As Olimpíadas realizadas neste ano de 2021 é um evento totalmente atípico. Diante de um estádio praticamente vazio em Tokyo, devido a pandemia de Covid 19, e carregando o tema da “diversidade”, o evento de abertura foi bem diferente de qualquer outra. E a escolha de Naomi Osaka – tenista, filha de pai haitiano e mãe japonesa – para carregar a chama olímpica representa não apenas a presença feminina no esporte, mas também um marco contra a discriminação racial.
Mas quem vê os 48,8% de participantes femininas nas Olímpiadas de Tokyo não se engane, pois nem sempre foi assim. Nos primeiros Jogos Olímpicos na Atenas de 1896, a prática esportiva era apenas para homens. Atribui-se a seu idealizador, o barão francês Pierre de Coubertin, a frase: “Uma Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, sem estética e imprópria”. Ou seja, as mulheres foram “convidadas” a ficar “no lugar delas”, como muitos ainda insistem até hoje.
Em 1900 as mulheres puderam finalmente participar, mas eram apenas 2% dos competidores, e participavam apenas de esportes considerados “mais leves” como tênis e golfe. Somente em 1912 foi possível a participação feminina na natação; e no atletismo esta participação só ocorreu em 1928. No Brasil houve até decreto-lei proibindo as mulheres de participar de esportes “incompatíveis com a sua natureza”, como futebol e luta. Somente em 1979 esta legislação foi derrubada.
A autorização para que as mulheres pudessem participar efetivamente das Olimpíadas aconteceu apenas em 2012, com a inclusão de categorias femininas e masculinas em todos os esportes. E certamente está opção não foi concedida: foi fruto de luta, suor e esforço, e digno de muito orgulho. Cada mulher que já subiu em um pódio não ganhou apenas uma medalha, mas traz consigo a sensação de vitória de uma luta por direitos que advêm de séculos de discriminação e preconceitos.
Ainda que essas mulheres incríveis tenham feito história, a representatividade feminina ainda é um desafio que precisa de incentivo. E isto se aplica não apenas aos esportes. Com a maior presença de mulheres ocupando posições profissionais como CEO, CFO, membros de conselho de grandes empresas, gera-se uma sensação de pertencimento para que as meninas possam acreditar que é possível ir atrás de seus sonhos. Como disse Kamala Haris (primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos) em seu discurso de posse: “Posso ser a primeira mulher a ocupar este cargo, mas eu não serei a última.”
Ainda vivemos um mundo onde menina ganha boneca e os meninos ganham carrinho e skate, mas alguns de nós sonham diferente. Grande exemplo nos trouxe a skatista Rayssa Leal, a Fadinha, que com apenas 13 anos conquistou a medalha de prata em Tokyo em um esporte e até bem pouco tempo considerado “masculino”.
E você, o que está fazendo para ajudar e inspirar outras mulheres? Seja no esporte, no mundo corporativo ou industrial, se cada uma que conseguiu se destacar fizer um pouquinho, podemos ter cada dia mais representatividade.
Roberta de Fátima Minetto Cantelmo
Tem 47 anos, é casada, mãe, avó. Inconformada com injustiças e preconceitos, amante da natureza, dos animais, dos livros e das artes, escolheu o Pilates como esporte. É contadora, formada pela USP, com MBA em Controladoria também pela USP. Nos últimos anos ocupou posições de lideranças em Controladoria e Governança em empresas multinacionais, principalmente ligadas ao agronegócio. Também é membro do W-CFO, grupo de integração de executivas de finanças com o objetivo de apoio mútuo, promoção da diversidade e inspiração para novos profissionais.