Caro Investidor!

Se sua modalidade de investimentos principal é a Renda Variável, você deve ter se preocupado com as quedas das ações nos últimos meses e com os sucessivos tombos do Ibovespa. Inclusive pode estar vivendo um período de nostalgia, porque há um ano o índice passava dos 133 mil pontos e o Natal da bolsa brasileira tinha sido um espetáculo em 2023. Mas não se pode deixar o pessimismo tomar conta porque 2025 vem aí e tudo pode ser diferente.

Segundo o relatório as perspectivas para o ano que vem da Terra, apesar da alta dos juros, a bolsa brasileira segue com ações negociadas a um desconto em relação à sua média histórica, com um P/L de 7,5x, o que sugere uma possível oportunidade de compra, especialmente considerando que as empresas têm apresentado bons lucros e aumento de dividendos. 

“Mesmo com o cenário fiscal desafiador, o cenário de dividendos elevados e a proteção contra a inflação por meio de títulos atrelados ao IPCA podem beneficiar alguns setores, como infraestrutura e energia. Entretanto, a falta de confiança no cenário fiscal e o pessimismo com o futuro econômico podem continuar a pesar negativamente sobre a bolsa em 2025. A falta de previsibilidade nas políticas econômicas e as saídas de capital estrangeiro e institucional podem manter a volatilidade alta.”

De acordo com a análise, as alternativas que você investidor deve estar atento são:

• Infraestrutura: Com a elevação dos juros, os fundos de infraestrutura devem continuar sendo uma das alternativas mais atrativas, especialmente aqueles que investem em debêntures incentivadas de setores como rodovias e saneamento, que têm um fluxo de caixa estável. Além disso, o setor energético, especialmente energias renováveis, tende a ser beneficiado pela alta demanda e pela busca por sustentabilidade.

• Setor de Commodities: Agronegócio e mineração têm boas perspectivas em um cenário global de busca por segurança alimentar e energética. O aumento da demanda por produtos como petróleo, soja e minerais, combinado com a volatilidade cambial, pode impulsionar empresas desses setores.

• Tecnologia: As ações ligadas a tecnologia e inteligência artificial têm grande potencial de crescimento, impulsionadas pela inovação global e pela digitalização dos processos, além do baixo custo de financiamento que pode aumentar a competitividade dessas empresas.

Ibovespa:

Fonte: B3

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, na renda variável, a tendência é negativa, com preferência pela renda fixa, devido aos juros altos. “Ações exportadoras e seguradoras podem ter algum destaque positivo, enquanto setores como varejo devem sofrer mais. No mercado de commodities, o petróleo e o minério de ferro tendem a recuar devido à desaceleração da economia chinesa e à normalização da oferta”, comenta.

Ceticismo e pessimismo

Conforme Paulo Cunha,  CEO da iHub Investimentos, a bolsa brasileira enfrenta um momento desafiador. “Apesar de não ter registrado quedas tão expressivas quanto as observadas nos juros e no dólar, isso se deve, em parte, ao desempenho das empresas exportadoras, que se beneficiam de um dólar mais alto, e ao valuation já bastante descontado de muitas ações – algo que vem sendo discutido há cerca de dois anos. No entanto, faltam gatilhos positivos para uma recuperação consistente”, disse.

Para o especialista, essa falta de atratividade tem afastado tanto investidores pessoa física quanto institucionais, como bancos e fundos, que preferem reduzir suas exposições no Brasil. “O resultado é um cenário marcado por ceticismo e pessimismo, que deve perdurar nos próximos meses.

Estratégia 

Para Viviane Las Casas, especialista da Valor Investimento, mesmo com a taxa Selic elevada, investir na bolsa de valores pode ser uma estratégia interessante, “especialmente ao considerar ações que oferecem um Dividend Yield (DY) superior a 12%. Contudo, é fundamental avaliar alguns pontos antes de tomar essa decisão”.

Dividend Yield Atraente – Ações com DY acima de 12% indicam que a empresa distribui uma parcela significativa de seus lucros aos acionistas, oferecendo uma fonte de renda passiva que pode superar os retornos de muitos investimentos em renda fixa. Recentemente, um levantamento da Infomoney identificou ações que continuam pagando dividendos superiores ao CDI. Isso reforça o potencial de geração de fluxo de caixa consistente para os investidores.

Viviane comenta que para aproveitar essas oportunidades, é essencial analisar os seguintes aspectos:

  • Sustentabilidade dos Dividendos: Verifique se a empresa possui lucros consistentes, baixo nível de endividamento e boa capacidade de geração de caixa. Essas características indicam uma maior probabilidade de manutenção ou aumento dos dividendos no longo prazo.
  • Setor de Atuação: Alguns setores são mais resilientes em períodos de juros elevados, como os de seguros, energia elétrica e bancos. Empresas como BB Seguridade (BBSE3) têm sido destacadas por analistas devido à sua solidez e capacidade de se beneficiar em cenários de juros altos.
  • Perspectivas Econômicas: Considere o impacto do ambiente macroeconômico sobre a empresa. Setores mais sensíveis ao custo do crédito, como imobiliário e consumo, podem enfrentar maiores desafios, enquanto setores defensivos tendem a performar melhor.
  • Valorização do Ativo: Além dos dividendos, avalie o potencial de valorização da ação. Empresas que pagam bons dividendos, mas que apresentam quedas significativas no preço de suas ações, podem não oferecer um retorno atrativo no longo prazo.

De acordo com Viviane, apesar de a renda variável seguir atrativa em termos de valuation, o cenário macroeconômico atual apresenta desafios importantes.

  • Resiliência das Empresas: O menor nível de alavancagem, a maior eficiência operacional e a consolidação setorial alcançada por muitas empresas nos últimos anos indicam que elas estão melhor preparadas para enfrentar cenários econômicos adversos.
  • Riscos Fiscais e Confiança no Mercado: Um compromisso mais sólido do governo com as contas públicas é essencial para reduzir os elevados prêmios de risco implícitos nas taxas de juros de longo prazo. Contudo, medidas fiscais recentes têm frustrado expectativas, o que prejudica a restauração da confiança no mercado acionário.
  • Dinâmica de Fluxo: Mesmo com preços atrativos em algumas ações, o fluxo para a renda variável local pode continuar pressionado negativamente no curto prazo, dada a preferência atual por ativos de renda fixa.

Por fim, a especialista comenta que investir em ações com alto Dividend Yield pode ser uma boa opção, mas requer análise cuidadosa. 

“É importante considerar a sustentabilidade dos dividendos, as condições econômicas, a saúde financeira da empresa e o potencial de valorização do ativo. Embora a renda variável apresente oportunidades interessantes, a falta de gatilhos claros para uma recuperação de confiança no mercado pode limitar os ganhos no curto prazo”, afirma.

Para equilibrar riscos e retornos, segundo Viviane, é adotar uma abordagem diversificada e uma alocação tática pode ser essencial. Além disso, aguardar sinais mais robustos de melhora no cenário fiscal e econômico será fundamental para identificar o momento ideal de aumentar a exposição ao mercado de ações.

(Colaborou na produção: Márcia Sobotyk)