É cada vez mais comum encontrar vagas onde a fluência no idioma é exigência no mercado, e por exemplo, saber espanhol e outros idiomas, é considerado um diferencial. Em 2021, uma pesquisa da Catho constatou que mais da metade das vagas hoje no mercado brasileiro exigem domínio de inglês, e quem tiver proficiência no idioma pode aumentar o salário em até 60%. O que hoje é visto como um diferencial, daqui a alguns anos será considerado um requisito básico na conquista de um emprego.
A questão é que o acesso ao inglês não é democrático, pois muitos candidatos não têm poder aquisitivo para custear um bom curso. E quando dizemos “muitos”, nos referimos às pessoas negras e periféricas. Surge então o questionamento: até que ponto a inserção de profissionais negros no mercado de trabalho é afetada, quando grande parte das vagas mais concorridas, exigem fluência no idioma? Na corrida pela busca por melhores oportunidades, sai na frente quem tem sólida experiência profissional e acesso à educação de qualidade. E é exatamente aí que surgem as maiores barreiras para as pessoas negras e periféricas.
A definição de educação de qualidade inclui não somente frequentar boas universidades, mas também ter na bagagem um leque de cursos, que costumam ocupar o ranking dos requisitos listados nas vagas, como habilidades com ferramentas tecnológicas, qualificação em áreas específicas e fluência em idiomas.
O segredo do sucesso está na inclusão
Saber inglês pode agregar valor ao profissional mas também excluir potenciais talentos. Vivemos em um país onde as desigualdades sociais e raciais são os principais obstáculos, para inserir profissionais negras e negros no mercado de trabalho de forma mais efetiva. Se não houver equidade no acesso à formação, seja ela acadêmica ou profissional, torna-se impossível que a maioria destes profissionais tenham acesso às melhores oportunidades.
Na contramão deste enorme gap –algo que ainda precisa ser preenchido ou desenvolvido – de desigualdades no Brasil, que afetam diretamente a projeção de carreira e a falta de equiparação salarial dos profissionais negros, existem iniciativas criadas visando democratizar o conhecimento e estudo da língua inglesa.
O Programa Sim à Igualdade Racial de Bolsas de Estudo é uma iniciativa do Pilar educação do ID_BR cujo papel é oferecer bolsas de estudo através de parcerias com cursos de inglês, garantindo a profissionais e estudantes negros, negras e indígenas, igualdade de acesso à educação de qualidade.
A Escola A Ponte Para Pretxs que é uma escola de capacitação educacional e atualização profissional para pessoas negras, também oferece cursos gratuitos de línguas – inglês, francês e espanhol – através de parcerias e da participação voluntária de professores.
Democratizar é a solução!
São inúmeras as expressões em inglês que transitam no meio corporativo e principalmente nos negócios. Seja nas reuniões, palestras e treinamentos, o fato de não conhecer tais expressões traz uma certa insegurança além de afastar a possibilidade de desenvolvimento de carreira, conquistar novas oportunidades e até mesmo se conectar com pessoas e empresas do mundo todo.
Entretanto, é importante lembrar que os idiomas são, na verdade, ferramentas de comunicação que estreitam as relações humanas, comerciais, facilitam a mediação de conflitos e permitem a construção de algo imprescindível no ambiente de trabalho e na vida: a confiança. Por isso, o mais importante em saber falar outras línguas, não é a fluência tão exigida nas entrevistas, mas o conhecer e saber trabalhar com o idioma a seu favor!
Da mesma forma que a educação é direito de todos, o mesmo se aplica ao inglês ou qualquer outra língua, para jamais ser um fator excludente ou que feche portas, mas que possa ser ensinado a todos, sem qualquer distinção de raça, classe social, orientação sexual ou deficiência.
Democratizar é isso, conduzir e colocar algo ao alcance da maioria!
Carla Araújo
Carla Araújo é Analista de Comunicação no ID_BR – Instituto Identidades do Brasil, graduada em Letras Português – Inglês (UFF) com extensão em Fundamentos de Marketing em Mídias Sociais (PUC-Rio). É uma apaixonada pela escrita criativa e de impacto, alguém que enxerga no final da zona de conforto o lugar ideal para o recomeço e para os desafios. Gosta de escrever e compartilhar conteúdos relevantes, sobre cultura corporativa, atualidades, causas sociais, meio ambiente, diversidade e pauta racial. Na vida pessoal e no trabalho, é uma pessoa destemida, resiliente e que acredita no poder da oportunidade!