Resumo da Semana
Como novamente projetamos, a semana mostrou intensa volatilidade dos mercados de risco, com mudanças de sinais intra e entre pregões, bem ao sabor do noticiário internacional e local e, com balanços do terceiro trimestre influindo pontualmente na precificação dos ativos. O período também foi marcado pela divulgação de muitos indicadores de conjuntura e as decisões do FED e do Copom.
No plano internacional, ainda pesou a expectativas dos agentes do mercado com relação ao acordo comercial entre os EUA e a China. Nessa semana, haveria reunião telefônica entre os principais negociadores dos dois países.
Como sempre, os EUA endureceram às vésperas, com Mike Pompeo dizendo que a China adota políticas contrárias aos interesses americanos. Mas Trump, declarou que a primeira fase do acordo que deve ser assinada engloba cerca de 60% do texto total, e diz trabalhar para encontrar novo local para assinatura, já que o Chile declinou de sediar o encontro APEC e Cop 25, por conta dos distúrbios pelos quais o país vem passando.
Trump também voltou a fazer carga sobre o FED e Jerome Powell, dizendo que erraram desde sempre, e que juros altos e dólar forte prejudica os fabricantes do país. Anunciou com estardalhaço a morte do líder do Estado Islâmico com ajuda dos curdos e logo em seguida, divulgou a morte do que seria o sucessor de Abu Bakr Al Baghdadi.
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Já sobre o Brexit, o parlamento britânico acabou aprovando por ampla maioria eleição geral em 12/12, mas isso, independente de quem ganhe ou forme maioria, acaba sendo negativo para a economia do Reino Unido. Apesar disso, o BCE (Banco Central Europeu) disse que os bancos da região e do Reino Unido estão prontos para a união bancária pós-Brexit. Podemos considerar que o primeiro-ministro Boris Johnson sofreu nova derrota e as eleições não serão fáceis para formação de novo gabinete de governo para a região. A União Europeia estendeu o prazo do Brexit para 31/01/2020.
O presidente do Bundesbank Jens Weidmann, criticou a postura do BCE sobre flexibilização monetária, dizendo que o QE (quantitative easing) deveria se restringir a situações excepcionais. Durante a semana, também tivemos agravamento na situação do Chile e da Bolívia. Mesmo com o presidente Piñera voltando atrás em muitas decisões, pedir cargos de ministros e trocar oito ministros, ainda assim o povo continuou protestando nas ruas. Já na Bolívia, o presidente reeleito Evo Morales acabou aceitando uma auditoria na contagem dos votos pela OEA, mas a oposição não ficou satisfeita e permaneceu protestando. Na Argentina, Alberto Fernandez foi eleito em primeiro turno e puxou coro de Lula Livre, por isso deixou de ser cumprimentado por Bolsonaro que achou afronta gratuita ao povo brasileiro.
Na economia, tivemos anúncio do PIB americano no terceiro trimestre (primeira leitura), com alta anualizada de 1,9%, maior que o previsto em +1,6%. O PIB da zona do euro registrou expansão no trimestre de 0,1%, e taxa anualizada de 1,1%. Na Espanha, crescimento anualizado de 2,0% e na Itália com expansão de 0,3%. No México, o PIB do terceiro trimestre expandiu 0,1%, mas a taxa anualizada está negativa em 0,4%. Na França, PIB crescendo 0,3% no terceiro trimestre. Como se pode ver tem para todos os gostos e previsões, mas uma coisa é certa: Os EUA seguem crescendo ainda forte, apesar da desaceleração prevista.
Na Alemanha, as vendas no varejo cresceram anualizadas 3,4% e a inflação pelo CPI (consumidor) de outubro anualizada ficou em 1,1%, com alta mensal de 0,1%. A Fitch manteve rating da Austrália de AAA e perspectiva estável. Na zona do euro, o índice de sentimento econômico de outubro caiu para 100,8 pontos, vindo de 101,7 pontos e no menor patamar desde janeiro de 2015.
Nos EUA a confiança do consumidor do Conference Board de outubro caiu para 125,9 pontos e vendas pendentes de imóveis de setembro com alta de 1,5%. Lá gastos com consumo cresceram 0,2% em setembro e renda pessoal com +0,3%. O PCE anualizado está em 1,3%, o ISM da atividade industrial de outubro caiu para 43,2 pontos e o payroll de outubro (criação de vagas no setor público e privado) mostrou forte alta com a criação de 128.000 vagas (previsto eram 75.000) e revisando o mês anterior também em alta. A taxa de desemprego subiu para 3,6% e o salário médio cresceu 0,21% no mês. Porém, o dado mais aguardado do período veio sem surpresas. O FED reduziu a taxa básica de juros em 0,25%, para o intervalo entre 1,50% e 1,75%, e deve esperar as indicações econômicas para novas posturas. O comunicado sugere que estão próximos do fim do ciclo de baixa.
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Já que falamos nisso, engatamos a decisão do Copom também sem surpresas, com redução da Selic em 0,5% para 5,00% e a sugestão de que podem fazer mais uma rodada de 0,5%, terminando 2019 com a Selic em 4,50% e podendo seguir um pouco adiante no início de 2020. Mas assim como no FED, o Bacen usou a comunicação para aparar arestas das apostas mais ousadas. Aparentemente, no final teremos convergência para Selic em 4,25%.
No ambiente político, muito tumulto mesmo com o presidente em viagem ao exterior por 11 dias. Bolsonaro respondeu reportagem da Globo com fúria, depois da tentativa do porteiro de seu condomínio de ligar seu nome ao assassinato de Marielle Franco, divulgada pela empresa. Já as confusões do PSL não pararam, com deputados e o próprio presidente pedindo afastamento de Bivar da presidência e a suspensão de repasses do fundo partidário. Para completar, seu filho Eduardo (ex-candidato a embaixador em Washington), em entrevista sugeriu novo AI-5 para conter a esquerda. Foi rapidamente rechaçado por todos as lideranças partidárias, inclusive os presidentes do Senado e da Câmara, enquanto partido da oposição entraram com queixa-crime no STF.
Na Economia, a produção industrial expandiu 0,3%, de expectativa mediana em +0,7%, com o ano de 2019 mostrando ainda contração de 1,4%. A produção de bens de capital encolheu 0,5%e bens de consumo expandiu 1,3%. Houve alta em 11 de 26 ramos pesquisados. O IBGE divulgou dados da PNAD contínua do trimestre encerrado em setembro. A taxa de desemprego ficou em 11,8%, e somos 12,5 milhões de desempregados e falta trabalho para 27,4 milhões de pessoas. Os desalentados são 4,7 milhões e seguem crescendo o trabalho por conta própria e sem carteira, o que mostra qualidade baixa do emprego. A massa de renda real cresce 1,8% no comparativo com igual período de 2018.
O Bacen anunciou o déficit primário do setor público em setembro de R$ 20, 54 bilhões, no ano atingindo R$ 42,5 bilhões, algo como 0,80% do PIB. Os gastos com juros até setembro atingiram R$ 284,2 bilhões (5,38% do PIB). O déficit nominal do ano atinge R$ 326,7 bilhões, aproximadamente 6,19% do PIB. A dívida líquida do setor público está em 55,3% do PIB. A dívida pública fechou setembro em R$ 3,91 trilhões, com a participação dos estrangeiros encolhendo para 11,42%.
No mercado acionário, muita volatilidade também produzida pela divulgação de balanços referentes ao terceiro trimestre do ano, aqui e no exterior. Também foi possível observar retorno de investidores estrangeiros ao pregão da Bovespa alocando recursos, porém ainda de forma tímida. Até a sessão de 30/10 o saldo de outubro ainda era negativo em R$ 8,3 bilhões e no ano com saídas liquidas de R$ 29,1 bilhões.
Principais indicadores da semana
BOVESPA: +0,77%
DOW JONES: +1,43%
NASDAQ: +1,73%
DÓLAR: -0,33% (r$ 3,99)
-0,33% (R$ 3,99)
Perspectivas
Continuamos otimistas com o desenvolvimento do mercado acionário no médio e longo prazo, apesar da volatilidade de curto prazo. Uma boa parte desse otimismo se refere a necessidade de os investidores assumirem maior parcela de risco para conseguirem remunerar melhor os recursos investidos. Outra parte se refere a percepção de que no segmento internacional, a situação vai se ajeitando (também com alguns sustos), com EUA e China lidando melhor com o comércio bilateral e também coma a extensão do Brexit.
Além disso, ao que tudo indica, a China (segunda maior economia do planeta) está conseguindo manter a expectativa de crescimento ao redor de 6%, com os estímulos recentemente produzidos para investimentos em infraestrutura. Mesmo quadro para a Alemanha (motor da Europa), cuja pior fase parece ter sido ultrapassada, reforçada pela atuação de bancos centrais no trato da política monetária mais flexível. Mas certamente ainda existem riscos geopolíticos e sanções que induzem alguma prudência, assim como sinalizações de bancos centrais de que o ciclo de queda dos juros pode estar no final.
Aqui, vamos seguir vivendo de sustos produzidos no ambiente político pelo clã Bolsonaro, mas existem também boas indicações sobre medidas na economia e, principalmente, larga expectativa com o leilão de excedentes da cessão onerosa marcada para 06/11. O governo também deve encaminhar medidas, o que pode dar mais segurança aos investidores.
Do ponto de vista da análise técnica, temos que garantir a consistente passagem pelo patamar de 108.000 pontos do Ibovespa para galgar novos recordes de pontuação e mirar na casa de 115.000 pontos.
Alvaro Bandeira
Economista-chefe do banco digital Modalmais