No sábado dia 7 deste mês, o Hamas (organização terrorista palestina, que controla a faixa de Gaza) atacou Israel de surpresa, matando mais de mil israelenses e levando aproximadamente 200 reféns de todas as idades, desde bebês até idosos.

Logo após o ataque, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o Hamas iria pagar um preço que jamais conhecera. Assegurou também que os bombardeios contra Gaza, que já haviam começado, seriam seguidos por uma invasão por terra.

De sua parte, os líderes do Hamas asseguraram que, a cada bombardeio que Israel desencadeasse, um refém seria executado.

Pelo menos até o momento em que escrevo este texto, nem os israelenses lançaram o ataque por terra, nem o Hamas executou reféns. Chegou até a devolver alguns a pedido do Qatar, país que, por sinal, abriga líderes da organização.

Crises e impasses envolvendo reféns sempre foram instrumentos de guerra e podem demorar meses e até anos para serem solucionados.

Um exemplo marcante foi a crise dos reféns na embaixada americana em Teerã.

Dezessete dias após a fuga do xá Mohamed Reza Pahlavi de Teerã, o poder no país foi assumido pelo aiatolá Khomeini (1902-1989), que instaurou um governo teocrático que prevalece até hoje, através de seus sucessores.

Em 4 de novembro de 1979, com a complacência da polícia e das forças armadas da agora chamada República Islâmica do Irã, estudantes partidários de Khomeini invadiram a embaixada americana, tomando como reféns 52 pessoas, entre diplomatas, funcionários e fuzileiros navais encarregados da segurança.

Só para demonstrar como essas crises são difíceis de serem solucionadas, os reféns só foram libertados 443 dias depois, em 20 de janeiro de 1981, quando Ronald Reagan assumiu em lugar de Jimmy Carter, que não conseguiu se reeleger.

Não se sabe se o aiatolá libertou os reféns por receio de um ataque dos Estados Unidos ao país ou se houve algum tipo de acordo secreto com Reagan (liberação do dinheiro iraniano retido nos bancos americanos, por exemplo). 

Durante o governo Carter, comandos de elite das forças armadas dos Estados Unidos tentaram executar uma operação de resgate, que recebeu o nome de Eagle Claw (Garra de Águia), que fracassou numa troca de aeronaves (de aviões para helicópteros) em um deserto iraniano, ocasião em que dois dos helicópteros se chocaram e explodiram, provocando a morte de oito integrantes da missão.

Com isso, o governo iraniano distribuiu os reféns pelo país, inviabilizando qualquer nova tentativa de resgatá-los.

Como se vê, ações militares (ou terroristas, como queiram) envolvendo reféns podem se estender por longo período.

Mas nem sempre.

Em 27 de junho de 1976, um Airbus A300 da Air France, que cumpria o voo Tel Aviv / Paris, com escala em Atenas, na Grécia, foi sequestrado por terroristas de uma estranha união de integrantes da Frente Popular de Libertação da Palestina com as Células Revolucionárias da Alemanha e, após um pouso para reabastecimento na Líbia, levado para o aeroporto de Entebbe, nas proximidades de Kampala, capital de Uganda.

O ditador ugandense Idi Amin Dada cometeu três erros, que mais tarde iriam lhe custar o poder:

  • Aceitar o pouso em seu território.
  • Deixar que apenas os passageiros judeus fossem feitos reféns, sendo os demais libertados para seguir para Paris.
  • Permitir que os aprisionados permanecessem juntos, num salão do terminal antigo do aeroporto de Entebbe.

Com as informações que a Inteligência israelense obteve na capital francesa, dos passageiros que lá chegaram, os sete terroristas foram identificados.

Israel então montou uma operação arriscadíssima para libertar os reféns. Quatro aviões Hércules percorreram 4.500 quilômetros, levando comandos, e pousaram em Entebbe no meio da noite, com os soldados invadindo o terminal.

O sucesso foi total:

Todos os terroristas, pegos de surpresa, foram mortos. Cento e dois reféns foram resgatados. Apenas três morreram no fogo cruzado. Quarenta e cinco soldados ugandenses mortos pelos comandos israelenses.

Dos componentes da missão de resgate, Yonatan (Yoni) Netanyahu (irmão do atual primeiro-ministro de Israel), foi a única baixa no combate.

Em 1996, uma festa da embaixada japonesa em Lima, no Peru, foi invadida por guerrilheiros do grupo Tupac Amaru. Cento e vinte e seis diplomatas, inclusive diversos embaixadores, foram mantidos reféns durante 126 dias.

O episódio só terminou com a intervenção de um grupo de elite das forças armadas peruanas, comandado pelo próprio presidente Alberto Fujimori. Quatorze guerrilheiros foram mortos, assim como um dos reféns e dois militares.

Em minha opinião, a guerra Israel/Hamas vai terminar com algum tipo de acordo, mediado pelos Estados Unidos e alguns países árabes.

Só que essa solução poderá levar tempo. É por essa razão que a “arma refém” é utilizada nesses casos.

Caso contrário, as tropas israelenses já estariam combatendo o Hamas nas areias e na rede de túneis da faixa de Gaza.

Um ótimo fim de semana para todos os leitores.

Ivan Sant’Anna

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