“A água desperdiçada seria suficiente para abastecer o estado de São Paulo por quase dois anos”, afirma Equus Capital.
O Brasil enfrenta um desafio preocupante: anualmente, cerca de 4,7 bilhões de metros cúbicos de água potável são perdidos devido a vazamentos na rede de abastecimento. “Essa quantidade seria suficiente para abastecer o estado de São Paulo por quase dois anos”. A maior parte desses vazamentos é invisível, não se manifestando na superfície. Dos volumes captados, tratados e distribuídos, 40% não são faturados, sendo que 27% correspondem a vazamentos na rede e o restante é resultado de roubo, fraudes ou erros de medição. Isso representa um prejuízo anual de aproximadamente R$19,8 bilhões, superando os investimentos de R$17,5 bilhões realizados no setor de abastecimento de água”, explica Rubens Terra, sócio da Equus Capital.
Atualmente, duas abordagens se destacam para resolver esse problema. A primeira envolve a redução da pressão na rede durante os períodos de menor consumo, o que pode resultar no fornecimento intermitente de água em áreas periféricas. A segunda abordagem são as campanhas de detecção de vazamentos conduzidas pelas concessionárias de água. “Porém, essa técnica baseada em especialistas percorrendo a rede com equipamentos para identificar ruídos muitas vezes leva a falsos positivos ou negativos, além de demandar um tempo considerável para identificação e reparo dos vazamentos”, afirma Rubens Terra.
Estes números ganham ainda mais importância diante do fato de que 15,8% da população brasileira, equivalente a 33 milhões de pessoas, ainda não têm acesso ao abastecimento de água, segundo dados do SNIS-AE de 2022. “Em relação ao tratamento de esgoto, a situação é ainda mais alarmante, com 93 milhões de pessoas sem acesso a esse serviço”, afirma.
O Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020, estabelece metas ambiciosas para mudar esse cenário, visando alcançar até 2033 o acesso de 99% da população à água potável e 90% com coleta e tratamento de esgoto. Contudo, para atingir essa universalização, será necessário um investimento significativo, estimado em cerca de R$893 bilhões até o prazo estabelecido, segundo estudo da ABCON e KPMG.
Esse contexto tem despertado o interesse de investidores e empreendedores. Empresas estão lançando fundos de investimento focados em startups de Internet das Coisas e Inteligência Artificial, direcionadas não só para o setor de saneamento, mas também para áreas como energia, transporte, indústria, agronegócio e segurança pública. A Waterlog, por exemplo, é uma empresa que chamou atenção por desenvolver uma solução com mais de 90% de precisão na identificação de vazamentos na rede de distribuição de água. “A solução da Waterlog permite o monitoramento em tempo real da rede de distribuição, auxiliando na antecipação de manutenções e na redução das perdas de água”, finaliza.