Caro Investidor!
Você é daquelas pessoas que curte uma liquidação do varejo no fim de estação? Para o consumidor sempre é bom comprar com algum desconto, mesmo que ele não seja grandes coisas. Uma ilusão que todo mundo vive com consciência. E se além disso, você é investidor de empresas varejistas, dessas que você também consome, talvez pense nos prejuízos que podem ocorrer no setor em tempos de juros altos. Pois bem, o mês de junho foi desafiador para o setor de Varejo na bolsa brasileira. A maioria das ações do segmento registrou performance negativa, um reflexo direto do aumento da taxa Selic.
A sétima alta consecutiva da taxa, que atingiu o maior patamar desde 2006, pressionou o mercado. Apesar de a economia e o mercado de trabalho demonstrarem resiliência, alguns indicadores já sinalizam uma possível deterioração em resposta a esse cenário.
No relatório setorial do BB Investimentos, os analistas apontam que contexto atual apresenta indicadores mistos para o Varejo em geral. “Ao mesmo tempo que o mercado de trabalho aquecido impacta positivamente a renda das famílias e impulsiona o consumo, fatores como a diminuição da concessão de crédito e o aumento da inadimplência preocupam as empresas do setor.”
De acordo com os analistas do BB, para este semestre, eles acreditam que o pagamento de precatórios e o consignado privado devem injetar um dinheiro extra na economia, o que tende a beneficiar as empresas de consumo, trazendo melhores perspectivas para a linha de receita. “Entretanto, o aumento dos custos deve impactar a rentabilidade e os reflexos da política monetária mais restritiva deve aparecer com mais força nos próximos meses, com algum desaquecimento sendo esperado”, comentam.
Na contramão do mercado
Em junho, segundo o BB Investimentos, as empresas de consumo foram na contramão do mercado e, em sua maioria, recuaram frente à taxa básica de juros para 15% a.a.
“Durante o mês, apresentamos o novo preço-alvo para RD Saúde ao final de 2025 em R$ 19,00, com manutenção da recomendação Neutra. No último dia 30, a Natura realizou seu Investor Day com foco, principalmente, em suas operações no Brasil e na América Latina, sem abordar os negócios da Avon International que, segundo os executivos, segue em processo de separação. A companhia reforçou que está retornando às origens e tem a marca Natura como o principal pilar de seu negócio em toda a América Latina. No mesmo dia, a Casas Bahia anunciou que, em Assembleia de Debenturistas da 10ª Emissão de Debêntures Simples, houve a aprovação da antecipação da janela de conversão das Debêntures da 2ª série, além da postergação do primeiro pagamento de juros das Debêntures da 1ª série para nov/2027, entre outros temas.”
Varejo ampliado avançou 0,3% em maio
Na análise do Itaú BBA, as vendas no varejo ampliado, 0,3% em maio, vieram abaixo das expectativas do mercado, mas acima da projeção dos analistas. “Nossa estimativa era mais conservadora em relação ao consenso, fundamentada em nosso indicador proprietário IDAT-Atividade, que sinalizava uma desaceleração no período.”
De acordo com o relatório, as principais divergências em relação à estimativa do time do Itaú vieram de ‘supermercados’, que tiveram desempenho melhor que o esperado, e do segmento de ‘atacadistas especializados em alimentos’, que ficou abaixo do previsto. “Tanto os itens sensíveis ao crédito (excluindo veículos) quanto os sensíveis à renda ficaram estáveis em maio, reforçando os sinais de desaceleração da atividade econômica.”
Índice do Varejo Stone (IVS): Varejo registra queda de 4,2% em junho
De acordo com o Índice do Varejo Stone (IVS), as vendas do comércio brasileiro apresentaram queda de 4,2% em junho. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a queda foi de 4,6%. No acumulado do primeiro semestre de 2025, o volume de vendas do varejo apresentou queda de 0,5% em relação ao segundo semestre de 2024.
“Os dados de junho reforçam a leitura de que a economia brasileira está passando por um momento de perda de fôlego. Apesar da taxa de desemprego continuar em queda e da criação de empregos formais, os números já apontam para uma possível desaceleração no ritmo do mercado de trabalho. Por outro lado, o consumo das famílias segue pressionado pelo alto comprometimento da renda com dívidas, o que impacta diretamente o varejo. A inflação continua em trajetória de desaceleração, mas isso parece estar mais relacionado à fraqueza da atividade econômica do que a uma melhora estrutural. O conjunto dos dados sugere que o cenário de desaceleração vem se consolidando, ainda que seja necessário acompanhar os próximos meses para confirmar essa tendência”, analisa Guilherme Freitas, economista e cientista de dados da Stone.
Setores sensíveis à renda e ao crédito – Na análise por perfil de consumo, os setores sensíveis à renda e os sensíveis ao crédito registraram desempenho negativo em junho, com quedas mensais de 3,7% e 3,9%, respectivamente. Na comparação anual, as retrações foram de 3,4% nos setores ligados à renda e de 5% nos mais dependentes de crédito. No acumulado do primeiro semestre de 2025, em relação ao segundo semestre de 2024, as quedas foram de 0,2% e 0,3%, respectivamente.
Índice de Comércio Digital – O comércio digital registrou queda de 4,5%, enquanto o comércio físico teve retração de 3,4% no mês. No comparativo anual, o digital também apresentou retração, de 10,6%, e o físico seguiu em queda, com recuo de 4%.
Segmentos – No recorte mensal, os oito segmentos analisados registraram queda em junho, reforçando o cenário de retração da atividade do varejo no mês. Os resultados negativos foram liderados pelo setor de Móveis e Eletrodomésticos, com recuo de 6,4%, seguido por Material de Construção (6,3%), Outros Artigos de Uso Pessoal e Doméstico (4,3%), Hipermercados, Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo (3,7%), Artigos Farmacêuticos (2,8%), Tecidos, Vestuário e Calçados (2,3%), Combustíveis e Lubrificantes (1,7%) e Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (0,3%).
Varejo alimentar
A inflação alimentar deu sinais de trégua em junho, conforme relatório da Genial, mas os próximos meses trazem uma combinação nada amigável: carnes em pico de preço, café ainda em crise e o fim do alívio vindo de tubérculos e frutas. “O inverno castiga a oferta de hortaliças, e a cesta alimentar — que havia ganhado fôlego — volta a pesar. Com grupos de grande peso, como carnes, bebidas e ovos, ainda pressionados, o índice deve acelerar novamente, reabrindo o gap frente ao IPCA cheio.”
No 2º trimestre de 2025, o subgrupo “Alimentação no Domicílio” manteve a trajetória de desaceleração, encerrando junho com uma inflação acumulada em 12 meses de +6,62% a/a, abaixo dos +7,42% a/a registrados em março. A perda de fôlego reflete um movimento de força deflacionária ampliada em alguns dos itens mais relevantes da cesta, somado à mudança de composição do consumo. Tubérculos, raízes e legumes, por exemplo, não apenas seguiram em forte deflação (-25,4% → -28,2%), como também ganharam peso na cesta, aumentando seu impacto desinflacionário. O mesmo ocorreu com frutas e cereais — categorias que também aceleraram o recuo nos preços.
Por outro lado, a inflação de proteínas continuou pressionada, com carnes ultrapassando os 20% a/a em diversos cortes. Ainda assim, o grupo perdeu participação relativa no IPCA (de 2,84% para 2,77%), o que ajudou a conter o impacto final.
A desaceleração só não foi mais intensa porque alguns itens inflacionaram mais e ganharam espaço na cesta: caso de bebidas e infusões, cuja inflação subiu de 20,7% para 23,4%, puxada principalmente pelo café moído, que já acumula alta de mais de 80% em 12 meses. A categoria também ganhou 12bps de peso, ampliando seu impacto no índice. O resultado final é um equilíbrio delicado entre deflações amplas em itens frescos e inflação persistente em itens de despensa.
“A razão entre a inflação alimentar e o índice cheio, que estava 41% acima da média no fim de março, caiu para 26% em junho — movimento suficiente para trazer essa diferença para um desvio padrão abaixo da média dos últimos 12 meses. Ainda assim, o movimento nos parece pontual, refletindo mais os efeitos sazonais do inverno do que uma reversão estrutural da tendência inflacionária no varejo alimentar.”
(Fontes: BB Investimentos; Itaú BBA; Stone; Genial)