Caro(a) leitor(a),
Esta semana, li o livro Alternativas do Brasil (Editora José Olympio), escrito por Hélio Jaguaribe (1923/2018), acadêmico de enorme prestígio, PhD pela Universidade de Mainz (Alemanha) e ex-professor de Harvard, Stanford e M. I. T.
O texto foi publicado em 1989, durante o governo Sarney, logo após a promulgação, pela Assembléia Nacional Constituinte, da Carta Magna de 1988, e ao longo do período angustiante da hiperinflação dos Anos Oitenta.
Jaguaribe culpa Sarney e o novo texto constitucional por vários males que atingiram o país naquela década, principalmente a deterioração moral que passou a prevalecer entre a classe política e o funcionalismo público em geral.
Segundo ele, a partir da entrada em vigor da Constituição de 1988, o Congresso passou a ter o poder e o presidente da República, a responsabilidade.
Ainda bem, digo eu. Já imaginaram se Luiz Inácio Lula da Silva pudesse governar sem ter de se submeter ao crivo do Legislativo?
Beneficiado pelos atos golpistas de 8 de janeiro, que lhe deram um sopro de alívio, Lula achou que era o tal.
Visitou a Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China, Portugal e Espanha. Compareceu à coroação de Charles III na Inglaterra e foi convidado para participar do G7 em Hiroshima.
Sentiu-se o todo poderoso, um líder mundial. Só lhe esqueceram de avisar que, além dos sete países que dão nome ao grupo, surgiram por lá, também a convite, Austrália, Índia, Coreia do Sul, Vietnã, Comores, Ilhas Cook e Ucrânia.
Lula se julgou capaz de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, embora não saiba nem um centésimo da relação entre essas duas nações ao longo dos séculos, sendo que durante um tempão foram uma só, tanto nos anos dos Tzares de Todas as Rússias, como na época da União Soviética.
Alguma coisa de seu profundo desagrado (quem sabe o puseram na mesa errada entre dois chefes de estado errados em um dos banquetes?) deve ter acontecido em Hiroshima, pois ele saiu de lá descendo o sarrafo na Europa e nos Estados Unidos.
Já lá se foi o tempo em que os militantes do próprio partido do presidente saíam às ruas gritando slogans antiamericanos e jogando pedra nos consulados.
Pois bem, seguindo em frente nessa, oops, narrativa, o presidente procurou reassumir a liderança da América do Sul. Reuniu em Brasília os chefes de estado do continente.
E começou prestigiando o pior deles, Nicolás Maduro, um blend de tiranete com chefe de gangue, que subjuga seu povo sem lhe trazer contrapartida material alguma, com exceção dos integrantes das milícias e forças bolivarianas, seja lá o que esse adjetivo significa.
Os demais venezuelanos se limitam a comer o que de pouco há nas gôndolas dos supermercados, ou a revolver latas de lixo, isso quando não vão embora do país, o que já aconteceu com seis milhões de pessoas, quase um quarto da população.
Resultado: os presidentes do Chile, Gabriel Boric, do Uruguai, Luis Alberto Lacalle, do Equador, Guillermo Lasso, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez, criticaram Maduro (e, por tabela, Lula) publicamente, fora os que devem ter feito isso em conversas particulares.
Quando, logo após tomar posse, Lula visitou a Argentina, na volta fez uma parada no Uruguai para tentar evitar que Lacalle assinasse um acordo comercial bilateral com a China, o que esvaziaria o bloco do Cone Sul.
Lacalle não respondeu na hora, mas é bem possível que o evento em Brasília o tenha feito tomar uma decisão. E não deve ser a que Lula quer.
Pois bem, perdendo rapidamente o prestígio que obteve na Europa e nos Estados Unidos ao assumir o governo (mais por causa da aversão quase que universal ao antecessor, Jair Bolsonaro), resta a Luiz Inácio Lula governar o país que preside.
É aí que ele se lasca todo.
Se vivo estivesse, acredito que o professor Jaguaribe já não lamentasse tanto, como faz em seu livro Alternativas do Brasil, o fato do presidente do Brasil, por força dos ditames da Constituição de 1988, ter seu poder extremamente limitado pelo Legislativo, limite esse que, julgo eu, logo se estenderá às altas cortes do Judiciário, uma vez que está se tornando óbvio que Lula perdeu o juízo (com minhas desculpas pelo trocadilho), se é que o teve em algum momento.
Logo no primeiro dia de governo, Lula assinou diversas MPs (medidas provisórias), entre elas uma que reorganizava o arcabouço (só para usar uma palavra da moda) ministerial deixado por Bolsonaro.
Estou escrevendo essa crônica antes da MP ser apreciada na Câmara. Há três possibilidades: ser aprovada pelos deputados, ser rejeitada ou deixarem que perca a validade à meia-noite de quinta-feira, dia 1º, para sexta, dia 2.
Ou seja, o presidente Lula pode estar perdendo várias guerras em diversos terrenos diferentes.
O interessante disso tudo é que o índice Ibovespa fechou em alta no mês de maio, tendo se valorizado quase quatro por cento.
Pois é, nem a B3 está dando muita pelota para o que Lula fala ou faz. E vejam que ele governa (será que governa mesmo?) há apenas cinco meses.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna