É comum eu ser conhecido nos meios financeiros como um profissional que obteve grandes sucessos intercalados com grandes fracassos. E aprendi tanto em uns como em outros. 

Mas posso afirmar, convicto, que os sucessos foram mais frequentes. Se assim não fosse, eu não estaria vivendo do mercado financeiro há 66 anos, como é o caso. 

Nesta crônica, usarei apenas as iniciais das pessoas que cito e, em alguns casos, iniciais falsas para que elas não sejam identificadas. Algumas empresas também serão citadas com nomes fictícios. 

No final da década de 1960, após regressar de Nova York, quando estudei Mercado de Capitais na Graduated School of Business Administration da NYU, fui trabalhar no grupo Chumbinho, um conglomerado composto de banco comercial, duas financeiras, uma distribuidora de valores, um supermercado, uma cadeia de loja de venda de roupas, outra de eletrodomésticos, uma fábrica de ternos, outra de plásticos, uma empresa de publicidade, fora alguma da qual estou me esquecendo. 

Pois bem, o chairman do grupo me convidou para abrir uma corretora de valores para operar na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, à época a mais importante do Brasil (havia várias). 

Tiramos a carta patente e começamos com apenas três pessoas. Eu, operando no pregão da bolsa, uma secretária (GMP) e um liquidante (JCU). Dei uma tremenda sorte: peguei, praticamente no fundo do poço, um dos maiores bull markets do mercado brasileiro de ações. 

Entre 1968 e julho de 1971, especulando com ações, principalmente operando day trades, juntei um milhão de dólares. Em valores de hoje, isso equivale a US$ 7,500.000,00 

Por uma sorte ainda maior (e, modestamente, certa dose de competência), liquidei tudo no auge do bull market

Comprei uma cobertura duplex, de 500 metros quadrados, com piscina e vista para o mar de Ipanema. Passei a viajar para o exterior todo feriadão: Las Vegas, Nova York, Londres, Paris, Berlim, Viena, etc., além de acompanhar o circuito de Fórmula 1. 

No mercado, da Bolsa passei para o open e o dinheiro continuou entrando. 

Houve outras ocasiões em que ganhei muita grana, mas acho que essas duas foram as que me gratificaram mais. 

Pois bem, essa (a da Bolsa e do open) foi a primeira história: a do sucesso. Vamos agora à do fracasso. 

Sem querer entrar muito em detalhes, uma doença seríssima na família acabou com tudo, não só por causa dos custos médicos e hospitalares (eu não tinha plano de saúde) como pelo tempão em que fiquei sem trabalhar; 

Quando a doença acima citada ficou totalmente curada, através de um complexo tratamento em Toronto, no Canadá, tratamento esse que acompanhei presencialmente, me associei a um grupo de profissionais. 

Juntos, compramos a carta patente de uma distribuidora de valores, a qual darei o nome de Amalgamated. 

Deu tudo errado desde o primeiro dia. 

Um dos sócios, SKL, já falecido, alavancou ao extremo uma posição de Letras do Tesouro Nacional que, em menos de uma hora, deu um prejuízo equivalente a uns 80% do capital da DTVM. 

O resto se foi no mercado futuro de ouro, negociado na extinta Bolsinha (Bolsa de Mercadorias do Estado de São Paulo). O mais trágico é que abrimos o dia ganhando uma nota preta na posição de ouro. 

Esqueci de dizer que a Amalgamated tinha muitos caciques e poucos índios. Muita gente para mandar e pouca para obedecer. Alguns (eu, inclusive) queriam realizar o lucro; outros, manter a posição. 

Resolvemos então decidir por votação. 

Foi quando aprendi que operações de mercado e democracia são coisas totalmente incompatíveis. Enquanto cada qual escrevia em seu papelucho (eu tenho até vergonha de contar isso), o preço do ouro despencou e o prejuízo veio se juntar ao das LTNs. 

Demorou algum tempo para vendermos a Amalgamated, cujo valor agora se limitava à carta patente e às instalações. 

Então me bandeei de armas e bagagens para o mercado internacional, passando a ignorar solenemente o que acontecia nas Bolsas e trading desks tupiniquim. 

Passei a viver na ponte aérea Chicago/Nova York/Rio de Janeiro, trabalhando como trader (spec) e broker. 

O que não mudou foi a alternância entre fracassos e sucessos, sendo que o grande revés não me custou um dólar sequer, mas me arruinou psicologicamente. 

É que deixei de ficar short no S&P500 durante o crash de 19 de outubro de 1987. 

Eu tinha profunda convicção de que o crash iria acontecer (cheguei a vaticiná-lo, numa newsletter publicada pouco antes) mas fui surpreendido zerado na segunda-feira (Black Monday) em que ele ocorreu. 

Para minha alegria, menos de um ano depois, mais precisamente em meados de 1988, quando administrava uma carteira de especuladores, consegui transformar 90 mil dólares em cinco milhões, em poucas semanas. 

Isso aconteceu no mercado de Soja da CboT. 

Atualmente, é altamente improvável que aconteça um grande infortúnio ou que eu volte a ficar milionário de uma hora para a outra. Praticamente não arrisco mais. Sou ultraconservador em minhas aplicações. 

Aos 83 anos de idade, sosseguei o facho. 

Um ótimo fim de semana! 

Ivan Sant’Anna 

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Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte