Em 2002, no Hall do Prêmio Nobel na Suécia, eu fui premiada por excelência no estudo de gênero com a dissertação: “Gênero, Saúde e Trabalho: agentes no desenvolvimento de LER/DORT em mulheres telefônicas.” O local era o Hall do Prêmio Nobel, na Prefeitura de Stockholm.

Após 21 anos,  depois de realizar minha pesquisa, que demonstrou que as mulheres têm 3 vezes mais carga de trabalho cognitiva que os homens exercendo a mesma atividade prescrita, a pesquisadora Cláudia Goldin ganhou o Prêmio Nobel de Economia pelo entendimento das relações de gênero e sua relação com o trabalho.

Nos tabloides menciona-se: “Mulher ganhou o Prêmio Nobel de Economia”.

Apenas três vezes, na história do prêmio Nobel, as mulheres realizaram esse feito! Mas pouco se falou sobre o avanço científico que elas criaram! Por quê?

Conhecemos a resposta: invisibilidade!

Naquela época, a conquista do Prêmio Nobel era um sonho intangível para mim e muitas de nós, mulheres pesquisadoras que lutavam por melhores condições de trabalho e pelo avanço científico!

Sabemos que o equidade de gênero vem ocorrendo lentamente, mas os esforços têm sido válidos. Desde de 2002, conquistamos equiparidade salarial e de jornada prescrita. Criamos leis que reconhecem os Transtornos Mentais associados ao trabalho, proibimos o assédio moral no trabalho e criminalizamos o estupro.

Nós mulheres angariamos um número incontável de trabalhos que antes eram nichos masculinos. Também assumimos posições de destaque como CEO de grandes empresas.

Nós chegamos à liderança de bancos e empreendemos criando Fintechs e Startups. Nos estabelecemos como membros proeminentes da bolsa de valores, investidoras Angel ou planejadoras financeiras.

Nós crescemos como empreendedoras e criamos empresas focadas nas necessidades femininas. Passamos a atuar como mentoras de carreira e consultoras para empresas.

Ainda há muito a fazer em prol da equidade de gênero e sei, não estarei aqui para ver esse Mundo Novo! Ainda assim, sei que parte do meu esforço de vida  ajudou a construí-lo, seja por meus esforços em prol da ciência, seja como a primeira mulher brasileira a fundar um banco digital com foco nas necessidades de mulheres, ou criando filhos e filha que irão dar continuidade ao trabalho que promove a equidade de gênero!

Conforme o Relatório do Pacto Global Mundial, ainda serão necessários mais de 200 anos para atingirmos equidade de gênero mesmo que esse seja um dos objetivos das ODS da ONU.

Reconheço que muitas conquistas foram alcançadas desde 2002. Principalmente,  melhoramos as condições de trabalho das mulheres e incentivamos uma geração inteira a pensar nos direitos das mulheres!

Por isso, é com enorme orgulho que recebo a notícia da conquista do Prêmio, por uma mulher,  Claudia Goldin! Quando uma mulher ganha o Prêmio Nobel de Economia, todas nós somos premiadas junto com ela!

Por Vanise Zimmer, Psicóloga e Empresária Social. É Mestre em Psicologia Social e Doutora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP (2008). É Especialista em Estudos de Gênero e Tecnologia pela Universidade Leibniz de Hannover na Alemanha. Atuou por anos como pesquisadora tendo a oportunidade de desenvolver o tema Cognição e Tomada de Decisão, em Finanças, gestão de portfólio, risco financeiro, relações de gênero, trabalho e tecnologia, interface e usabilidade de sistemas.

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