CENÁRIO EXTERNO: REAVALIANDO PREÇOS
Mercados… Mercados asiáticos encerraram o pregão de ontem com desempenho misto, sem grandes destaques. Na zona do euro, índices de mercado europeus abriram as negociações em baixa, na esteira da piora verificada nos EUA na tarde desta 3ªf. O Stoxx 600, índice que abrange ativos de diversas regiões do bloco europeu, recua 1,2% até o momento. Na contramão, índices futuros de NY operam com viés ligeiramente positivo, enquanto o dólar (DXY) se mantém estável contra seus principais pares do G10. No plano das commodities, ativos se movimentam sem direções claras. O preço do petróleo (Brent Crude) cai 0,1%, negociado próximo aos US$ 30,00/barril.
Reavaliando preços… Bolsas internacionais iniciam mais um dia sem tendência bem definida, após manhã de poucas novidades e dia de forte realização nos Estados Unidos. Em mercados que já recuperaram mais da metade das perdas acumuladas desde o início da crise, a possibilidade de uma nova onda de infecções tem gerado ceticismo em torno da sustentabilidade da recuperação dos preços dos ativos. Por ora, bolsas continuam respeitando as bandas verificados desde o fim de abril; com ativos do setor de tecnologia se sobressaindo, com mais um resultado corporativo positivo – foi a vez da Tencent (China) superar expectativas de resultado.
Powell comenta situação… Como um dos principais destaques desta 4ªf, o mercado acompanhará um novo discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Dentre os assuntos abordados, Powell deve comentar os riscos embutidos na situação corrente da economia americana, que incluem uma onda de falências no âmbito corporativo e a possibilidade da saída de milhões do mercado de trabalho de maneira definitiva. Neste cenário, além de revelar a necessidade de mais estímulos no âmbito fiscal dada a extensão da quarentena em alguns estados americanos, existe a expectativa de que Powell comente a possibilidade de taxa de juros negativa nos EUA. Como falamos aqui na 2ªf, é uma medida a que ele já se opôs em diversas oportunidades, mas que pode estar sendo contemplada pela crise sem precedentes que se instaura na maior economia do mundo. Vamos acompanhar…
Mais agenda… Além do índice de preços ao produtor nos EUA (9h30), o mercado avalia a divulgação dos estoques brutos de petróleo do DoE (Departamento de Energia americano), às 11h30.
BRASIL: INQUÉRITO QUE INVESTIGA O PRESIDENTE ABALA MERCADO APESAR DE NÃO TRAZER GRANDES NOVIDADES
Gravação da reunião ministerial… Ontem, matérias sobre a gravação da reunião ministerial que, segundo Sergio Moro, comprovam a intenção do Presidente da República de interferir politicamente na Polícia Federal abalaram o ânimo do mercado. O vídeo foi exibido para o ex-ministro Sergio Moro e seu advogado e para o presidente e a sua equipe.
Interpretações e revelações… O advogado de Moro entende que a gravação comprova a acusação, enquanto o presidente relatou que as palavras “Policia Federal” e “superintendência” não foram ditas durante o decorrer da reunião em questão. O vídeo continua sob sigilo, mas pode vir a ser divulgado caso todas as partes liberarem a sua difusão. Também foi vazado na mídia que a filmagem inclui frases comprometedores de outros ministros não relacionados à questão da PF.
Depoimento dos ministros militares… Além da exibição do vídeo da reunião, ontem também foram realizados os depoimentos dos três ministros de estado (Heleno, Braga Netto e Ramos). Moro apontou os três como testemunhas das tentativas do presidente de interferir na PF. O que tudo indica é que nada muito revelador foi dito pelos militares. Os três corroboraram a narrativa do presidente que explica que o vídeo faz referência a sua intenção de trocar os responsáveis pela sua segurança no RJ e não o mandante da superintendia da PF.
Moro não é responsável pela segurança do presidente… A explicação é curiosa logo que os responsáveis pela segurança do presidente não são subordinados do ministro da Justiça. A nossa expectativa é que o inquérito não produza uma acusação contra o presidente.
Arrecadação federal cai 30% em abril… De acordo com dados obtidos pelo Jornal Valor, as receitas líquidas dos tributos diretamente administrados pela Receita Federal caíram mais de 28% em termos reais durante o mês de abril. Mais um sinal do impacto fiscal negativo causado pela quarentena. Segundo o jornal, as reduções na receita foram causadas tanto pelo efeito direto da redução da atividade econômica do comercio e do setor industrial, mas também pelo diferimento de outros pagamentos.
Testes de Coronavírus… O presidente aparenta ter dado fim aos rumores sobre a possibilidade de ter contraído a covid-19. Ontem, dois laudos com resultados negativos foram entregues ao ministro Lewandowski, relator do processo no STF. O jornal O Estado de S. Paulo entrou com ação judicial para forçar o presidente a revelar o resultado dos testes, mas o presidente tinha, até então, resistido às demandas de transparência feitas pelo jornal.
Agenda… Depois de um resultado catastrófico para o setor de serviços para o mês, o IBGE divulga as vendas no varejo de março. A nossa expectativa é de uma redução de 11,0% m/m no conceito ampliado (que inclui peças automotivas e materiais de construção); número que configuraria uma queda de 3,0% em relação ao mesmo período do ano passado.
E os mercados hoje?… Mercados globais iniciam mais uma sessão sem direção única, com investidores reavaliando o nível de preços contra os riscos do cenário mundial. No Brasil, a cena política tende a agravar muito a situação. Em primeiro lugar, a saída de Sérgio Moro continua gerando fortes ruídos nos mercados, desta vez através da divulgação de um vídeo que supostamente mostra o presidente explicitando sua intenção de interferir na Polícia Federal. Para piorar, o Congresso Nacional avisou que poderá derrubar o veto do presidente caso ele tente aumentar o escopo da medida de congelamento dos salários do funcionalismo público. Tendo isso em vista, esperamos um dia de viés negativo para ativos de risco locais.