O Ibovespa fechou com queda de 0,91% aos 107.849 pontos na terça-feira, 14, contaminado pelo pregão negativo em NY e pelos rumores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja que a meta de inflação seja elevada em 1 ponto percentual, elevando o prêmio de risco e pressionando o câmbio.

Na véspera, o mercado também repercutiu declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em entrevista ao Roda Viva, ele prometeu trabalhar com o governo do presidente Lula, negou ter defendido aumento da meta de inflação e disse que o ambiente econômico do país pode melhorar com pacote fiscal e reforma tributária. 

Mudança na meta de inflação

Em meio ao cenário político ruidoso, o presidente do BC defendeu aos jornalistas participantes do Roda Viva que reduzir a meta de inflação (3,25% em 2023) agora pode ter um efeito contrário do desejado.

“Tem um grupo de economistas que diz que essa meta é muito baixa, que a inflação americana subiu e precisamos entender que ficou muito difícil atingir essa meta, porque ela foi definida em um momento em que a inflação mundial era baixa”, apontou.

“E tem outro grupo que acredita que se você aumentar a meta em um momento como este, em que as expectativas estão desancoradas, os economistas e os analistas vão projetar uma meta igual à nova, mas, como ela foi aumentada em um momento em que ela não está sendo atingida, vai ser exigido um prêmio de risco maior ainda. Você não só não ganha como vai perder flexibilidade“, afirmou o presidente do BC.

Ancoragem das expectativas

O analista da Nord Research, Christopher Galvão, está no segundo grupo que acredita que a meta de inflação maior pode resultar em uma necessidade de taxa de juros ainda mais alta (ou nesses patamares por mais tempo que o desejado).

Ele destaca que a meta não é cumprida há alguns anos e não será diferente em 2023, pois a previsão do mercado está acima do teto da meta de inflação. A meta é de 3,25% para este ano e o limite superior de 4,75%, enquanto os economistas do mercado estimam um IPCA de 5,80%. Para 2024, as expectativas também estão acima do centro da meta. A meta é 3% e as expectativas já se encontram em 4%.

“As expectativas do mercado para a inflação estão cada vez mais altas e desancoradas das metas perseguidas pelo BC. Ao mesmo tempo, temos um cenário fiscal preocupante, pois o governo sinalizou diversas vezes que tende a adotar uma política de gastos mais expansionista e, por enquanto, sem as contrapartidas necessárias para balancear as contas (via cortes em outros gastos ou via aumento de receita). Esse aumento nos gastos públicos estimula a inflação pelo aumento da demanda no curto prazo e, ao mesmo tempo, o aumento do risco fiscal reflete sobre o câmbio, que, por sua vez, rebate na inflação causando impactos inflacionários”, disse.

Galvão afirma ainda que não é adequado mudar as metas atuais e que o BC pode, inclusive, ter que subir mais os juros para mitigar os efeitos porventura inflacionários da política fiscal, especialmente no caso de as expectativas do mercado ficarem ainda mais pressionadas.

De olho na reunião do CMN 

As atenções se voltam para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) marcada para esta quinta-feira, 16.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que uma eventual mudança das metas de inflação não estará na pauta da reunião, conforme antecipou o Broadcast.

Mesmo assim, o mercado não descarta uma possível revisão da meta para este ano e para 2024 e 2025. A definição sobre as metas de inflação em tese aconteceria em junho, mas o governo tem defendido antecipar esse debate e a mudança.

Publicidade

Onde investir neste fim de ano?

Veja as recomendações de diversos analistas em um só lugar.