Durante os 65 anos nos quais operei no mercado financeiro, acompanhando tendências e cotações, apenas umas dez vezes afirmei com convicção que um bull ou um bear market estavam se iniciando.
Dessas dez, acertei oito ou nove.
Pois bem, o mais audacioso desses vaticínios ocorreu após o primeiro pregão da B3 em 2019, quando escrevi em minha coluna Warm Up Pro, aqui mesmo na Inv (que então se chamava Inversa), uma crônica intitulada “O Ibovespa já fez a mínima de 2019”.
E realmente a Bolsa naquele ano jamais voltou a repetir as cotações daquele pregão.
O motivo pelo qual fui tão atrevido é que Jair Bolsonaro, em seus discursos de posse, tanto no Congresso Nacional como no parlatório do palácio do Planalto, falou repetidas vezes sobre temas liberais como “mais Brasil e menos Brasília” e privatizações em massa.
Se ele cumpriu ou não o que disse (mesmo porque um ano depois surgiu a Covid que alterou todo o cenário brasileiro e mundial), não interessa.
O que importa é que assegurei que 2019 seria um ano de alta permanente na Bolsa, e foi isso que aconteceu. Quem acreditou em meus escritos e comprou ações, ou alavancou nas compras, encheu as burras de dinheiro.
Passando agora para o presente, acho que nos próximos meses o mercado de ações vai subir, subir muito. Há fundamentos sólidos para isso.
No Brasil, a inflação vem caindo lenta mas consistentemente.
Em janeiro deste ano, a inflação (medida pelo IPCA) foi de + 0,55%. Quanto ao número acumulado nos últimos doze meses era de 5,87%, mais de um por cento acima da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional: 4,75%
Em outubro agora, a inflação caiu para menos da metade: 0,24%. Já a acumulada de 12 meses se reduziu a 4,82%, ainda uma merreca além da meta. Só que o boletim Focus da última 2ª-feira, estimou a inflação de 2023 em 4,59%, portanto abaixo do teto estipulado pelo CMN.
Depois de aumentar, em etapas regulares como sempre, as taxas anuais de juros de 2% a.a. (a menor de todos os tempos estipulada pelo COPOM – Comitê de Política Monetária do BC) para demolidores 13,75%, o colegiado já fez três reduções de 50 pontos (meio por cento): 13,25%, 12,75% e 12,25% (a atual).
Tudo indica (e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já mencionou isso várias vezes) que essas reduções de meio por cento continuarão a ser feitas nas próximas reuniões.
Animado com essas perspectivas, o mercado brasileiro de ações começou a subir. Mas faltava estimar o que aconteceria nos Estados Unidos.
Pois bem, na terça-feira 14 de novembro, o Bureau of Labor Statistics (Estatísticas do Departamento do Trabalho) revelou que o CPI – Consumer Price Index – Índice de Preços ao Consumidor) nos últimos 12 meses fora de “apenas” 3,2%, meio por cento abaixo dos dados divulgados no mês anterior: 3,7%.
Como Jerome Powell, chairman do FED (Federal Reserve Bank – Banco Central dos Estados Unidos) vem repetindo a todo momento que faz questão de abaixar a inflação americana para dois por cento ao ano, e parece que isso agora tem tudo para acontecer, o mercado de ações experimentou um tremendo bull run na terça-feira, dia 14, e não devolveu o ganho no dia seguinte, como tem acontecido.
Como os profissionais de mercado sabem, os preços sempre se antecipam aos acontecimentos. É por isso que acredito que a largada do bull market aconteceu esta semana.
No Brasil, as taxas de juros dos títulos de renda fixa ainda estão extremamente atraentes, por sinal as mais altas do mundo. Só que, além delas estarem caindo, a renda variável quando sobe não encontra concorrentes.
Daí meu otimismo.
Contribui para isso o fato do Conselho Monetário Nacional (composto por Roberto Campos, Fernando Haddad e Simone Tebet) ter fixado uma meta inflacionária de 3% a.a. (Lula ameaçara com, no mínimo, 4%) e que o presidente esteja começando a aceitar o déficit orçamentário zero em 2024, para que a Bolsa suba com forte empuxo, inclusive não raro deixando gaps de um dia para o outro.
Outra ocasião inesquecível para mim, foi em 1968, logo após ter chegado dos Estados Unidos, onde cursei Mercado de Capitais na NYU (New York University).
Comecei a operar na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (na ocasião, a mais importante do país) e encontrei oportunidades quase inacreditáveis.
As ações do Banco do Brasil, por exemplo, estavam sendo negociadas com PL 1 (o preço era igual ao do lucro anual). Como o BB, havia outros papéis quase de graça.
Isso porque a dupla Campos/Bulhões (respectivamente ministros do Planejamento e Fazenda do governo Castelo Branco) tinha praticado uma política monetária extremamente hawkish (contracionista) para liquidar a inflação herdada do período João (Jango) Goulart.
Por ter pulado na frente, entre 1968 e 1971 ganhei aproximadamente um milhão de dólares (dólares daquela época, bem entendido).
Não quero dizer que a mesma sopa está se repetindo com igual intensidade. Mas estou convicto de que um novo bull market acaba de começar.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna