Tal como faço de vez em quando, esta semana dei um giro pelos mercados futuros internacionais. 

A primeira cotação que despertou meu interesse foi a do ouro, negociado a quase US$ 2.500,00, máxima de todos os tempos, se desconsideramos a inflação americana medida pelo CPI (Consumers Price Index – Índice de Preços ao Consumidor). 

Por outro lado, se levarmos em conta a depreciação do dólar, essa máxima continua sendo a de agosto de 1980, US$ 827,32, que equivale hoje a US$ 2.645,24. 

Como o ouro, teoricamente, não rende nada (pelo contrário, tem custo de carregamento nos futuros e de custódia no spot), essa alta é muito representativa. Significa que o mercado está temendo um prosseguimento da inflação americana e, até mesmo, a possibilidade da ocorrência de juros negativos. 

Existe também a hipótese da China estar comprando ouro para compor suas reservas. Nesse caso, não me admiraria se a cotação subisse para três mil dólares a onça troy (31,10349 gramas). 

Um mercado que iniciou um processo de baixa é o de grãos. E, por grãos, me refiro à soja (com seus derivados, farelo e óleo), milho e trigo. 

Se, por um lado, isso é ruim para os agricultores brasileiros (somos o maior produtor mundial de soja e terceiro de milho), é ótimo para nossas empresas criadoras de gado, porcos e frangos, com a diminuição dos preços das rações. 

Estamos em época de colheita de grãos nos Estados Unidos e de plantio no Brasil. 

O mercado de grãos tem uma característica interessante. Como a colheita encerra um ciclo (as plantas são arrancadas do solo, ao contrário do que acontece com o café e o cacau), a cada ano a história é contada de maneira diferente. 

Outra commodity que falhou em fazer máximas históricas foi o açúcar. Trata-se de um produto cultivado em dezenas e dezenas de países, sendo o maior deles a Índia, que se valeu de monções (período de chuvas) abundantes em 2024. 

Atualmente a libra peso (0,453592 quilogramas) está custando US$ 0,1848. Acreditem, caros amigos leitores, que, em novembro de 1974, o açúcar foi cotado na (CSCE – Coffee, Sugar and Cocoa Exchange), em Nova York, a US$ 0,52015. 

Se corrigirmos o preço acima pela depreciação do dólar desde aquele ano (por sinal o período mais glorioso das commodities em todos os tempos) até os dias de hoje, a cotação do açúcar seria de três dólares e trinta e um centavos por libra-peso. 

Outra commodity que está “vaiada” neste ano de 2024 é o algodão (o Brasil é o terceiro maior produtor mundial), cotado a US$ 0,6834 a libra-peso no mercado futuro de Nova York (ICE – InterContinentalExchange). 

Seguindo adiante em nosso tour pelos derivativos, temos o segundo mercado mais importante do mundo, só perdendo em representatividade para os de taxas de juros (Treasury Bonds, Treasury Bills e Fed Funds). Refiro-me, é óbvio, às bolsas de valores americanas e seus índices, S&P 500, Nasdaq e Industrial Dow Jones, sendo que este último não é negociado em mercados futuros por imposição do Wall Street Journal, proprietário da marca. 

O mercado de ações dos Estados Unidos está negociando junto às máximas de todos os tempos e tudo indica que irá superá-las após o atual momento de volatilidade. 

Prova disso é a bear trap (fenômeno que acontece quando o mercado dá sinais de que vai desabar e cai apenas um pouquinho) apresentada no início da semana passada, quando o Nikkei e as bolsas europeias desabaram e Nova York aparou a queda. 

O Dow, por exemplo, fez nova máxima de todos os tempos e entrou em terreno nunca antes percorrido. 

Os principais analistas veem grandes possibilidades do FED (Federal Reserve Bank – banco central dos Estados Unidos) iniciarem um ciclo de baixa agora em setembro, para evitar um processo recessivo. Isso é música para os investidores em ações. 

Talvez os papéis de alta tecnologia do índice Nasdaq (que subiram demais nos últimos tempos e agora estão apresentando os primeiros sinais de frouxidão) se descolem do S&P e do Industrial Dow Jones, tal como aconteceu na bolha das dot.com, no final do século passado. 

Tenho lido e ouvido diversas recomendações de analistas indicando compra de dólares ou preterindo ações brasileiras em troca de papéis internacionais. 

Discordo! Acho que grande parte das ações negociadas na B3 está extremamente barata e que, mesmo se o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevar a taxa Selic, para não deixar que a inflação brasileira rompa a banda superior de inflação fixada pelo Conselho Monetário Internacional, 4,50% a.a., o Ibovespa tem boas possibilidades de fechar o ano acima dos 150 mil pontos. 

Já o dólar, em meu juízo, deve voltar a cair para o nível de cinco, cinco e poucos, reais. O Brasil tem uma economia bastante ancorada nas exportações e isso terminará prevalecendo no mercado de câmbio. 

São essas as principais conclusões às quais cheguei após esse giro pelos mercados. 

Um forte abraço e um ótimo fim de semana para os caros amigos leitoras e leitores.

Ivan Sant’Anna

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