Atualmente quando falamos de nossa sociedade, encontramos questões de comportamento ético, polaridades de posicionamento e fala, discursos inflamados de ativismo em diferentes assuntos, desigualdades de variadas naturezas, mas será que nos aprofundamos em algum tema e o entendemos em sua completude para gerar soluções onde há desafios reais?

Não tenho esta resposta para todo o nosso contexto, mas trago uma sugestão de olhar o propósito tão falado em momentos pessoais e profissionais como o início de nossa reflexão. Entendamos propósito como os nossos reais motivos para levantar da cama todos os dias e os reais motivos para uma empresa ser criada e abrir suas portas todos os dias.

Se nos debruçarmos sobre este encontro com o nosso eu genuíno ou nossa essência empresarial, entenderemos que ele vem cheio de sonhos e desejos a realizar. Construindo uma jornada de vida pessoal e/ou empresarial, onde existirão pedras, buracos, reveses, momento de bonança, momentos de escassez, realizações, frustrações e tomadas de decisão significativas.

Portanto para vivenciar este caminho longo, faz-se necessários definir algumas premissas:

  1. Como queremos vivenciar este caminho?
  2. Quem serão as pessoas e/ou parceiros que poderão nos ajudar nesta trajetória?
  3. Quais são as nossas responsabilidades para fazer este propósito acontecer, como indivíduo e como empresa?
  4. O que podemos, o que devemos e o que não queremos fazer sozinhos?
  5. O que, de fato, queremos alcançar no final desta jornada?
  6. Quais serão as nossas métricas para entender se permanecemos fiéis ao caminho ou se nos desviamos e precisamos corrigir a rota?
  7. O que devolveremos para sociedade durante e ao final desta jornada?
  8. Quanto estamos abertos para nos repensar e readequar comportamentos e falas ao longo da jornada para alcançar o ponto de chegada desejado?

De forma bastante simples as respostas das perguntas que orientam nosso caminho, nos trazem um desenho de governança pessoal e/ou empresarial que o tempo inteiro nos exige refletir antes de nossas decisões:  estamos vivendo no automático ou estamos trabalhando pelo que decidimos ser a nossa razão de existir?

Se nos desviamos e desejamos seguir um novo propósito, não há problema algum, porém precisamos entender que ao fazer esta mudança estamos criando outra empresa e/ou nos tornando outra pessoa, que encontrará um novo ponto de chegada e precisará fazer novos ajustes de rota.

Significar o propósito é ponto de partida

Quando entendemos que significar nosso propósito é o ponto de partida para saúde nas diversas áreas da vida, e que a manutenção de nossa saúde pessoal e/ou empresarial depende de sermos honestos, autênticos e  legítimos com este propósito, comunicando-o claramente a todos que nos cercam, e explicando como queremos alcança-lo.

Assim, identificamos os parceiros corretos para nos ajudar nesta jornada, engajamos as pessoas que também orientam suas escolhas em torno de um propósito semelhante, e acima de tudo, criamos uma comunidade de suporte para enfrentar os desafios do caminho, celebrando as pequenas conquistas e aprendendo com os reveses.

Estas definições primárias de fazer o que, com quem, para que e por que, realizadas de forma ética, transparente e legitima, gera entusiasmo, confiança e liberdade de decisão, manifestando-se através de formatos distintos de como fazer as coisas, como lidar com o cotidiano, como aprender com o grupo onde estamos, como tomar melhor decisões e principalmente, como viver sãos de mente, coração e espírito, algo que nossa sociedade parece estar enfrentando dificuldades para entender.

Ao escolher olhar profundamente para dentro de si, indivíduo ou empresa, e avaliar se suas ações estão refletindo seu propósito, se seus direcionamentos estão contribuindo para que todos ao redor entendam o propósito, se enxerguem nele e optem diariamente por contribuir para sua realização. Naturalmente encontrar-se-á pontos de melhoria, que poderão ser livremente discutidos, porque não haverá preocupação com culpados, mas com aprendizado e reajuste de caminho. Haja vista, todos terem escolhido remar na direção do mesmo ponto de chegada, e se houver alguma intempérie, não será proposital e permitirá correção e aprendizado.

O verdadeiro espaço de aprendizagem exige, segurança para errar, respeito para dialogar, harmonia para readequar processos e formas, contexto para testar e, possibilidade de recomeçar, dando passos para frente, as vezes de lado, mas correndo rumo a chegada. A partir do momento que o aprendizado foi assimilado e um novo desafio pode ser estabelecido para alcançar o ponto de chegada tão almejado.

Governança não é burocracia

Assim, ao contrário do que muitas pessoas pensam e falam, a governança não é algo burocrático que engessa a vida ou a empresa. Ela é o reflexo mágico de quando entendemos que viver é um ato de se desafiar, se conhecer e se reconhecer diariamente, conectando pessoas, processos e ações a busca do propósito que nos move diariamente a dormir e acordar.

Portanto, para governança ser exercida em sua plenitude, o autoconhecimento e o questionamento constantes são parte integrante do viver e precisam ter espaço, tempo e responsabilidade individual e coletiva para serem praticados e aplicados, afim de assegurar que qualquer movimento esteja sempre alinhado com o propósito escolhido, e caso haja desejo de mudança, isto seja feito através de comunicação ampla e irrestrita, permitindo que toda teia de suporte montada para o propósito atual, novamente possa escolher se deseja permanecer junto ou se prefere seguir em outro caminho.

Respeitando escolhas, comunicando claramente e estudando os riscos do caminho, a fim de prevenir reveses, dificilmente discutiremos em fóruns empresariais ou pessoais o crescimento de doenças emocionais e/ou as quebras crescentes de negócios empresariais. A tendência será falarmos de aprendizados individuais e coletivos e a longevidade de pessoas e negócios por sua melhora de saúde mental, espiritual, física e social, oriunda de práticas de governança que sustentam o respeito mútuo e a segurança psicológica para o diálogo franco e aberto. Orientemos nossas vidas por Propósito!

Por Renata Vilenky – Formada em Tecnologia e Economia com especialização em IA e Robótica. Conselheira em Estratégia , Inovação e Transformação Digital, Membro da Academia Európéia da Alta Gestão com livros publicados nos temas de Inovação, Estratégia, Conselhos e Liderança; Consultora em Projetos de Inovação Aberta e Transformação Digital, Mentora de Startups e Executivos, Coordenadora do Comite de Empreendedorismo e Tecnologia do Insper, Professora de Estratégia e Inovação da FGV e Mentora em vários projetos de impacto em educação e saúde.

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