a última terça-feira o presidente da República, Jair Bolsonaro, realizou um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, mostrando o seu posicionamento diante a pandemia do novo coronavírus (covid-19). O presidente se colocou contra a medida de quarentena tomada por Governos Estaduais para evitar a disseminação do vírus, como o fechamento temporário dos comércios, escolas e serviços não-essenciais, com isso, diversas empresas já adotaram também as suspensões de suas operações e reduziram a carga horária do expediente. Ele se justificou dizendo que o isolamento vai criar uma crise econômica e gerar desemprego em massa, o que, de acordo com ele, pode gerar conflitos sociais e abalo na democracia. De acordo com o levantamento feito pelo banco americano Goldman Sachs, a bolsa brasileira sofreu o maior impacto negativo com o coronavírus entre os mercados no mundo, registrando uma queda de 52% em dólar em relação ao mês de janeiro. Além disso, é o pior bear market para a bolsa desde a crise financeira de 2008. 

Segundo Fernando Bergallo, Diretor de Câmbio da FB Capital o mundo inteiro está lidando com um dilema muito grande: seguir a orientação médica da quarentena por tempo indefinido e não se importar com a economia, ou tentar enxergar os impactos econômicos e olhar a questão como um gestor ou administrador, por exemplo.

“Então, esse é o grande conflito do mundo inteiro e no Brasil não está sendo diferente. O Bolsonaro, é uma notícia em primeira mão, vai anunciar que em 3 ou 4 dias já foram contabilizadas mais de 7 mil demissões no varejo. Então, embora muito criticado o discurso dele, chamando de ‘gripezinha’, ele está chamando atenção para uma abordagem econômica, que é aquela história clássica que a recessão que vai vir depois, vai durar 3 ou 4 anos, e essa pandemia vai durar 2 ou 3 meses. Então, como balancear isso? É essa questão com que o mundo lida hoje”, afirma o Diretor de Câmbio da FB Capital.

Já para Guto Ferreira, Analista Político-Econômico da Solomon’s Brain, neste momento também é interessante equilibrar mais ciência e mais opiniões dos médicos e nem tanto a opinião política, que leva outros fatores, como as eleições e não necessariamente o interesse na economia real. “Não existe possibilidade de evitar crise econômica. A crise econômica já está aí, o Brasil já está em recessão. O mundo já está em recessão. 2020 é um ano perdido para a economia, pelo menos metade de 2021 é para recuperar as perdas deste ano. Então, o Presidente se equivoca, ele está usando de uma retórica basicamente política para tentar justificar o que ele não entregou de resultado econômico até esse momento”. Sobre a medida do benefício de até R$ 200,00 que o Governo quer implementar por 3 meses para cidadãos com baixa renda e desempregados, Guto argumenta que, na verdade, é uma tentativa extremamente paliativa do Governo em tentar dar algum tipo de resposta para a sociedade. “Os R$ 200,00 não vão servir para absolutamente nada. O que eles deveriam fazer agora é realmente pegar recursos do compulsório, recursos da segurança pública, recursos que estão por aí e injetar na economia para totalizar 500 bilhões de uma entrega robusta e planejada. O que está faltando no governo é que eles estão fazendo vários anúncios e não necessariamente eles estão planejados ou integrados dentro de um plano maior. É isso que está começando a preocupar o mercado. É muito anúncio e pouca execução”, finaliza.

Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus, entende que as falas do Presidente não irão abalar o mercado, pois visam o cenário externo. “O mercado está olhando para a aprovação do mega pacote do Governo Federal Americano. Só para termos uma comparação, estamos falando de gastar, no Brasil, R$ 15 bilhões em 3 meses, e lá estão falando de gastar R$ 2 trilhões neste mesmo período. Então, tem uma certa expressividade na movimentação, tanto que as festas dos mercados hoje são em cima da possível aprovação deste pacote no Senado. Portanto, o atrito que está tendo entre o Governo Federal e o Governo Estadual está em 2º plano para o mercado, eles não estão olhando para isso”. Jefferson acredita que o Presidente não está totalmente errado, mas que, para isso, é necessário ter organização e estar atento. “O mercado sabe sim que, se o Brasil não voltar para a sua atividade normal, logo os danos podem ser gigantescos e até imensuráveis”, aponta. Apesar da situação atual de desacordo entre os Governos ainda não estar impactando o mercado econômico, o Estrategista-Chefe diz que vai trazer um desacordo econômico gigantesco, uma recessão sem precedentes ao país. “Quanto a esses R$200,00, infelizmente não resolve nada. E quanto ao impacto que isso vai ter na economia é pequeno para o governo, é pequeno perto do impacto que isso vai ter em relação a toda essa questão do coronavírus. Para as famílias de muito baixa renda esses R$ 200,00 vai fazer diferença, mas para uma boa parte da população, principalmente quem tem negócios, não é isso que vai resolver. Então ainda se espera medidas mais amplas, principalmente para proteger o pequeno e o médio empresário”, conclui.

gueratto
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