Tendo chegado ao aeroporto internacional Benazir Bhutto no início da manhã, fui levado no Mercedes até o hotel Best Western onde, após o check-in, dormi até às 15 horas, minimizando os efeitos do jet lag.
Almocei no restaurante do hotel, num bufê variado, com quase todos os pratos temperados com massala, o equivalente paquistanês ao curry indiano.
Um livro turístico sobre o Paquistão, que eu havia comprado no aeroporto Gatwick, em Londres, e lido nos dois voos da Emirates, aconselhava os visitantes estrangeiros a não comerem nenhum tipo de comida crua no país, pois a água não era tratada.
Portanto não cheguei nem perto do bufê de saladas, assim como não comi frutas nem bebi sucos naturais, sob pena de ser vítima de forte diarreia.
Às 16 horas, o fixer Naveed e o motorista Islam vieram me buscar, no Mercedes, para visitar a luxuosíssima mesquita Faisal, a quinta maior do mundo, projetada, construída e doada pela Arábia Saudita ao Paquistão.
No mesmo guia sobre o Paquistão que aconselhara os forasteiros a não ingerirem comidas naturais, eu lera que os “infiéis” eram bem-vindos nas mesquitas, desde que não fossem numa sexta-feira, dia sagrado do islamismo, e muito menos nos horários das orações.
Pois bem, fui exatamente numa sexta e logo na hora das orações. Me trataram com cortesia, não sofrendo nenhum tipo de hostilidade ou rejeição. Nem mesmo um olhar torto em minha direção, apesar de estar vestindo roupas ocidentais.
Descobri uma coisa interessante: as famílias mais pobres passam esses dias sagrados (que são feriados) nas mesquitas. Pais, mães e filhos fazem piqueniques nos jardins; as crianças brincam de esconder nas colunas e pisos de mármore do interior, sem diferenças de classes.
Após a visita, Naveed e eu jantamos num luxuoso restaurante do Shopping Center Mohammed Ali Jinnah (fundador do Paquistão). Nessa ocasião (como sempre aconteceu em minha viagem), Islam esperou no carro.
No sábado, 4 de outubro, viajamos de carro para Fort of Rohtas, fortificação do século 16.
Uma loucura, as estradas. Vacas e búfalos atravessando na frente do carro. Motocicletas levando oito passageiros numa carroceria adaptada na traseira. Micro vans lotadas. Pequenos Suzukis abarrotados de gente, além de galinhas e cabritos vivos, dependurados pelas pernas do lado de fora.
À noite, Naveed me pegou no hotel para irmos a um jantar na casa da Cristina. O mais constrangedor foi que ela não o deixou entrar. Dispensou-o e disse que mandaria um dos seus motoristas me levar no hotel mais tarde.
Estavam presentes os embaixadores Tariq, marido da Cristina, Rodolfo Saravia, representante da Argentina no país, um intelectual paquistanês e uma americana de Seattle, ligada a organizações de direitos humanos.
Antes de subirmos para o terraço, onde seria servido um lauto jantar libanês, descemos, através de um alçapão, para uma sala no subsolo onde duas garrafas de Johnny Walker Black nos esperavam. Estava explicado porque Cristina barrara o Naveed na entrada.
Domingo foi nosso último dia em Islamabad. Sempre no Mercedes, com Islam e Naveed, fomos visitar o museu Taxila, um sítio arqueológico de um mosteiro budista, uma represa e um museu ferroviário.
Na segunda, participei de uma reunião no ministério da Cultura e depois iniciamos, de carro, a viagem para Lahore, uma das maiores cidades do país e sua capital cultural
Dessa vez era uma verdadeira autoestrada, sem carroças, burros, camelos e riquixás. Mas havia os bois (e não estou falando de gado e sim de latrina) nos postos e restaurantes na beira da rodovia.
Como estava com diarreia (nenhum ocidental escapa de pelo menos uma no Paquistão), tive de agir com o equilíbrio de um artista do Cirque du Soleil para não sujar, literalmente, o nome do Brasil.
O Naveed não teve como não perceber minhas agruras e deve ter se sentido vingado da humilhação na casa da Cristina em Islamabad.
Já em Lahore, me hospedei no Hotel Pearl Continental, de seis estrelas, creio que sem parâmetros no Brasil, onde havia, maravilha das maravilhas, uma singela privada no banheiro da suíte, além de uma banheira de hidromassagem.
Lahore foi a cereja do bolo de minha viagem. Naquela terça-feira, dia 7 de outubro de 2008, degustei um café da manhã maravilhoso: omelete de trufas negras, suco de laranja, café expresso e um pão italiano recém-saído do forno.
Saímos então para visitar a mesquita Badshahi, construída no século 17. local que me deixou estupefato por várias razões.
A capacidade da parte interior do templo era de 60 mil pessoas. Logo na entrada, um imã (sacerdote muçulmano), que parecia ter uns 90 anos de idade, me advertiu, com delicadeza, que eu estava calçado.
Como quase todo mundo sabe, só se entra nas mesquitas com meias, ou descalço (lavando o pé antes) para não estragar o piso. Rapidamente, tirei minhas sandálias e as juntei numa pilha do lado de fora.
Quando voltei para o interior, o imã se ofereceu para ser o meu guia, o que deixou Naveed enciumado.
Aconteceram muitas coisas interessantes nessa mesquita e não vou narrar isso açodadamente.
Por favor, me aguardem na próxima semana, com a parte 3 desta “minissérie”.
Um forte abraço,
Ivan Sant’Anna