“O governo corta pouco o custo de sua própria operação e, para piorar, assistimos à entrada de novos custos”, afirma gestora.
O cumprimento das metas fiscais demonstra a capacidade do governo em controlar as finanças públicas, o que aumenta a confiança dos investidores no país. Entretanto, a possibilidade de incumprimento das metas tem assombrado a Faria Lima. A afirmação é de Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, para quem a austeridade do governo ajuda a atrair investimentos estrangeiros e manter a estabilidade econômica.
“O desequilíbrio fiscal pode levar a pressões inflacionárias, já que déficits excessivos podem exigir financiamento pelo Banco Central (BC) através da emissão de moeda, aumentando a quantidade de dinheiro em circulação”, diz, acrescentando que o descumprimento das metas fiscais pode levar a uma desvalorização da moeda nacional, afetando negativamente o poder de compra da população e aumentando a volatilidade cambial.
“Investidores, tanto domésticos quanto estrangeiros, consideram as metas fiscais ao tomar decisões de investimento. Um cenário de déficits fiscais persistentes pode desencorajar investimentos de longo prazo e afetar negativamente o crescimento econômico”, aponta.
O economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, explica que a meta fiscal do governo está em 0, mas o mercado financeiro espera um déficit de 0,7% ou 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB). “Nesse primeiro bimestre de 2024 a gente está com a arrecadação acima do esperado, mas isso se dá por medidas pontuais, implementadas pelo governo, e que culminaram com atração de dinheiro, a exemplo dos benefícios de pagamentos de curto prazo em impostos”, destaca.
“Entretanto, vale mencionar que a meta atual não é plausível e o que assusta o mercado é que o governo corta pouco o custo de sua própria operação e, para piorar, assistimos à entrada de novos custos. Para além disso, o governo já vem propondo o debate, junto ao Congresso, de novas despesas e isso ancorado na arrecadação recente que, como dito, foi pontual”, ressalta.
Já Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, observa desafios na atual conjuntura econômica, marcada por preocupações com a inflação e as taxas de juros. “Embora haja esforços em curso para conter a inflação, é necessário cautela devido a diversos riscos, como a desaceleração da atividade econômica doméstica e as incertezas globais”, frisa
Para ele, uma comunicação transparente sobre a política monetária é fundamental para ancorar as expectativas do mercado. “A redução gradual da taxa de juros tem como objetivo estimular a atividade econômica, porém, precisa ser acompanhada de perto para evitar impactos negativos na inflação. Uma abordagem prudente, embasada em análises sólidas, é essencial para enfrentar os desafios econômicos com sucesso.”
Relatório
A Fazenda e o Planejamento divulgaram o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas; confira:
- Projeção da Selic em 2024 reduzida de 9,8% para 9,6%.
- A projeção do câmbio médio em 2024 cai de R$ 5,03 para R$ 4,94.
- Resultado primário total previsto para 2024 passa de +R$ 9,1 bi para -R$ 9,3 bi.
- Despesa discricionária planejada reduzida de R$ 208,9 bi para R$ 204,4 bi.
- Projeção de aumento da massa salarial nominal em 2024 sobe de 8,46% para 9,84%.
- Projeção média para o barril do petróleo em 2024 cai de US$ 82,34 para US$ 80,7.
- Bloqueio de R$ 2,9 bilhões em despesas discricionárias anunciado para atender à meta;
- Projeção de receitas com dividendos aumenta em R$ 2,2 bilhões.
- Receita primária total em 2024 sobe de R$ 2,720 trilhões para R$ 2,880 trilhões;
- A receita líquida em 2024 caiu de R$ 2,192 trilhões para R$ 2,175 trilhões;
- Despesas previstas com sentenças e precatórios aumentam em R$ 7,8 bilhões.
- As despesas projetadas com a Previdência aumentam em R$ 5,6 bilhões.
- As despesas estimadas com pessoal diminuem em R$ 4,6 bilhões; com royalties, a redução é de R$ 14,5 bilhões; com as concessões, a queda é de R$ 12,8 bilhões.
Entenda o contexto
Para o mercado financeiro, a possibilidade de que questões fiscais estejam causando preocupações pode moderar o entusiasmo em relação ao relatório bimestral de receitas e despesas, que será divulgado às 10 horas desta sexta-feira (22). Espera-se que haja um bloqueio de apenas R$ 3 bilhões, mantendo a meta de déficit fiscal em zero.
Inicialmente, estimava-se que seria necessário bloquear entre R$ 5 bilhões e R$ 15 bilhões para cumprir a promessa do governo de eliminar o déficit das contas públicas em 2024, conforme previsto no relatório a ser enviado ao Congresso.
No entanto, a boa surpresa com o aumento das receitas, devido à arrecadação melhor no início do ano, e a revisão dos gastos previdenciários com o INSS devem permitir que o governo congele menos recursos destinados aos ministérios.
Política fiscal expansionista
De acordo com os executivos, tudo indica que uma política fiscal mais expansionista parece estar sendo adotada não apenas por causa das eleições municipais, mas também devido aos esforços do governo para reverter a queda de popularidade do presidente da República.
Vale lembrar que dia 21 uma pesquisa do Datafolha indicou que, um ano e três meses após assumir a Presidência pela terceira vez, a aprovação de Lula está praticamente empatada com a reprovação. Segundo o levantamento, 35% consideram o trabalho do presidente ótimo ou bom, em comparação com 38% anteriormente. Enquanto isso, a reprovação subiu de 30% para 33%.
André Colares, CEO da Smart House Investments, indica que mudanças na política econômica, desvios na meta fiscal ou instabilidade política podem abalar essa confiança, gerando repercussões negativas. “Em meio à incerteza, a diversificação de investimentos em ativos seguros e a busca por oportunidades em empresas sólidas negociadas a preços atrativos são estratégias prudentes. A alocação em ativos no exterior também pode ajudar a mitigar riscos”, diz.
Para ele, é fundamental monitorar as decisões do BC em relação à taxa Selic, bem como os relatórios fiscais e as ações do governo relacionadas ao orçamento, ajustando as estratégias de investimento conforme necessário. “Cautela é essencial diante do cenário fiscal e político do Brasil, exigindo uma estratégia de investimento adaptável às mudanças econômicas e aos desafios fiscais do país”, conclui.