Caro Investidor!
Você sabe que antes de ser o país da renda fixa, o Brasil sempre foi vitrine do agro. Impossível pensar no país sem fazer essa associação. Sem polêmicas, o agronegócio por aqui, dificilmente se dá mal, claro, estamos falando do agroBUSINESS, não da agricultura familiar que é a que lá no fundo sustenta a população. É um setor com quase 30% de participação no PIB nacional, segundo o Cepea/USP.
E no meio de tantos dígitos, você, investidor brasileiro, mesmo que não tenha noção da lida com a terra, safra, boi ou qualquer experiência rural, pode participar do retorno do agro via mercado de capitais, graças ao Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro).
Os FiAgros foram regulamentados em março de 2021 e lançados cinco meses depois, esão regidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), via Instrução 555. Negociados no mercado secundário, os Fiagros guardam algumas semelhanças com os Fundos Imobiliários, que estão listados na B3. Mas, os riscos e os investimentos têm características específicas. E mais, os Fiagros não têm a mesma obrigação de distribuir 95% dos lucros aos investidores a cada seis meses.
O momento
Segundo Felipe Paiva, advogado especialista em fundos de investimentos do TozziniFreire Advogados. O cenário atual para os FiAgros tem sido desafiador devido à combinação de alta na Taxa Selic e o aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio.
“A Selic elevada, que em 2024 manteve-se em patamares altos, encarece o crédito e afeta diretamente os produtores rurais, dificultando o pagamento de dívidas e aumentando o risco de inadimplência. Esse cenário pressiona os FiAgros, cujas carteiras geralmente possuem ativos com risco médio a alto, dependentes de setores vulneráveis, como soja e milho”, comenta.
Soma-se a isso o fato de que o agronegócio enfrentou um aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial em 2024, impulsionado por produtores e empresas altamente endividadas, conforme Paiva. “Este aumento impacta diretamente fundos como os FiAgros, que frequentemente incluem CRAs de emissores problemáticos em suas carteiras. Embora esses pedidos não sejam necessariamente um sinal de colapso, acendem alertas sobre a saúde financeira do setor”, explica.
Perspectivas
Paiva diz que as perspectivas para o próximo ano são mistas. “A manutenção de uma Selic alta pode continuar dificultando o acesso ao crédito e aumentando a inadimplência, mas há esforços para diversificação e mitigação de riscos nos fundos, incluindo maior análise de crédito e foco em ativos de menor risco.”
O especialista comenta também que a consolidação das regras dos FiAgros prevista na Resolução CVM 214 também possui capacidade de beneficiar o mercado, “à medida que a norma aprimorou regras de governança e transparência desses fundos, bem como criando a figura do ‘FiAgro multimercado’, trazendo maior flexibilidade para a alocação das carteiras do fundo. No entanto, fatores externos, como oscilações no preço das commodities e mudanças climáticas, também desempenharão papéis cruciais no desempenho dos FIAGROs e do setor como um todo”.
As vantagens e riscos dos FiAgros
De acordo com a Quantum Finance, as principais vantagens dos FiAgros são:
Diversificação – Uma importante vantagem dos Fiagros é poder contar com opções de diversificação dos investimentos e, assim, diluir os riscos da carteira.
Segurança – De forma geral, o setor do agronegócio consegue se desenvolver mesmo com crises, sendo um setor relativamente resiliente a diferentes cenários.
Benchmark – Muitos Fiagros oferecem a opção de investir em produtos agrícolas na Bolsa, como é o caso das commodities. Esses ativos muitas vezes têm o valor indexado ao dólar, uma moeda forte.
Praticidade – Antes dos Fiagro, os investidores enfrentavam dificuldades e burocracias para aportar capital no agronegócio. Com a chegada desses fundos, ficou mais fácil entrar em um dos principais setores da economia brasileira.
Riscos:
Sazonalidade – Uma limitação dos Fiagro está ligada à própria operacionalização da agricultura. O setor enfrenta sazonalidade com períodos determinados de plantio e colheita.
Logo, os rendimentos não são constantes e têm períodos certos para caírem na conta do investidor.
Volatilidade – Muitos produtos agrícolas são atrelados ao dólar. Ou seja, aumenta a volatilidade do setor. Há ainda riscos práticos, como clima ou pragas, que aumentam os riscos na agricultura. Podemos citar ainda a variação no preço das commodities, modificando o ganho final sobre os produtos agrícolas.
Cenário pessimista? RURA11 reduz rendimentos
Um dos mais recomendados FiAgros no Clube Acionista, o RURA11 do Itaú, parece estar vivendo uma crise. De acordo com o relatório extraordinário da gestão (out/24), a carteira estava com 61 devedores no valor de R$1,6 bilhão, mas segue em sua imensa maioria saudável e adimplente.
“Quatro créditos específicos geram preocupação na gestão – em diferentes níveis. Tais créditos em seu volume total somam na data de hoje cerca de R$ 110 milhões, ou 6,9% do Patrimônio Total do RURA11. A valor de mercado, no momento em que esse relatório extraordinário da gestão é escrito (valor da cota do RURA11 em 31/10 = R$7,26) existe um desconto entre a cota patrimonial e a cota a mercado equivalente a aproximadamente R$ 435 milhões de Reais. Considerando esta informação, mesmo no cenário em que o RURA11 venha a perder 100% dos 4 créditos, caso a preocupação do mercado seja em relação ao inadimplemento total de referidos CRAS, a precificação feita coloca no preço da cota do RURA11 uma perda adicional de R$ 325 milhões de reais (20% do PL do RURA11). Porém, a gestão do RURA11, com base na carteira, sua adimplência atual e garantias, entende que esse cenário de perda é bastante pessimista e não se coaduna com a qualidade do Fundo.”
Rendimentos reduzidos – Com base na visão atual da gestão do RURA11, sujeita a mudanças caso ocorra alteração de cenário, a redução nos rendimentos de 30% a 40% dos valores distribuídos em relação ao valor médio histórico será temporária durante o último trimestre de 2024 (3 meses a partir de outubro/24 inclusive). A expectativa é de voltar gradativamente aos patamares de distribuição realizados até setembro de 2024, a partir do ano que vem.
“Pela forma contábil dos FiAgros, uma provisão para eventuais perdas afeta o lucro do Fundo passível de distribuição e precisa ser recomposta. A provisão atual realizada no RURA11 é equivalente a R$18,3 milhões. Como o fundo RURA11 gera lucro líquido contábil aproximado na média de R$17 milhões por mês (já excluindo os valores oriundos dos créditos inadimplentes), reduzindo esse valor médio em 40% por 3 meses é suficiente para zerar o prejuízo acima dentro desse ano de 2024 e fazer uma pequena reserva adicional ao montante já provisionado.