Um cenário econômico desafiador se desenha para o Brasil em 2025. Nesse contexto, as previsões da maioria das gestoras de private equity indicam que o ano será marcado por grandes dificuldades para o segmento.

A combinação entre taxas de juros elevadas – a projeção é de que a Selic encerre o ano em 15% –, inflação acima da meta, dólar nas alturas e um quadro fiscal desequilibrado cria um ambiente, no mínimo, turbulento. O número de fundos captados com liquidez, portanto, permanece limitado, sem mencionar que as perspectivas de novas captações no país seguem desanimadoras. Por outro lado, o real desvalorizado em relação ao dólar atrai a atenção de investidores estrangeiros com apetite a risco. Para eles, o Brasil se torna um mercado “barato” e que oferece oportunidades estratégicas.

Ao mesmo tempo, a preocupação com o balanço das companhias brasileiras permanece. Empresas altamente alavancadas enfrentam riscos crescentes devido ao aumento do custo da dívida, colocando a sustentabilidade do negócio em jogo e ficando mais expostas. Como consequência, a geração de Return on Invested Capital (ROIC, ou Retorno sobre Capital Investido) se torna um desafio ainda maior, especialmente no curto prazo, afetando diretamente a atratividade dos ativos no país.

Em conversas com gestores de diferentes casas, a percepção de dificuldade é clara, no sentido de que a régua de investimento sobe de forma significativa. É uma tarefa árdua, por exemplo, nesse cenário, disputar a atenção dos investidores com títulos isentos de Imposto de Renda (IR). Isso ocorre porque, para justificar o investimento em private equity, os retornos precisam superar – e muito! – aqueles oferecidos por títulos públicos, que apresentam baixo risco.

Adicionalmente, há agravantes: as inseguranças política, econômica e jurídica continuam presentes, adicionando mais incertezas ao mercado. Discussões tributárias, carregadas de imprevisibilidade, têm potencial para afetar diversos setores. Ainda, a volatilidade das regras no Brasil apenas aumenta os riscos percebidos pelos investidores. Vivemos uma intensa crise de desconfiança fiscal.

O reflexo desse ambiente desafiador é evidente. Vale mencionar, inclusive, que o número de gestoras de private equity no país caiu drasticamente ao longo dos anos. Levantamentos apontam que em 2012 havia 54 gestoras ativas no Brasil. Uma década depois, o número despencou para 29, chegando ao menor nível dos últimos 20 anos.

No âmbito macroeconômico, os desafios são ainda mais acentuados pela postura considerada errática do governo em relação à política econômica, o que mina a previsibilidade necessária para o segmento. No cenário internacional, a conjuntura global também não contribui para aliviar a pressão sobre o setor, atuando como um catalisador dos desafios já presentes no mercado doméstico.

Apesar das adversidades e enxergando o copo meio cheio, há quem veja uma oportunidade em meio às dificuldades. Setores voltados para temas climáticos, como reciclagem e economia circular, créditos de carbono, preservação florestal e produtos biológicos, ganham destaque. Esses fundos, que aliam investimentos a impactos socioambientais positivos, podem atrair capital novo, posicionando-se como uma alternativa promissora em tempos tão incertos.

Por Ricardo Welikson, partner da EXEC, consultoria de seleção e desenvolvimento de liderança para cargos de alta gestão e conselhos.

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