Confira a análise do economista-chefe, André Perfeito, da Corretora Necton.

“A SELIC dificilmente será cortada mais uma vez na próxima reunião do COPOM“

O cenário macroeconômico para dezembro de 2019 se confirmou em parte. De fato, o mercado reviu parte das suas apostas mais otimistas sobre a curva de juros motivado por três fatores. De um lado a alta dos títulos ao longo de 2019 foi muito forte e era necessário certa “realização”. Outro fator que fez os juros subirem – ou seja, o preço dos títulos caírem – foi a perspectiva menos benigna para a inflação. Esta releitura da dinâmica inflacionária foi construída por alguns motivos.

O primeiro foi a alta do Dólar que contaminou via IGPs a inflação ao consumidor. Outro aspecto foi o choque de oferta da carne que subiu fortemente no final do ano e por fim tivemos uma melhora na atividade econômica que pode se refletir em demanda mais quente.

Por esses fatores os títulos que tinham algum componente pré-fixado perderem nos seus vencimentos mais longos. Os títulos pré-fixados tiveram queda de -0,15% (com vencimento em 2022) até -1,75% (vencimento 2025) nos últimos trinta dias. Os indexados ao IPCA também tiveram comportamento semelhante. Os títulos com vencimento em 2024 caíram nos últimos 30 dias -1,02% e os com vencimento em 2045 tombaram -8,5%.

Neste sentido nossa orientação pós-fixada em títulos aderentes a taxa SELIC se mostrou uma atitude correta e estes subiram 0,39% no último mês.

Para janeiro de 2020 vamos manter essa orientação “pós”, ou seja, uma carteira completamente comprada em títulos SELIC. Isto, contudo, não quer dizer pessimismo da nossa parte, mas antes reconhecer que o mercado trabalhava com patamares irrealistas. A SELIC dificilmente será cortada mais uma vez na próxima reunião do COPOM em fevereiro e isto impõe um piso aos juros e à apreciação dos títulos.

O corte nos parece improvável por alguns motivos, a saber, I) falta de notícias positivas sobre as reformas, II) inflação ainda persistente por conta dos IGPs em alta, III) nível de atividade se recuperando na margem. Isso implica que o COPOM não tenha “desculpas” para conduzir mais um corte. Vale notar que ninguém está falando que a situação é ruim, mas antes que já caiu bastante.

Sobre os aspectos de atividade propriamente devemos ver em janeiro uma melhora gradual dos indicadores. Isso implica dizer que empresas mais sensíveis ao nível de atividade doméstica podem performar melhor como é o caso das Small Caps, empresas menores, mas que tem como core business da sua atividade o mercado local. Somos otimistas com essas empresas e acreditamos que será uma tese que irá nos acompanhar ao longo de 2020 inteiro.

Sobre inflação nos interessa observar as interações dos índices gerais da FGV e a inflação ao consumidor uma vez que sendo estes índices os principais indexadores de contratos poderemos ter um início de ano mais “quente” que o normal.

Sobre o Dólar mantemos uma leitura mais cautelosa. Dados do setor externo (Transações correntes e balança comercial) apontam para um Real mais fraco, isso sem contar que o atual patamar dos juros não favorece o carry trade com o Real.

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