O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que, a mando de Lula, dará prioridade máxima à reforma tributária logo no início do governo.

Mais recentemente, Haddad voltou a reiterar uma missão dada pelo presidente eleito: a de “colocar pobre no orçamento e rico no Imposto de Renda”, disse ele em evento do Natal dos Catadores, na região central de São Paulo, na quinta-feira, 15.

A motivação para recolocar a tributação de dividendos na pauta de discussões está relacionada com o furo no teto de gastos em quase R$ 200 bilhões no ano que vem.

Ninguém sabe exatamente de onde Brasília vai tirar esse dinheiro.

Imposto sobre dividendos


Analistas do mercado estimam que a discussão deverá voltar e que um ponto de partida poderia ser o Projeto de Lei 2.337/21 (PL 2.337/21), elaborado pelo Executivo.

O PL, aprovado em 2021 na Câmara dos Deputados, possibilita a taxação dos dividendos e o fim dos juros sobre capital próprio (JCP). Porém, nada foi definido.

Impactos de uma medida como essa


Para medir o impacto da tributação de dividendos, o BTG Pactual fez um estudo com 140 empresas listadas na B3, usando dois cenários diferentes.

primeiro: 15% de imposto sobre dividendos, fim dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) e nenhuma redução no IR das empresas. O segundo usa os mesmos critérios, mas com uma redução de 5 pontos percentuais no IR.

De acordo com cálculo do BTG, os bancos e empresas de telecomunicações, que pagam muitos juros, sofreriam mais.

No pior dos cenários simulados, ambos os setores sofreriam uma queda de 17% em seus lucros em 2024, escreveram os analistas. No melhor cenário, com a redução de 5 pontos percentuais no IR, a queda no lucro dessas empresas seria de 10%.

Por outro lado, as empresas que não costumam fazer uso do benefício fiscal dos JCP — varejo em geral, provedores de internet (ISPs) e empresas de alimentos — sairão ganhando se os JCP acabarem e houver um corte na alíquota de IR. Considerando o segundo cenário, o BTG estima que essas empresas aumentariam de 6% a 7% seus lucros em 2024.

3 pontos importantes sobre a tributação

De acordo com o analista de ações da Nord Research Guilherme Tiglia, existem três pontos importantes em torno dessa discussão:

1 –  Compensação de prejuízos fiscais

A tributação do dividendo provavelmente vai acontecer com uma compensação no Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), sendo menos provável uma bitributação. Então, se os JCP acabarem e houver corte na alíquota, é ganho de lucro para empresas que não fazem o uso do benefício dos JCP (alguns setores tipicamente não fazem uso desse provento);

2 – O jogo só acaba depois do apito final

O que temos até então são declarações públicas favoráveis à proposta de tributação de dividendos, mas nada mais do que isso;

3 – Empresas vão continuar distribuindo

A remuneração com dividendos é definida no estatuto de cada empresa, então independentemente do cenário (de tributação ou não), as empresas têm a obrigação de continuar distribuindo. A questão é a atratividade…

O analista alerta que, com a tributação de dividendos, muito provavelmente “veremos as empresas priorizarem a recompra de ações em vez de dividendos, ainda mais considerando o patamar de preço observado hoje. Seria um caminho para continuar gerando valor aos acionistas”, disse Tiglia.

Publicidade

Onde investir neste fim de ano?

Veja as recomendações de diversos analistas em um só lugar.