Aplicações que eram apontadas como os patinhos feios do mercado financeiro na época dos juros gordos agora deixam boa parte da renda fixa na rabeira. Quem manteve dinheiro na poupança antiga, que mantém regras de remuneração de 0,5% ao mês e TR, têm embolsado um lucro três vezes maior do que se aplicasse em títulos atrelados à Taxa Selic – atualmente em 2% ao ano. E, melhor do que isso, tem rendimento livre de imposto de renda.

Vale lembrar as regras da caderneta de poupança, que foram alteradas pelo Banco Central em 2012 durante os cortes de juros no governo Dilma Rousseff. Naquela época, a Selic estava em 8,5% ao ano, mas um novo corte acionou o gatilho para regras renovadas – de remuneração de 70% da Selic, mais TR. O objetivo era justamente evitar que a massa de poupadores mantivesse o dinheiro na poupança e deixasse de aplicar em outras alternativas da renda fixa, como CDBs, LCIs, LCAs, Fundos conservadores e Tesouro Selic, que gradativamente se tornariam menos atrativas.

“Os depósitos anteriores a 4 de maio de 2012 respeitam a regra antiga. Assim, quando a taxa de juros se mantiver abaixo de 8,5%, a tendência é que os antigos poupadores se tornem mais ricos se comparados com os novos”, explica Tiago Reis, analista de investimentos da Suno Research. Esta mudança deixou os investidores da velha poupança com um ganho invejável de 6,17% ao ano, rendendo cerca de quatro vezes mais do que a atual, que hoje fica em torno de 1,6% ao ano.

Ele explica que hoje quem pega o dinheiro da poupança, o saque priorizado é o do dinheiro rentabilizado pela regra nova. Logo, o cliente só poderá sacar o dinheiro antigo após sua nova poupança esgotar, o que mantém o bolo no rendimento melhor. “Houve anos que a Selic estava em 14% ao ano e a poupança rendia apenas seus 0,5% ao mês. Agora as coisas mudaram. Quem ainda tem alguma poupança antiga é melhor manter porque ganhará mais do que a média da renda fixa”, sugere o consultor financeiro André Bona, do Blog de Valor.

“Mas é preciso ter cuidado para não se confundir: quaisquer valores depositados em poupança hoje, mesmo para quem tem a aplicação antiga, irão cumprir as regras novas”, indica Bona.

Outra reserva que cansou de ser esmurrada por analistas financeiros e agora ostenta relativa atratividade é o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Com rendimento fixo em 3% ao ano, somado à distribuição de lucros de ano anterior, o fundo alcançou neste ano rentabilidade de 4,9%. O valor foi automaticamente reajustado nas contas dos trabalhadores no dia 31 de agosto.

O rendimento nem sempre foi tão pomposo. Apenas em 2017 o FGTS passou a distribuir os lucros, com limite de 50% sobre o total. Em 2019, a distribuição foi de 100% do valor. Em 2020, no entanto, o cálculo foi alterado novamente, e foram distribuídos 66,2% dos ganhos. Isso equivaleu a R$ 7,5 bilhões.

Este patamar de rendimento, explicam analistas financeiros, não deve encorajar quem tem dinheiro no FGTS a sacar para investir, quando tem oportunidades como o saque emergencial, por exemplo. Por outro lado, o uso do dinheiro para abater prestações imobiliárias pode ser mais interessante, já que o juro para financiamento geralmente é mais alto.

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