A semana mostrou boa volatilidade de preços dos ativos de risco, mas dessa feita no sentido positivo. O agente motivador disso veio pelo noticiário internacional dando conta do bom andamento das negociações entre EUA e China, bons indicadores de atividade industrial, serviços e alta na commodity petróleo. No cenário local, indicadores anunciados durante o período, apontaram que a economia mostra sinais consistentes de recuperação, mas ainda em velocidade baixa.

No exterior, muitas idas e vindas no acordo comercial bilateral entre EUA e China. Os chineses insistem que as tarifas posteriores a março têm que ser revertidas e as demais gradualmente reduzidas. Já Trump, acena dizendo que as conversas são produtivas, mas que não tem pressa em fechar acordo e o melhor seria depois das eleições. O secretário de comércio Wilbur Ross, diz que é melhor um acordo que a definição de um prazo, e diz que se o acordo não for fechado Trump irá aplicar e elevar as tarifas. Fato é que, até aqui, não temos nenhuma definição mais concreta do que está acontecendo com o acordo, e isso gera grande incerteza na economia global

O secretário Ross e Trump indicam que a União Europeia tem levado muitas vantagens sobre os EUA e na semana voltaram a falar em tarifar a França e carros importados (leia-se Alemanha). Com relação a tarifas que iriam aplicar em produtos siderúrgico e alumínio ao Brasil e Argentina, ainda não existem definições e o governo brasileiro espera por isso para adotar providencias.

Mais comedido em suas declarações, o secretário do Tesouro americano Mnuchin, disse que os EUA terão crescimento “bastante significativo” em 2020, espera que o Congresso americano aprove logo o acordo USMCA (com o Canadá e o México) e diz ter preocupação com o endividamento e impostos corporativos. Essa visão de crescimento de Mnuchin foi corroborada pela divulgação do forte payroll de novembro, a criação de vagas na economia que expandiu 266.000 posições, quando o esperado era de no máximo 183.000 vagas. Taxa de desemprego também caiu mais, para 3,5%. O payroll forte e desemprego em queda reduzem as chances de o FED voltar a reduzir juros.

O presidente Trump encontrou Angela Merkel na reunião da OTAN, reforçou acordo com a China na direção correta e quer que a Europa custeie mais a estrutura da OTAN. O processo de impeachment de Donald Trump parece querer complicar mais, extrapolando a situação em relação à Ucrânia.

Na zona do euro, a presidente do BCE (Banco Central Europeu) Christine Lagarde, declarou que o crescimento segue baixo devido a fatores globais e que o BCE tem ferramentas para usar se a atividade não melhorar. Disse que vai revisar estratégias em futuro próximo. Porém, o noticiário internacional diz que o BCE já não tem muita folga para aprofundar a política monetária da região. A União Europeia quer conversar com o Reino Unido sobre o futuro depois do Brexit. No Japão, o gabinete de governo aprovou pacote de estímulos no montante de US$ 121 bilhões.

A semana foi também de divulgação de indicadores de atividade PMI da indústria, serviços e composto para diferentes países, e com exceção do Reino Unido, houve melhora. Mais significativo foi o PMI Caixin composto (inclui indústria) da China em novembro, com alta para 53,2 pontos, no maior patamar em 21 meses, mostrando que a economia pode estar voltando a recuperar. Na Austrália, o PIB do terceiro trimestre cresceu 0,4% e taxa anualizada de 1,7%. Na zona do euro, nova leitura do PIB do terceiro trimestre confirmou expansão de 0,2%, com taxa anula de 1,2%.

Bancos centrais também mantiveram juros. O Chile manteve a taxa básica em 1,75% e na Índia estabilidade em 5,15%. Na zona do euro, as vendas no varejo encolheram em outubro 0,6% (previsão era +0,1%) e na Alemanha as encomendas à indústria caíram 0,4% em outubro, com as encomendas internas encolhendo 3,2%. Ainda por lá, surpresa ruim com a produção industrial de outubro em queda de 1,7% e contra igual período anterior, contração de 5,3%. Nos EUA, o saldo comercial de outubro teve o déficit reduzido para US$ 47,2 bilhões (previsão era de US$ 48,5 bilhões), e o déficit com a China caindo para US$ 27,8 bilhões. Lá, as encomendas à indústria cresceram 0,3% em outubro e a confiança do consumidor de Michigan com alta para 99,2 pontos.

Tivemos ainda a tão aguardada reunião dos membros da OPEP e OPEP + (com aliados) sobre produção de petróleo. Ficou acertada nova redução de produção de 500 mil barris/dia que se soma ao corte anterior de 1,2 milhão dia. Essa solução visa adaptar a oferta para a demanda e pode ser revista na reunião de março. Isso acabou provocando alta do preço do óleo no mercado internacional e as ações da Petrobras se valorizaram no mercado local.

Aqui a semana foi bem positiva em termos de indicadores de conjuntura e nem tanto no aspecto político. Durante o período o IBGE anunciou o PIB do terceiro trimestre com expansão de 0,6%, e contra igual período em alta de 1,2%, o destaque positivo coube ao PIB agropecuário com +1,3% e contra igual trimestre +2,1%. Outro destaque coube à formação bruta de capital fixo com expansão de 2,0% no trimestre e de 2,9% contra igual período. Foi a oitava alta seguida. O consumo das famílias cresceu 0,8% no terceiro trimestre e 1,9% no comparativo, estimulado por liberações do FGTS. O consumo de governo é que mostrou queda de 1,4% no comparativo do terceiro trimestre. A taxa de investimento segue muito baixa em 16,3% do PIB e a de poupança com 13,5% do PIB.

O IBGE também divulgou a produção industrial de outubro com alta de 0,8%, mas no ano, ainda mostra contração de 1,1%. Bens de capital foi a grande decepção com contração no mês de 0,3% e no comparativo com outubro de 2018 ficou em -2,9% e bens de consumo no comparativo de outubro em 4,1%. Foi o terceiro mês seguido de expansão da atividade e acumula +2,4%. O destaque positivo foi para alimentação e fármacos e puxando para baixo o petróleo, metalurgia e indústria extrativa. Só para se ter ideia, bens de capital ainda estão 33,8% abaixo do pico.

O saldo da balança comercial de novembro, depois das correções de erros, registrou superávit de US$ 3,43 bilhões, com o ano mostrando superávit acumulado de US$ 41,1 bilhões. Sobre isso, erros de tal magnitude tem de ser explicados. Falando de inflação, o IBGE também divulgou a inflação oficial de novembro com alta para 0,51%, vindo de anterior em 0,10%. Foi a maior inflação para o mês desde 2015, com preços administrados crescendo 0,97%. Destaque para o aumento das carnes em geral e passagens aéreas. Mesmo com essa alta a inflação do ano está em 3,12% e em 12 meses em 3,27%, bastante tranquila e abaixo da meta.

No segmento local, a Anbima anunciou que a indústria de fundos captou R$ 228,2 bilhões no mês de novembro encostando no recorde de 2017. As empresas captaram R$ 440,8 bilhões também com recorde. Para ações, houve recorde com R$ 78,3 bilhões. Isso se contrapõem a postura dos investidores estrangeiros que tem sistematicamente retirado recursos da Bovespa. Até o dia 04/12 já tinham saído recursos no montante de R$ 669,0 milhões, deixando o saldo negativo líquido do ano de 2019 em R$ 39,9 bilhões.

Perspectivas    

Apesar dos sucessivos recordes de pontuação registrados pelo Ibovespa na semana, somos de opinião que há espaço para novas valorizações nesse final de ano e também ao longo do primeiro trimestre de 2020. Depois teremos as prévias da eleição americana e a situação promete ser tensa. Os investidores estão readequando posições e assumindo maiores riscos na tentativa de obter maior remuneração para os recursos investidos, e isso claramente beneficia o mercado acionário. Podemos citar o caso dos fundos de pensão ainda com participação fraca em ações e os investidores estrangeiros que seguem sacando recursos liquidamente da Bovespa.

A tendência do cenário externo é de alguma recuperação, principalmente na zona do euro, coordenada com a economia americana ainda forte, e a China voltando a investir e mantendo crescimento ao redor de 6%. Podemos citar também que inexistem pressões inflacionárias flagrantes nas principais economias, e isso é garantia de manutenção de juros muito baixos ou negativos. No entanto, ainda seguiremos perseguindo maiores definições sobre o acordo de comércio bilateral entre EUA e China, para dar maior garantia de crescimento econômico global. Porém, a questão parece muito bem encaminhada.

Aqui, sem prejuízo e sinais melhores de recuperação lenta da economia, inflação baixa e juros em queda, seguimos com a preocupação de que é preciso perseguir reformas estruturantes na economia, para dar segurança jurídica aos investimentos e tornar nossa economia mais competitiva. O problema é o adiamento na aprovação dessas reformas e as implantações de mudanças com rapidez.

Do ponto de vista da análise técnica, seguimos com nossa projeção de alcançar a marca de 115.000 pontos do Ibovespa ainda em 2019, com prazo encurtando, mas ainda passível de ser obtido. Bastaria que o fluxo de recursos fosse mantido e que o Congresso ajudasse aprovando medias ainda em 2019.
Alvaro Bandeira
Economista-chefe do banco digital Modalmais

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