Estradas interrompidas e feiras canceladas são alguns dos efeitos das fortes chuvas e enchentes das últimas semanas que prejudicaram muito a distribuição das agroindústrias gaúchas. Diante das dificuldades, os produtores tiveram que buscar alternativas para a comercialização dos produtos fora do Rio Grande do Sul.A iniciativa foi viabilizada pela portaria SDA/Mapa nº 1.114/2024, que autorizou a comercialização de produtos de origem animal destes estabelecimentos em outros estados brasileiros, mesmo que possuam registro de inspeção apenas estadual ou municipal. A primeira carga partiu na semana passada, levando três toneladas de queijo e doce de leite para Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O carregamento do caminhão ocorreu no Posto Radar, às margens da ERS-118, no Distrito Industrial de Gravataí.A produtora Stefani Hartmann da Silva levou seu estoque de doce de leite para ser transportado e afirmou que o sentimento é de gratidão com “o grande abraço de todo o Brasil”. Sua agroindústria possui apenas o selo para vender dentro do município de Cristal, na Zona Sul do Estado, que ficou isolado. Por isso, acredita que mesmo com a permissão estadual excepcional, seu produto ficaria parado. “A minha agroindústria depende praticamente só de feiras, as quais foram canceladas ou adiadas”, comentou.A engenheira de alimentos e extensionista da Emater/RS-Ascar, Bruna Bresolin, acompanhou o carregamento e definiu o fato como histórico: “É um momento de vitória, de reconhecimento, de oportunidade que esses produtores nunca tiveram antes”, disse. Ela espera que logo seja viabilizada também a venda de mel e embutidos para outros estados da Federação.Bruna acredita que os produtores podem aproveitar este momento ímpar para conquistar novos clientes fora do RS e procurar, depois de expirada a validade de 90 dias desta portaria, um sistema de equivalência para vender livremente seus produtos de origem animal, abrindo novos mercados. Mais de 1,7 mil estabelecimentos da agroindústria familiar estão sofrendo com dificuldades na comercialização, uma vez que a logística está muito prejudicada em todo o Estado. A engenheira de alimentos acompanha de perto os produtores e relata casos de inundação, em que famílias perderam a casa, a agroindústria, o estoque, a matéria prima: “tiveram a propriedade arrasada”, lamenta.A viabilização desta primeira carga foi possível por meio da mobilização de entidades do setor de laticínios, contando com o apoio de uma empresa de logística que cedeu o caminhão sem cobrar o frete. Os produtos enviados passaram pela inspeção da Superintendência Federal de Agricultura e Pecuária do RS (SFA-RS), que emitiu a autorização de trânsito para as agroindústrias, com as devidas exigências de saúde animal aplicáveis.