Em 2004, o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, sugeriu maior atenção (leia-se engajamento) das instituições financeiras com as questões ambientais, sociais e de governança ao analisar seus investimentos. De lá para cá essa questão evoluiu, até porque o aquecimento global, escassez de recursos naturais, catástrofes ambientais, desigualdades sociais, crescentes conflitos pelo uso da terra e da água não são preocupações infundadas, reconhece a PwC no estudo denominado “Divulgações de ESG no Ibovespa”, em que trata da análise dos pilares ESG nos relatórios não-financeiros. Na amostra foram analisados os relatórios de 78 das 81 empresas que compõem o Ibovespa, na B3.

Desses, 81% são do período 2020 e os outros 19% de 2019 e estão no formato Relatório de Sustentabilidade (metade), Annual Report e Relato Integrado. O padrão GRI para quem utiliza framework é uma quase unanimidade (97% dos pesquisados). Sobre Pactos e Metas, é destacada a citação de 90% ao Pacto Global/ODS; 63% fazem referência ao GHG Protocol e 21% ao Women´s Empowerment Principles.

Em relação à materialidade, os temas mais citados são: Condições de trabalho, capacitação e retenção de funcionários (91%); Ética e integridade (84%); Satisfação do cliente (70%); Inovação e tecnologia (70%); Impactos socioambientais/ações sociais (70%); Mudanças climáticas (66%); Gestão de uso da água e energia (60%); Diversidade e inclusão (55%); Divulgação de Metas relacionadas a aspectos ESG (69%).

Embora 48% das companhias analisadas façam parte do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da B3, algo parece incomodar a PwC: 43% dos relatórios não passaram por nenhum tipo de asseguração e somente 30% foram assegurados por auditor independente, o que os leva a concluir que “as empresas divulgam sustentabilidade, mas não estão comprometidas em assegurar as informações ao público”.

Com a necessidade de reporte sobre sustentabilidade no Formulário de Referência, previsto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – adotando o “pratique ou explique” –, o panorama pode ser diferente já a partir dos relatórios 2021 a serem publicados no ano que vem.

FIRJAN  

O conceito de gestão ambiental, social e de governança, resumido na sigla ESG (em inglês), de agora em diante estará presente não apenas nas companhias abertas. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), por exemplo, acaba de lançar a publicação “Critérios e Métricas ESG para a Indústria”.

Ao justificar esta ação, o presidente em exercício, Luiz Césio Caetano, disse que as organizações ao assumir a responsabilidade social “vêm promovendo uma revolução cívica” e esta exigência da sociedade, que começou pelas grandes companhias, tem agora “como desafio maior que a pequena e média empresa entendam como funciona o conceito ESG e o incorpore em seus negócios”. A publicação está disponível no site www.firjan.com.br/esg .

RATING

Elaborar o Rating ESG de instituições, bem como de toda a classe de ativos, é a proposta do Sustainable Fitch que a Fitch lança, para avaliar produtos rotulados como sustentáveis. Mais adiante a agência pretende estender esse rating a todos os produtos de renda fixa.

BNDES  

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está entre as empresas mais bem avaliadas do mundo pela Vigeo Eiris (V.E), agência de classificação associada à Moody’s Corporation que avalia o desempenho das organizações de acordo com critérios ambientais, sociais e de governança (em inglês, ESG).

Entre as 4.913 empresas participantes do ranking mundial, o BNDES está na 86ª posição e quando analisados somente o item “Mercados Emergentes”, no universo de 848 organizações, o banco de fomento brasileiro está em 4º lugar.

“O BID tem muito orgulho de apoiar o BNDES a consolidar sua reputação internacional como uma instituição que atua segundo os mais altos princípios de ASG. Ajudar a fazer a conexão entre capitais internacionais comprometidos com benefícios sociais e ambientais e atores atuantes nesse sentido na América Latina é parte central da estratégia do BID para promover a recuperação econômica da região, a nossa chamada Visão 2025”, disse Morgan Doyle, representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento no Brasil.

TÍTULO

A Bolsa de Valores do Brasil (B3) é a primeira no mundo a emitir um Sustainability Linked Bond (SLB), no valor de US$ 700 milhões, comprometendo-se com metas ligadas à sustentabilidade, entre as quais a criação de um índice de diversidade para o mercado brasileiro e o aumento de mulheres em cargos de liderança dentro da própria Bolsa. O SLB é um título de renda fixa e será destinado a investidores institucionais.

Este bond tem prazo de 10 anos e a remuneração é de 4,125% a.a. Caso a meta de diversidade não seja atingida, serão acrescidos 0,125% a partir do pagamento do cupom (setembro 2025); e para o caso das mulheres, se o percentual de 35% não for alcançado serão acrescidos 0,125% a partir do pagamento deste cupom (setembro de 2027).

BDR

O Banco B3, em parceria com a gestora de ativos BlackRock, já disponibiliza quatro novos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) lastreados em ETFs (Exchange Traded Funds) listados nos Estados Unidos.

De novembro de 2020 até o último dia 13 foram lançados 69 BDRs de ETFs, na B3. Destes, 45 já estão disponíveis para o investidor pessoa física.

REDUÇÃO

A Bradespar agendou para 15 de outubro próximo uma AGE a fim de aprovar a redução de capital. A holding do Grupo Bradesco vai realizar a entrega de ações da Vale a seus acionistas. O montante de mais de 123 milhões de ações da mineradora é equivalente a R$ 11 BI.

DIVIDENDOS

Se você acredita que comer nhoque (inhoque, ou gnocchi – na grafia original) todo dia 29, com uma cédula de dinheiro embaixo do prato, dá sorte… faça isso.

Agora, se você comer esta “bella massa” e for acionista da Vale, melhor ainda. É que no próximo dia 30 a mineradora vai distribuir R$ 40 BI (R$ 8,10 por ação) em dividendos. Prepare o champanhe (champagne ou um prosecco mesmo).

RECOMPRA

A brMalls, gestora de shoppings, vai enxugar 5% de suas ações em circulação. Em Fato Relevante, a companhia anunciou a recompra de 42 milhões de ações ordinárias “com a finalidade de maximizar a alocação de caixa, gerando valor a seus acionistas”.   

CODESHARE

A Gol anunciou a extensão do contrato de compartilhamento de voos com a American Airlines, cujo codeshare será exclusivo pelos próximos três anos. Aproveitando os bons ventos entre ambas, a parceira do Norte vai aportar US$ 200 milhões na parceira do Sul, via compra de ações.   

MULHERES

Foi uma festa lusófona. Na semana que passou o português António Guterres, secretário-geral da ONU, anunciou a brasileira Solange Ribeiro como Vice-Presidente do Conselho do Pacto Global da Organização das Nações Unidas.  

Com larga experiência no setor elétrico, a patrícia é Diretora-Presidente Adjunta da Neoenergia, companhia que alinhou seu modelo de negócio aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, especialmente com o ODS 7 (energia limpa e acessível) e o ODS 13 (ação climática).

VISITA

Dando um rolezinho básico pelo país, Gisele Bündchen esteve no Brasil para cumprir agenda de três dias com a Ambipar, empresa da qual se tornou acionista, embaixadora e membro do Comitê de Sustentabilidade.

Entre os compromissos, a supermodelo visitou a matriz da companhia em Nova Odessa, interior de São Paulo, onde foi recebida pela CEO da Ambipar Environment, Cristina Andriotti. 

ENCONTRO

Lembrando que o 22º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, que tem apoio do Portal Acionista, acontecerá nos próximos dias 27, 28 e 29, em formato digital.

Na pauta, Desafios do ESG; Transformação digital e Comunicação financeira; Relacionamento; Alterações na ICVM 480 e cases envolvendo as relações com investidores.   

Inscrições podem ser feitas diretamente pelo link https://encontroderi.com.br/inscricoes/

IPO

A Associação dos Profissionais de Investimentos e Analistas do Mercado de Capitais promoverá, dia 22 próximo, o “3º Web Encontro Apimec sobre IPO”.

Entre os temas, Estruturação de ofertas; Due Diligence; Valuation, Engajamento e ESG.

As inscrições serão aceitas até o dia 21: https://www.youpro.live/webinar/apimec_3web_encontro_sobre_ipo/

PET SIM

A Suzano consolida sua entrada no mercado pet, em razão da parceria com a Petix, maior fabricante de tapetes higiênicos no país. O Brasil já é o terceiro maior mercado pet do mundo. Segundo o Instituto Pet Brasil, em 2020 o segmento faturou mais de R$ 40 bilhões.

O constante crescimento mesmo em tempos de pandemia é justificado pela “humanização” dos bichinhos. A parceria entre Suzano e Petix surgiu em 2017 quando esta última inseriu a Eucafluff da Suzano (celulose kraft branqueada de eucalipto para aplicações em produtos absorventes e de higiene pessoal descartáveis) como matéria-prima, tornando-se a empresa pioneira em ofertar um portfólio de produtos mais sustentáveis e de melhor absorção.

FÓSSIL NÃO

Em levantamento inédito, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) aponta que a potência instalada operacional da fonte solar fotovoltaica em grandes usinas solares (geração centralizada) conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) acaba de ultrapassar a soma da potência de usinas termelétricas fósseis à carvão mineral.

De acordo com o mapeamento são 3,8 gigawatts (GW) em grandes usinas solares, contra 3,6 GW em termelétricas fósseis movidas a carvão mineral. A Absolar informa também que desde 2012 a geração centralizada solar trouxe ao Brasil mais de R$ 20 bilhões em novos investimentos e gerou mais de 114 mil empregos, além de proporcionar uma arrecadação de R$ 6,3 bilhões aos cofres públicos.

CAMPANHA

Se ainda existia alguma dúvida sobre o start da campanha presidencial, não há mais. É que o presidente Jair Bolsonaro, virtual candidato à reeleição, assinou decreto elevando as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras que incide sobre crédito, câmbio e seguro, bem como sobre os valores mobiliários.

Com isto, o caixa do governo vai ganhar R$ 2,14 bilhões ainda neste ano. Do montante estimado, R$ 1,6 bilhão vai para o novo Bolsa Família rebatizado de Auxílio Brasil – que deverá entregar R$ 300,00 mensais a cada participante cadastrado.

ARTIGO

Crise hídrica: produzir água é aposta contra a crise

(*) Rinaldo de Oliveira Calheiros

O período de estiagem na maior parte do País compromete os reservatórios de água que abastecem as principais hidrelétricas. Com menos água, a produção de energia se torna mais cara e o risco de apagões e desabastecimento volta a assombrar a população. Pesquisas indicam que a escassez de chuva para a geração de energia é a maior dos últimos 91 anos. E se eu dissesse que é possível produzir água por meio de recuperação físico-hídrica das bacias hidrográficas, de forma sustentável e com investimentos mais baratos do que os empregados atualmente? 

O método que desenvolvi e que hoje pode ser posto em prática resulta em Aumento da Disponibilidade Hídrica para Empreendimentos, Municípios e Regiões. Desenvolvida e aprimorada ao longo dos últimos anos, a metodologia se baseia na aplicação da chamada infraestrutura verde (soluções baseadas na natureza) que é mais sustentável e economicamente mais atraente do que os métodos tradicionais, conhecidos como infraestrutura cinza (baseado em obras de engenharia civil), podendo ser aplicada em qualquer bacia hidrográfica do País. Essa solução atende tanto governos e entidades públicas que queiram aumentar a capacidade de produção e disponibilidade de água das bacias hidrográficas de suas regiões, quanto empreendimentos imobiliários, indústrias, mineradoras e o agronegócio, setores tradicionalmente dependentes de grande quantidade de água. 

No interior de São Paulo, a cidade de Vinhedo, com 80 mil habitantes, decidiu apostar nesse método que prevê um aumento do volume do lençol freático da bacia hidrográfica na extensão de seu território correspondente até 11 centímetros. Essa medida, que para o olhar de um leigo pode parecer pequena, é capaz de substituir a reserva de água de quatro represas, quantidade necessária para dar conta do consumo do município, garantindo que não venha sofrer com falta d’água ou racionamento. Aplicar o método de produção de água por meio de tecnologia verde representaria um investimento 50% menor do que a construção de represas. 

Um dos grandes diferenciais da solução é a possibilidade de quantificação da produção de água a partir da recuperação, graças à aplicação de modelo computacional que automatizam os cálculos, garantindo precisão e agilidade nos processos. Comparando o custo estimado de construção de represas (R$ 77.807.968,28) com a metodologia desenvolvida (R$ 36.042.700,29), os cofres públicos de Vinhedo ganham em economia, preservação ambiental e qualidade de vida para sua população.  


O mesmo princípio foi aplicado na cidade de Extrema, em Minas Gerais. Na região rural do município, o método de infraestrutura verde, dentro do Programa Conservador das Águas, possibilitou que os proprietários rurais fossem beneficiados pela recuperação físico-hídrica das bacias, que passaram a absorver mais água da chuva e, consequentemente, aumentaram a produção de água cuja maior beneficiada foi a região metropolitana de São Paulo. 

Vale lembrar que a crise hídrica nacional tem origem tanto na ocupação e utilização dos solos de forma desordenada, sem planejamento, quanto pelo agravamento das mudanças hidrológicas climáticas envolvendo o regime de chuvas que tem mudado muito nos últimos anos. Porém, não podemos esquecer que a região sudeste, por receber grande parte das indústrias, adensamento populacional, irrigação e diversos outros usos, tem sido a mais sacrificada pela, cada vez mais recorrente, escassez hídrica. 

A escassez hídrica é cada vez mais iminente e parece ser inexorável. Fica cada vez mais claro que a única alternativa efetiva de evitar isso, ou pelo menos minimizar seus efeitos, é a aplicação de soluções baseadas na natureza. E isso não se trata de transformar tudo em grandes florestas, mas de adaptar nosso sistema de ocupação das áreas e nossos sistemas produtivos em atividades que respeitem os processos hidrológicos naturais, minimizando os impactos, racionalizando o uso e aumentando a produção de água. No que se refere à água, desde as mais antigas civilizações procurou-se resolver os problemas combatendo os efeitos e não a causa. A ação destruidora do ser humano chegou até o momento em que a natureza não conseguiu mais ‘cobrir a nossa conta’ e, hoje, somos exigidos para corrigir esse erro. 


O método que proponho para a produção de água por meio de recuperação físico-hídrica das bacias tem como ponto chave o aumento da capacidade de retenção de água da chuva pelo solo. Com o passar dos anos, a ação do homem sobre a natureza vem causando impermeabilização do solo. O método, com suas ações sistemáticas, prevê a recuperação desse solo, para que ele retome sua capacidade de absorção, infiltração e percolação da água da chuva, aumentando assim as reservas hídricas subterrâneas. A solução parece lógica, no entanto é o planejamento dessa recarga em etapas sucessivas e específicas atuando em cada plano da paisagem que torna o método diferenciado e eficiente. 

Produzindo água desta forma é possível recuperar rios e córregos que secaram, pois ao aumentar a retenção de água pela infiltração no solo, a água que escorreria superficialmente e seria perdida em poucas horas ao abandonar a bacia hidrográfica na parte mais baixa do terreno através dos córregos é preservada abastecendo os lençóis subterrâneos, que por sua vez, irão abastecer as nascentes e os córregos através do fluxo de base. É essa água, que vem do fluxo de base, que diferencia os rios e córregos permanentes daqueles sazonais como os do Nordeste, por exemplo. 


A solução é uma alternativa ágil, verde, ética e mais econômica para o aumento da capacidade hídrica. Existe um conceito generalizado de que as ações de conservação de infraestruturas verdes só renderão resultados para as gerações futuras. Nesta alternativa isto não é verdadeiro, porque vamos além da recuperação da mata ciliar onde, de fato, o processo é demorado, afinal uma árvore demora alguns anos para crescer e exercer a proteção por inteiro que deveria dentro do processo hidrológico. 


O diferencial do modelo é que ele não está baseado apenas no reflorestamento, e sim na paisagem como um todo, começando pela mata de topo de morro onde é possível evitar o começo da erosão do solo e, principalmente, incluindo a área de meia encosta, com práticas como o terraceamento, a adequação da porosidade dos solos, a proteção das estradas rurais, entre outras ações, que fazem com que a retenção da água da chuva aconteça. Em até um ano após o início do processo de recuperação da área já é possível notar um aumento significativo na vazão das nascentes, córregos e rio daquele sistema hídrico.

(*) Rinaldo de Oliveira Calheiros é engenheiro agrônomo, doutor em Recursos Hídricos (Irrigação e Drenagem), consultor responsável pela coordenação da equipe de Sustentabilidade Hídrica da Synergia Socioambiental.  

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