduziremos os negócios da forma costumeira”, diz. “Estamos tratando de pessoas, inclusão e trabalho decente”.
Com informações de O Globo, McKinsey, FMI e Harvard Business Review.