Chegou o mês de junho e as empresas passam a exibir as suas marcas com as cores do arco-íris da comunidade LGBTQIAPN+, buscando a simpatia e o dinheiro do público da comunidade LGBT. Isso acontece, pois o mercado já entendeu que não quer perder o dinheiro cor-de-rosa, ainda que não saiba bem o motivo para junho ser o mês do “orgulho gay” e nem saiba como tratar adequadamente esse público.

Origem

Eu explico. Em 1969, batidas policiais em bares gays na região de Manhattan, na cidade de Nova York, seguiam um padrão. Policiais invadiam o local, ameaçando e espancando funcionários e clientes do bar. Os clientes saíam para a rua e formavam filas para que a polícia pudesse prendê-los.

Mas não foi isso que aconteceu nas primeiras horas do dia 28 de junho de 1969, durante uma operação policial no bar Stonewall Inn. Clientes e curiosos reagiram, e a consequência foi uma confusão que durou dias e resultou em uma rebelião conhecida atualmente como Revolta de Stonewall, um marco que ajudou a desencadear o movimento atual pelos direitos civis da comunidade LGBTQIAPN+.

Hoje

Pois, então. O que as empresas que colorem as suas marcas com as cores do arco-íris gay estão fazendo para promover a diminuição do preconceito em relação a esses consumidores que tanto parecem cortejar?

Você já viu alguma propaganda no mês de junho que tratasse disso? Ou você só vê propagandas, como eu, que mostram casais dessa comunidade juntos, dizendo apenas “nós queremos o dinheiro de vocês”, comprem nossos produtos e serviços?

Pois, então, novamente. Há muito, a comunidade LGBTQIAPN+ já se deu conta que a imensa maioria das empresas só fazem propaganda para buscar o dinheiro cor-de-rosa. E nada mais.

Futuro

Você acha mesmo que a sua empresa tem futuro agindo assim?

Você acha mesmo que a sua empresa é digna de colorir a sua marca com as cores do arco-íris da comunidade LGBTQIAPN+?

Como advogado e conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado, militante na área de governança há quase duas décadas, sigo vendo, com lástima, a inércia e a miopia dos conselhos de administração em relação a esse assunto.
Ele segue sendo relegado a último item nas pautas das reuniões.
Penso que tais conselhos não saibam que, atualmente, cerca de 80% do poder de compra das famílias brasileiras encontra-se nas mãos de grupos de minorias. Penso que tampouco saibam que, em média, há cerca 10% da população que se auto-declara LGBTQIAPN+, e que se considerarmos a quantidade de pessoas que levam vida dupla, e as que pertencem a esse grupo, mas não se auto-declaram com medo de sofrer retaliações, facilmente chegamos a 20% da população.

E, ainda assim, não há grande respeito por esse público.

Conselhos, quais as políticas que as suas empresas têm aprovado para aa diminuição do preconceito e para a promoção do respeito?

Como membro da comunidade LBGTQIAPN+, até o momento, sou o único conselheiro que trata aberta e publicamente do assunto. Os demais conselheiros, que são dessa comunidade, não se sentem confortáveis a abrir quem, de fato, são.

Mas a sociedade tem cobrado ações afirmativas das empresas. Não basta simplesmente silenciar, é preciso apoiar. E, sim, anunciar que apoia a causa, e que a percebe como valor a ser preservado. Em outras palavras, falamos simplesmente de respeito.
Quando é que empresários de sucesso terão coragem de se expor e mostrar à sociedade que são LGBTQIAPN+?
Com as práticas de ESG tendo sido valorizadas pelos acionistas, o que a sua empresa teria a dizer quando, por exemplo, um consumidor dessa comunidade perguntasse o que a empresa faz pela causa? O que será dito a um fundo de investimento que deseja adquirir parte de seu negócio?

Você sabia que investidores, especialmente os do exterior, devem seguir regras muito claras a respeito das empresas nas quais podem investir, e que dentro dessas, há indicadores e inclusão e diversidade?

Pois é. O que você e a sua empresa estão fazendo por essa causa, além de buscar apenas o dinheiro dos consumidores dessa comunidade?