Um ranking sem diversidade

Existe uma enorme lacuna racial e de gênero que separa pessoas de grupos minorizados dos cargos de liderança de alto escalão. E esta lacuna tem nome e sobrenome: preconceito e falta de oportunidades.

O padrão que constantemente ocupa o topo, tem a chancela de ter os melhores cargos, receber as melhores remunerações e manter essa estrutura de poder intacta.

Embora alguns digam que chegar no topo foi sorte, as barreiras que insistem em impedir o acesso de outros grupos a estes lugares, refletem um conjunto de desigualdades camuflado de meritocracia.

Recentemente a Forbes Money publicou uma lista dos CEOs mais bem pagos do Brasil, com base nos dados da CVM – Comissão de Valores Mobiliários -, uma instituição vinculada ao Ministério da Economia que é responsável por regulamentar o mercado financeiro no país, conciliando sempre os interesses de investidores e empresas.

Em meio a este ranking do poder, o que mais chamou atenção não foram as cifras milionárias relacionadas às remunerações recebidas por estes executivos, mas a unânime ausência de diversidade. Para a surpresa de poucos, dentre os 20 listados, havia zero diversidade: todos eram homens e brancos. Uma imagem que além de impactar, mostrou como a estrutura de poder no país tende sempre a privilegiar os mesmos grupos.

A lacuna racial e de gênero em números

Na sociedade brasileira, embora 51,8% da população seja composta por mulheres e 56% representam pretos e pardos, estes números não se refletem nos cargos de alto escalão. De acordo com o estudo realizado pela Page Executive – unidade de negócio do PageGroup em parceria com a Fundação Dom Cabral -, uma a cada 10 posições de CEO é ocupada por mulheres ou negros, ou seja, 90% dos CEOs das empresas brasileiras são homens brancos. (Fonte: Geledés)

Visivelmente os números não mentem quando mostram que estes dois grupos – mulheres e pessoas negras –  não estão devidamente representados nos cargos de poder. E se aprofundarmos esta análise, veremos que as mulheres que alcançaram o cargo de CEO nas empresas, são em sua maioria brancas.

Em um levantamento feito pela Gestão Kairós – consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade – , revelou-se que entre 900 líderes entrevistados com nível gerencial ou acima, apenas 25% são mulheres e entre elas 3% são negras. (Fonte: Istoé DInheiro)

Daí a importância de se fazer um recorte de diversidade de forma interseccional, pois neste caso o fato de ser mulher e negra diminui ainda mais a possibilidade de ascensão na carreira e a presença destas profissionais em cargos C – level.

Um estudo da McKinsey & Company em 2018 comprovou que empresas com maior diversidade de gênero em cargos de liderança têm 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado. No caso da diversidade étnica, esse número sobe para 33%. (Fonte: Fast Company Brasil)

O perigo do Diversity Washing

Diversity washing – conhecido também como “lavagem da diversidade” – é um termo utilizado para se referir às empresas que se dizem diversas e inclusivas, utilizando o conceito de diversidade somente na comunicação da marca, porém internamente, não assumem a pauta com comprometimento e de forma efetiva.

Quando Liliane Rocha, fundadora da consultoria Gestão Kairós e autora do livro “Como ser um Líder Inclusivo” difundiu este conceito, ela tocou no calcanhar de Aquiles de muitas organizações que não têm feito uma gestão inclusiva na hora de propagar a diversidade da porta para dentro.

Por que a demografia da sociedade não se repete

dentro da empresa, e menos ainda quando a gente

olha para altos níveis hierárquicos?”

(Liliane Rocha, em entrevista para o Ela S.A)

 

Essa falsa ideia de inclusão e falta de comprometimento com a pauta, na verdade boicota as próprias organizações no quesito lucratividade.Consumidores que não se enxergam nas empresas, tendem a não consumir mais fazendo com que as marcas percam sua credibilidade no mercado.

Logo, empresas verdadeiramente diversas e com um ambiente de trabalho inclusivo, acolhedor e seguro, produzem maiores resultados e aumentam a competitividade.

Mas como combater o Diversity Washing? 

  • Fazer um Censo de diversidade e inclusão para conhecer melhor sua equipe
  • Investir em mudanças na cultura organizacional da empresa
  • Revisar processos internos e criar novas políticas inclusivas
  • Elaborar programas de empregabilidade e educação corporativa alinhados com a política de diversidade

Para ficar bem na foto e no ranking, é preciso DIVERSIDADE!

Há algumas semanas a revista RAÇA trouxe uma edição especial histórica, dedicada a dezenas de executivos negros e negras, que chegaram (e ficaram!) no topo.

Ao estampar na capa a chamada “A Nova Era de Executivos Negros”, a revista ilustrou Samantha Almeida, Diretora de Criação e Conteúdo na rede Globo, e Mauricio Rodrigues, presidente da Bayer Crop Science.

Além deles, outros executivos foram entrevistados e abrilhantaram as páginas da revista, como uma celebração a todos que conquistaram seus espaços e assumiram o comando em grandes empresas.

Se a população brasileira é predominantemente composta por mulheres e pessoas negras, por que não os vemos nos altos níveis hierárquicos das empresas? Por que não estão representados como os mais ricos executivos do Brasil? A resposta: falta mais oportunidade para a diversidade. Mais que isso, falta uma ocupação decisiva do topo da pirâmide, por aqueles que são a maioria no país.

Para isso é crucial que as organizações invistam em políticas internas de aceleração de carreira; atração, retenção e desenvolvimento de talentos diversos; qualificação profissional e formação de novas lideranças dentro do contexto de diversidade.

Ninguém disse que mudanças são fáceis, mas é necessário dar os primeiros passos para que elas realmente aconteçam.

Carla Araújo

Carla Araújo é Analista de Comunicação no ID_BR – Instituto Identidades do Brasil, graduada em Letras Português – Inglês (UFF) com extensão em Fundamentos de Marketing em Mídias Sociais (PUC-Rio). É uma apaixonada pela escrita criativa e de impacto, alguém que enxerga no final da zona de conforto o lugar ideal para o recomeço e para os desafios. Gosta de escrever e compartilhar conteúdos relevantes, sobre cultura corporativa, atualidades, causas sociais, meio ambiente, diversidade e pauta racial. Na vida pessoal e no trabalho, é uma pessoa destemida, resiliente e que acredita no poder da oportunidade!

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